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Atletas levantam debate sobre gordofobia e corpos fora do padrão

Entenda como a representatividade marcou presença nos Jogos Olímpicos e o que ficará de ensinamento à sociedade

atualizado

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Rebecca Cavalcanti
1 de 1 Rebecca Cavalcanti - Foto: Ota/Getty Images)

As Olimpíadas de Tóquio 2020 acabaram há uma semana e, com certeza, deixa saudades. Mesmo após o fim da competição, é possível tirar algumas lições valiosas, que trouxeram debate para fora das quadras, campos e arenas. Além da disputa por medalhas, o evento levantou discussões de relevância social e veio para mostrar que um corpo saudável não necessariamente é magro e sarado – como a maioria das pessoas ainda acreditam.

Nos últimos anos, a discussão sobre a padronização de corpos tomou conta das redes sociais e dos noticiários. A preocupação de médicos e especialistas se torna maior quando os números indicam que cada vez mais pessoas buscam por procedimentos estéticos para se sentirem aceitas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP), o Brasil é o país que mais faz operações desse tipo no mundo, com cerca de 1,5 milhão de procedimentos estéticos por ano.

Apesar do que os centros estéticos e a internet possam vender, um corpo saudável não é, necessariamente, sinônimo de barriga chapada. De acordo com o nutricionista e especialista em nutrição esportiva do EuSaúde Guilherme Quinto dos Santos, a saúde vai além da forma física.

“Muitas pessoas têm tendência para um porte físico maior ou mais vantajoso, isso não quer dizer que ela não seja saudável”, esclarece. “É supercomum eu receber pacientes magros e com índices alterados, como colesterol e triglicerídeos alto. Como também recebo pessoas extremamente saudáveis mas que não têm o ‘porte físico ideal'”, alerta. E é exatamente isso que acontece com os atletas.

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Mais que a forma física, o bem-estar é o que deve ser levado em consideração
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O corpo dos atletas olímpicos levantou um importante debate

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Mais que a forma física, o bem-estar é o que deve ser levado em consideração

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Gordofobia nas Olimpíadas

Ainda que a saúde não deva ser associada ao visual, alguns competidores olímpicos foram alvos de críticas.  O shape da atleta Rebecca Cavalcanti, que representou o Brasil no vôlei de praia em dupla, foi um dos que não agradou aos internautas. “Estava meio fora de forma, viu?!”, comentou um hater no Instagram. “Qual era a gordinha e qual era a ruim?”, postou uma conta no Twitter se referindo à dupla da atleta, a jogadora Ana Patrícia.

Rebecca Silva
A atleta foi alvo de críticas na rede social por estar “fora de forma”

“Depois, a pessoa vem dizer que não tem apoio disso e daquilo. Olha o físico de uma atleta olímpica. É mole?”, escreveu uma usuária do Instagram.

Outra vítima desses ataques foi a goleira Bárbara, da seleção brasileira feminina de futebol. A atleta chegou a ter seu peso criticado em uma rede de TV na Holanda.

“Essa goleira está acima do peso, não? É uma porca com um suéter. É uma zombaria total para a seleção brasileira”, criticou o apresentador e jornalista Johan Derksen, durante o programa holandês De Oranjezomer. 

O sucesso não basta?

Já é sabido que, para chegar às Olimpíadas, são necessários anos de treino e preparo físico. Ainda assim, o sucesso ou o fracasso desses atletas acaba sendo sucumbido ao seu peso. Para a cientista social Lella Malta, essa cobrança incessante por um corpo perfeito, principalmente no que diz respeito às mulheres, é reflexo de uma estrutura patriarcal na sociedade. “Ela ensina para a gente que não basta ter poder, acesso, trabalho e dinheiro, a gente jamais será bonita o bastante, por isso a indústria da estética, por exemplo, só cresce”, explica.

E são elas o principal alvo de críticas e, também, do bisturi: números divulgados pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), mostra que das 11.363.569 cirurgias realizadas no mundo, 1.493.673 foram feitas no Brasil e o perfil da maioria dessas pessoas são mulheres com idade entre 35 e 50 anos.

botox agulha cirurgia plástica
As maioria das pessoas que fazem procedimentos estéticos no Brasil são mulheres com idade entre 35 e 50 anos

Para ela, “reféns desse padrão estético inatingível, as mulheres se tornam, também, reféns de procedimentos, medicamentos e dietas milagrosas. A autoestima fica totalmente minada ao ponto de ser cada vez mais suscetível a transtornos alimentares, por exemplo, muito mais do que os homens, inclusive”, alerta Lella.

A judoca brasileira Maria Suelen, foi uma das atletas que falou abertamente sobre seu corpo e que “fica feliz em ver meninas gordinhas usando biquíni e maiô”. Em entrevista ao UOL, a competidora afirmou que sempre soube lidar com seu peso e que isso nunca foi um problema. “Sempre fui muito bem resolvida com meu corpo. A genética da minha família não me permite ser magra e eu nunca quis atingir esse padrão”, pontuou. 

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Maria Suelen disputa judô na categoria +78kg

Sobre seu porte física, a atleta completou: “Quem não é do esporte estranha. Já ouvi que pareço homem por ser grande, que tenho um corpo masculino; já ouvi que pelo meu porte físico, eu parecia homossexual” contou. Apesar das críticas, Suelen é muito bem resolvida consigo mesma e afirma que tem orgulho e adora mostrar seu corpo. “Ele me faz ganhar medalhas, tem corpo melhor que esse?”, brincou. 

Identificação

Apesar das críticas e dos comentários maldosos, o grau de representatividade impactado pelas Olimpíadas é o que realmente importa. “A identificação que acontece quando você olha alguém na televisão e percebe que aquela pessoa é parecida contigo, pode ser a mola propulsora para o respeito com o seu corpo e para dimensão de onde ele pode chegar”, analisa. “Muitos podem se sentir motivados a praticar um esporte após se sentirem representados por atletas que respeitam seus corpos, apesar do que é dito ou imposto pelo padrão”, explica. 

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