Conheça uma tendência de décor que aumenta a criatividade e melhora a saúde
Proposta do universo da arquitetura investe na reconexão com a natureza e não se limita à presença de vegetação
atualizado
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Faz parte da essência do ser humano criar conexões com os espaços nos quais está inserido. Há uma necessidade biológica de se reconectar à natureza, e o processo de ligação aos ambientes naturais proporciona bem-estar e qualidade de vida, tanto física quanto emocional.
Com o surgimento da pandemia de coronavírus, essa necessidade se acentuou ainda mais. A casa ganhou outras proporções, para além de lugar de descanso. Virou, também, espaço de trabalho e de lazer. A maior parte da população mundial constrói suas vidas em modo vertical, dentro de paredes de concreto e aço em grandes centros urbanos, e a busca pelo contato com a natureza deixará de ocupar os espaços do lado de fora para adentrar os ambientes.
Essa é a proposta do design biofílico, tendência da arquitetura que consiste em agregar elementos naturais à composição do ambiente. O termo, culminado em 1980 pelo biólogo Edward O. Wilson, tem origem no grego bios = vida e philia = amizade ou amor, ou seja, amor à vida.
“O objetivo é integrar design com natureza, refletindo em estímulos sensoriais, na sensação de bem-estar e conforto. É uma maneira de enxergar o lar como refúgio”, descreve a arquiteta e urbanista Danielle Alves, sócia do escritório carioca Oficina AR+CA.
A pandemia demonstrou, na prática, o que a ciência já vinha comprovando. O confinamento doméstico e a ausência de contato com os ambientes ao ar livre agravou ainda mais a ansiedade provocada pela Covid-19. “A falta da sensação de liberdade e do frescor de passear por um parque, ir à praia ou sentir o vento contra o rosto fez com que olhássemos mais para dentro de casa, de forma a refletir as sensações que a natureza nos traz”, completa Danielle.
Com os olhares voltados para o lar, a tendência se traduz em muito mais do que encher a casa de vasos de plantas. O elemento biofílico se dá a partir da integração de espaços abertos – por exemplo, a sala com a varanda – com intuito de ampliar o ambiente ou, no caso da união da cozinha com a sala, estimular o convívio e a troca entre os moradores.
Do ponto de vista arquitetônico, há uma preferência por revestimentos com toque natural; paleta de cores em tons de azul, verde e terrosos; e a valorização de grandes janelas e espaços abertos, como varandas, terraços, e ambientes bem iluminados e ventilados naturalmente. no último caso, trata-se, inclusive, de uma recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço do coronavírus.
Natureza em todos os elementos
O design pode ser obtido a partir de 14 padrões biofílicos classificados pela Terrapin Bright Green, empresa internacional de sustentabilidade. “Eles norteiam os arquitetos a criarem espaços integrados com a natureza visualmente e sensorialmente, a partir de aberturas, da presença da água, do fluxo de ar, da luz difusa e dinâmica, da biomimética e do uso de materiais naturais”, exemplifica Vivi Mendonça, arquiteta paisagista da comunidade Archademy.
Na decoração, as plantas são os elementos mais marcantes, com a tendência das “urban jungles” (florestas urbanas), exemplifica a paisagista. “Mas não é só planta”.
O emprego de mobiliário inspirado em elementos da natureza; materiais como madeira, pedra, texturas naturais e padrões de estampa biomórficas (que imitam desenhos presentes na natureza, como o padrão hexagonal das colméias de abelhas) são característicos do estilo.
Sensação de bem-estar
Toda a extensa lista de benefícios do contato com a natureza e a convivência ao ar livre também se traduz em padrões biofílicos, que contribuem para tornar os ambientes mais saudáveis e produtivos.
“Há uma melhora no estado físico e na saúde mental e redução de estresse. Além disso, há uma sensação de bem-estar em geral”, elenca Danielle.
“Esses ambientes tornam as pessoas mais criativas, reduzem a pressão arterial e aumentam a produtividade”, completa a paisagista Vivi.
De acordo com pesquisa da Terrapin Bright Green, pacientes em hospitais biofílicos se recuperam mais rápido, alunos em escolas assim têm notas mais altas. Clientes estão dispostos a pagar mais caros em lojas biofílicas, assim como hóspedes pagam mais por quartos com vistas. “Tudo isso confirma que o design biofílico veio para ficar e colaborar muito na promoção da nossa qualidade de vida e bem-estar”.