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Cosméticos e o doping: conheça as atletas que foram vítimas da vaidade

Esportistas precisam prestar atenção até nas substâncias que aplicam na pele. Advogado especialista em doping critica rigidez do exame

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3 Ilustração – sobre cosméticos e doping, no clima das Olimpíadas copiar
1 de 1 3 Ilustração – sobre cosméticos e doping, no clima das Olimpíadas copiar - Foto: Yanka Romao/Metrópoles

Um teste antidoping positivo é o que basta para um esportista ser taxado de desonesto e perder, além de contratos e patrocínios, o apoio do público. Para quem assiste de fora, a matemática parece simples: o resultado demonstra que o atleta usou uma substância proibida para aprimorar seu condicionamento físico e trapacear em competições. Essa equação, no entanto, tem diversas variáveis e, na maioria das vezes, não indica malícia.

“Dos 300 mil exames antidoping realizados por ano no mundo, cerca de 1,2% dá positivo e apenas 0,4% representa uso intencional da substância. Ou seja: os casos de jogadores que realmente utilizam um componente proibido pela Agência Mundial Antidoping [WADA, na sigla em inglês] com o objetivo de trapacear são ínfimos”, declara Marcelo Franklin, advogado especialista em Direito Desportivo, e nome à frente do maior número de casos de doping do Brasil.

“A maioria dos atletas usa substâncias proibidas de maneira inadvertida por meio de remédios, suplementos e até cosméticos aparentemente inofensivos”, revela o profissional.

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No entanto, poucos sabem que a maioria dos esportistas que reprovam nesse teste fez uso da substância proibida de maneira inadvertida, ou seja, sem a intenção de trapacear
"O público e a mídia costumam apontar dedos assim que um jogador testa positivo para o doping", diz Marcelo Franklin
"O que pouca gente sabe é que o exame detecta nanogramas das substância proibidas, encontradas não somente em produtos para melhorar o condicionamento fisico como também em medicamentos corriqueiros e tratamentos de beleza", elucida
Franklin foi peça-chave na defesa do nadador e medalhista olímpico Cesar Cielo, absolvido em 2011 pela Corte Arbitral do Esporte após fazer o uso de furosemida, um medicamento diurético proibido pela WADA
No Brasil, o doping em si não é considerado crime, mas o tráfico e a tentativa de dopagem são passíveis de prisão
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O exame antidoping é essencial para garantir o direito dos atletas a uma competição justa e limpa

Peter Dazeley/Getty Images
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No entanto, poucos sabem que a maioria dos esportistas que reprovam nesse teste fez uso da substância proibida de maneira inadvertida, ou seja, sem a intenção de trapacear

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"O público e a mídia costumam apontar dedos assim que um jogador testa positivo para o doping", diz Marcelo Franklin

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"O que pouca gente sabe é que o exame detecta nanogramas das substância proibidas, encontradas não somente em produtos para melhorar o condicionamento fisico como também em medicamentos corriqueiros e tratamentos de beleza", elucida

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Franklin foi peça-chave na defesa do nadador e medalhista olímpico Cesar Cielo, absolvido em 2011 pela Corte Arbitral do Esporte após fazer o uso de furosemida, um medicamento diurético proibido pela WADA

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No Brasil, o doping em si não é considerado crime, mas o tráfico e a tentativa de dopagem são passíveis de prisão

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Por serem eliminadas mais lentamente pelo corpo, algumas substâncias são mais fáceis de detectar. É o caso da ostarina, encontrada recente no teste antidoping da jogadora de vôlei brasileira Tandara, afastada das Olimpíadas de Tóquio 2020

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O ortopedista João Hollanda, médico da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, faz coro à fala do advogado e ressalta quais cuidados os esportistas precisam ter para evitar um teste positivo.

“Os exames antidoping são feitos por sorteio ou quando há alguma suspeita em relação a determinado atleta. Por isso, os jogadores precisam prestar atenção em tudo que ingerem e passam no corpo para estarem com o organismo limpo e a postos para o teste, realizado por meio da coleta de sangue ou urina”, elucida.

De acordo com o profissional, o esportista é 100% responsável pelas substâncias encontradas em seu organismo. “Uma prescrição médica equivocada, por exemplo, não salva o atleta da punição. Ele deve estar ciente de tudo que entra em seu corpo e se responsabilizar por isso”, detalha, revelando que remédios simples, como a Neosaldina, contêm componentes proibidos pela WADA. Confira a lista completa das substâncias vetadas aqui.

Beleza e o doping

No país, o caso mais emblemático de uma atleta reprovada no exame antidoping por causa de sua vaidade é o de Maurren Maggi, afastada do Troféu Brasil de Atletismo de 2003 após usar um creme depilatório. O produto continha a substância clostebol, um hormônio sintético da classe dos esteróides anabolizantes. Como pena, ela foi afastada por dois anos do esporte.

De acordo com arquivos do processo, a dermatologista de Maurren à época, Ligia Kogos, admitiu expressamente ter aplicado o creme em seu consultório sem o consentimento da atleta. Mas, como dito anteriormente, a WADA determina que o esportista é 100% responsável pelas substâncias encontradas em seu organismo.

Felizmente, a paulista deu a volta por cima e, em 2008, sagrou-se a primeira mulher brasileira campeã olímpica do atletismo.

Campeã olímpica Maurren Maggi

Em 2007, o doping da ponta Jaqueline também chamou atenção e ligou o sinal de alerta na comissão técnica de vôlei. Cortada dos Jogos Pan-Americanos, a jogadora afirma ter sido vítima de um chá-verde para combater celulite.

“Perguntei na farmácia, me disseram que era um produto natural e achei interessante. Era um remédio contra celulite, uma coisa que mulher sempre busca, por vaidade”, contou Jaqueline ao Estadão no ano do ocorrido. Ao que tudo indica, a solução continha sibutramina, substância encontrada em moderadores de apetite.

O afastamento da ponta teve impacto nas outras jogadores do time. “Tomamos diurético, comprimido para queimar gordura, tudo que pode ajudar. Mas sempre temos o cuidado de perguntar ao médico. Mas o caso da Jaqueline mostra que temos de ter atenção triplicada”, disse a ponta Érika ao jornal Folha De S. Paulo.

Érika ainda lembrou do dia em que teve de descartar cerca de R$ 400 em cremes e comprimidos após uma pequena suspeita do médico da seleção.

A ginasta Daiane do Santos também culpou a vaidade ao testar positivo para o diurético furosemida em 2009. Segundo ela, a substância foi usada durante um tratamento estético e, portanto, ela não alcançou nenhum benefício esportivo com isso.

À época, Daiane não viu paralelo com o caso de Maurren Maggi. “São casos diferentes. Ela estava apta a competir [quando foi feito o exame] e eu não estava”, declarou a ginasta à imprensa.

Daiane dos Santos

Interessante notar que, apesar dos corpos sarados e dos títulos de musa, as atletas também estão sempre em busca de produtos e procedimentos para realçar a beleza. Alguns deles, no entanto, acabam custando caro demais.

O Metrópoles entrou em contato com as esportistas. Jaque preferiu não dar entrevista sobre o assunto, enquanto Maurren e Daiane não responderam até o fechamento desta reportagem.

Rigidez do exame

Constantemente aprimorado, o exame antidoping é capaz de detectar nanogramas (ou milionésimos de miligramas) de uma substância proibida no corpo de um atleta. As punições para quem é pego no teste são imediatas.

“O esportista é imediatamente afastado dos treinos e deve arcar com os custos de sua defesa. Mesmo em casos de uso inadvertido, os times, os patrocinadores e o governo não ajudam a custear essa despesa. Pelo contrário. Rompem contratos, muitas vezes impossibilitando o atleta de alimentar sua família até comprovar a inocência ou cumprir a pena”, explica o advogado Marcelo Franklin.

A punição mínima para quem testa positivo para o doping é de três meses de suspensão. Em casos do uso de anabolizantes, a pena sobe para quatro anos. Válido ressaltar que, para atletas de alto rendimento, dias longe do treino já podem ser irreparáveis.

O especialista ainda detalha o processo de defesa e critica as penas impostas aos acusados de doping. “O resultado do teste é liberado de um a dois meses após a coleta da urina ou do sangue. Quando o uso é involuntário, o primeiro passo da defesa é entender o que aconteceu e comprovar como a substância ingressou no organismo do atleta. Algo complexo, haja vista a distância do ocorrido. Você se lembra, por exemplo, o que comeu ou passou na pele na semana passada? Imagina a um mês atrás”, diz.

“O processo é caro e minucioso. As penas, duras. Antes mesmo do julgamento, os atletas perdem os patrocínios e não têm direito à defesa. Até assassinos contam com auxílio, e esportistas respondendo pelo processo de doping não. Sobretudo em um país como o Brasil, os jogadores não têm condições de ter uma defesa adequada, com advocacia especializada e exames médicos necessários para comprovar a inocência. Muitos veem o trabalho de uma vida ir por água abaixo por um deslize. Não deveria ser assim”, lamenta.

Por fim, Franklin menciona um novo documentário alemão que questiona a sensibilidade do exame e traz casos impactantes, como o de Simon Getzmann, atleta de handebol que testou positivo após tomar um analgésico. Devido a um erro de produção, a pílula continha vestígios de hidroclorotiazida, um agente desidratante proibido no esporte. Até comprovar sua inocência, Getzmann enfrentou problemas psicológicos e teve a carreira arruinada.

O documentário também traz uma nova pesquisa sobre como as substâncias proibidas podem ser absorvidas pela pele através de um simples aperto de mãos ou abraço.

“Antes de passar qualquer pomada, preciso de autorização do COB”

A nadadora carioca Nathália Almeida, de 24 anos, representou o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio. Ela e as demais competidoras ficaram em décimo lugar no revezamento 4x200m feminino.

Ao Metrópoles, a atleta revelou como é sua rotina de cuidados em relação aos exames antidoping. “Não sei dizer ao certo quanto testes antidoping já fiz na vida, mas este ano bati recorde. Nos últimos meses, a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) realizou vários exames, praticamente um por semana”, declara.

“Os cuidados são básicos. Tudo que vou ingerir ou passar no meu corpo, até uma simples pomada, eu peço autorização para um médico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). No ano passado, tive Covid-19 e tomei medicamentos com corticoide, que é doping. Precisei de autorização para isso. Tenho todos os documentos guardados em casa até hoje, para me resguardar”, informa, frisando que o dia a dia de atleta engloba bem mais do que horas a fio de treinamento. “É muita dedicação”, finaliza.

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