Beleza pelos olhos de quem não vê: maquiagem para deficientes visuais
Cursos podem levantar a autoestima e a segurança. Marcas já começaram a pensar na inclusão
atualizado
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Denise Braga, 38 anos, mora sozinha. Ela não gosta de batom vermelho, usa máscara de cílios preta e pergunta para quem encontra pela frente se não está borrada. Denise podia ser uma mulher entre muitas, exceto por um detalhe: ela não enxerga.
Com cegueira total, ela se considerava um “patinho feio”. Ao sair com as irmãs, sabia que elas estavam maquiadas e bem arrumadas, mas Denise não se sentia tão bonita assim. Quando se tornou presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), ela contatou a maquiadora Andrea Andrade para realizar um curso de automaquiagem para deficientes visuais.
A presidente da ABDV foi a primeira a participar da turma do projeto “Beleza que se vê”. No começo, foi um desafio para a maquiadora e para a aluna: Denise, por se aventurar em algo novo, e Andrea, por lidar com um cliente diferente. A deficiente visual sabia que seria difícil, mas estava acostumada com obstáculos. “Eu preciso ser mais forte por ser cega”. No final, o resultado foi positivo.
“Eu não uso maquiagem todo dia, mas é bom saber se produzir. É importante para a segurança e autoestima. Principalmente, por ser mulher. A gente quer se arrumar, ter a unha bem feita, ficar bonita”, conta Denise.
O processo de aprendizagem foi “uma troca de experiências”. Hoje, a presidente da ABDV sabe aplicar base, pó, sombras, rímel, lápis de olho e batom, apesar de não seguir a rotina de beleza completa todos os dias.
Para dar aulas de maquiagem para deficientes visuais, a maquiadora Andrea Andrade começou a aplicar os produtos vendada para prestar atenção em como guiaria as alunas. “Passei a viver a realidade da mulher deficiente visual. Fui desenvolvendo técnicas”, conta.
Aos 36 anos, 10 como maquiadora, Andrea percebeu a profissão de uma forma diferente, compreendendo a realidade das mulheres deficientes visuais. “Passei por um momento no qual comecei a achar fútil a maquiagem. Mas, com esse projeto, senti que o meu trabalho é importante”.
Desde 2013, Andrea oferece aulas gratuitas e por demanda. Ela já atendeu cerca de 10 turmas, compostas por cinco ou seis mulheres.
“O desafio foi lidar com coisas que pensamos ‘isso é tão óbvio, é só um objeto’, mas você entrega o produto e elas nunca mexeram com ele. É uma descoberta”, lembra a maquiadora.
Veja abaixo as dicas que Andrea costuma dar para suas alunas:
Entre as marcas
Para Denise, as marcas nem sempre dão a devida atenção para a mulher deficiente visual. Ela precisa pôr algo que identifique as cores dos seus produtos de alguma forma, pois nem toda empresa oferece embalagens em braille. Para comprar e escolher os tons, pede ajuda para alguma amiga ou para as vendedoras.
Andrea vê que muitas marcas mudaram de postura desde o início do curso, em 2013. “Eu vejo um período de transição. Estão percebendo a mulher cega e vão se importar”.
A Natura passou a colocar braille nas embalagens de alguns produtos de maquiagem. O Boticário exibe nas páginas de Facebook a hashtag #paracegover, que ajuda deficientes visuais a visualizarem melhor as imagens por meio dos aplicativos de escuta.
Em 2016, a marca L’Oréal e Maybelline Brasil fizeram uma campanha para inclusão de deficientes visuais nas propagandas de maquiagem. Além de lançarem um site com áudios de tutoriais, realizaram uma ação com blogueiras e vlogueiras, o #DesafioNoEscuro. Nele, as participantes tinham de se maquiar sem usar espelho ou de olhos fechados.
Para entrar em contato com Andrea Andrade e se informar sobre as aulas de automaquiagem para deficiente visuais, ligue: (61) 3039-4849 ou 99969-4122.