Conheça Ana Siqueira, maquiadora brasiliense que está conquistando NY
A expert aposta nas peles bem-feitas, com aspecto fresco e saudável, e nos cosméticos multiuso como uma tendência para a maquiagem mundial
atualizado
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A internet está cheia de tutoriais de maquiagem para todos os gostos, tornando cada vez mais fácil aprender a se maquiar sozinha e a transformar o hobby em uma profissão. Em meio a esse turbilhão, a brasiliense Ana Siqueira, 32 anos, está ganhando o mundo direto de Nova York, com suas makes conceituais. Os trabalhos dela já estrelaram editoriais de publicações da Vogue Itália, Harper’s Bazaar e L’Officiel Argentina.
Entre vários projetos na agitada Big Apple, o Metrópoles entrevistou Ana, e na ocasião ela revelou por que deixou tudo no Brasil – incluindo uma promissora carreira na psicologia – para investir no universo artístico, os perrengues e os acertos de sua jornada.
A atração de Ana pelas artes começou ainda na infância, em Brasília. Muito do que aprendeu sobre maquiagem mais tarde foi vendo tutoriais na internet, entre 2006 e 2007. “Vivi uma fase autodidata, assistindo a vídeos de maquiagem e beleza”, recorda.
Na mesma época, seu irmão, o RP Guilherme Siqueira, abriu uma franquia da MAC na capital. A aproximação com a marca fez o interesse de Ana pelas maquiagens aumentar rapidamente.
E sete anos separam a saída de Ana do Brasil até ela se estabelecer como maquiadora em um mercado extremamente competitivo: os Estados Unidos. Lá, aprendeu que a profissão requer flexibilidade, disposição e persistência. “Foi muito, muito mais difícil do que eu imaginava”, contou.
“Do Brasil, nós não temos a dimensão da quantidade de gente do mundo inteiro que é incrível no que faz e escolhe a América para fazer a vida. Para se ter uma ideia, os top maquiadores não são americanos, são pessoas do Japão, Suécia, Inglaterra. A sensação inicial foi de nadar contra a maré”, revela com franqueza.
Além de feroz, Ana assume que o setor é mal remunerado. “Trabalhar com celebridades e moda é uma forma de promoção do trabalho, mas o que paga as contas são os clientes de publicidade, os comerciais. Alguns deles são clientes de beleza e até de produtos do dia a dia.”
Com experiência em ambos os mercados, a maquiadora enxerga que o setor brasileiro ainda precisa de organização. “A estrutura de trabalho – estúdios de maquiagem, divisão das funções – é semelhante em São Paulo e Nova York. O que mais pesa é o respeito à profissão. Nós somos muito respeitados nos Estados Unidos. É difícil ter esse reconhecimento no Brasil”, avalia.
O início
Antes de investir no universo dos pincéis, batons e blushes, ela se formou em psicologia pela Universidade de Brasília (UnB) e se especializou em neuropsicologia, mas a profissão se mostrou solitária e enfadonha para a brasiliense.
“Era uma área de muito interesse para mim, eu realmente adorava. Mas era o aspecto do dia a dia do profissional de psicologia que não me agradava. Por mais que você esteja conversando com pessoas o dia inteiro em um consultório, é uma relação de psicólogo com paciente”, avaliou.
Ana, que desde a adolescência sonhava em morar fora do país, enxergou em Nova York uma nova esperança para a profissão – mas, para isso, precisaria investir em um doutorado. Em busca de uma fonte de renda enquanto estivesse no exterior, apostou na maquiagem. “Só que, no meio do caminho, comecei a gostar mais de maquiagem e fui deixando o projeto acadêmico.”
O início da carreira como maquiadora foi cercado por inseguranças comuns a quem aposta todas as fichas em um novo ofício noutro país. “Eu sentia medo de ingressar no mercado americano e não ter um certificado”, lembra. Ana chegou a fazer um curso para se especializar em maquiagem, em uma instituição brasileira, para ter um certificado, mas garante que a internet foi a escola mais produtiva.
Com o dinheiro economizado e um fundo de incentivo a estudantes, Ana investiu em um curso na MUD Make-Up Designory de Nova York, escola voltada para maquiagem. “Foi importante, mas custou os olhos da cara. Aprendi muito sobre efeitos especiais, cabelo, business, como abordar clientes e teoria. Mas, hoje, vejo e avalio que foi o recurso de alguém que caiu de paraquedas, sem networking ou assistência.”
Para ser maquiadora nos Estados Unidos basta ter o material, um cartão visitas e um site com seu portfólio
Ana Siqueira
Estilo de vida em Nova York
Diferentemente do irmão, que se divide entre um estilo de vida caseiro e glamourososo na Itália – fruto de seu trabalho como RP –, Ana opta por seguir um lifestyle mais comum. Entre um trabalho e outro, a maquiadora não se intimida em pegar ônibus ou metrô.
“Sou muito diferente do meu irmão, que não se importa em pagar para ter conforto. Eu amo viajar, mas prefiro ter uma vida simples, sem luxo. Se o ônibus passa do lado da minha casa, eu não tenho por que gastar dinheiro desnecessariamente”, revela.
E para quem sonha em apostar na carreira como ela? “Eu não quero pintar uma imagem negativa do que é ser maquiador, mas é preciso ser realista. A gente nunca sabe quanto dinheiro vai ganhar, nem quando”, desabafa. “Tive que bater em muitas portas de gente que eu não conhecia, mandar 200 e-mails para agências, clientes e produtores – e ser ignorada. É importante ter persistência e criatividade”, sugere.
Sobre tendências
Sua principal paixão é deixar a pele com aquele ar saudável. Mas ela não se limita às “makes de bonita” e atua em todas as áreas da maquiagem: corretiva; pintura corporal; efeitos especiais; moda e cabelo. “Hoje integro o quadro de uma agência que me permite pegar todos os tipos de trabalhos.” Entre suas inspirações mais fortes estão as estéticas do minimalismo e da geometria.
De acordo com Ana, a beleza natural, com pele leve, ressaltando o individual das pessoas, é uma tendência mundial. “Muito se deve à geração Y, os millennials. A maquiagem translúcida tem um quê de feminista, no aspecto de empoderar as mulheres, de torná-las mais bonitas, com um estilo jovial e saudável. É nisso que as celebridades apostam nos Estados Unidos”, diz.
Em contrapartida, as maquiagens carregadas, que cobrem completamente a pele e têm aspecto opaco, são consideradas pesadas e pouco naturais em Nova York. “Outro ponto considerado ultrapassado no mercado norte-americano são os olhos marcados, com cores escuras e cílios postiços. Isso não é considerado elegante”, compara.
Habitathos
Projeto com a cara de Brasília e idealizado por Ana Siqueira, o Habitathos é uma de suas ligações mais fortes com a cidade. Na iniciativa, ela usa técnicas de mimetismo (pintar e esconder a pessoa com as cores e formas geométricas iguais às do fundo da fotografia) para criar ilusões de ótica.
Produzido ao longo de cinco anos, em 19 painéis, o projeto contou com a participação de personalidades da capital, como o poeta Nicolas Behr, os músicos do grupo Móveis Coloniais de Acaju e o fotógrafo Kazuo Okubo, além do patrocínio da MAC Cosméticos e apoio da Fundação Athos Bulcão. “A minha noção de design vem muito do movimento brutalista na década de 1960, tão presente em Brasília”, finaliza.
Confira o trabalho da artista e identifique os painéis espalhados pela cidade: