TAF: etapa negligenciada por concurseiros reprova até 60%
Preparação específica antecipada, cuidados com alimentação e repouso podem evitar lesões e complicações que excluem candidatos
atualizado
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A morte inesperada de Leonardo da Silva Oliveira, 31 anos, durante o Teste de Aptidão Física (TAF) do concurso da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) interrompeu o sonho do administrador e comoveu parentes e amigos.
A família assegura que o candidato ao cargo de soldado seguiu corretamente o script: era saudável, praticava exercícios físicos regularmente, tinha acompanhamento de um personal trainer desde julho para realizar a prova, apresentou exames médicos compatíveis e estava apto para a avaliação.
Entretanto, uma parada cardíaca durante a prova de corrida fez tudo mudar e levantou o alerta para essa etapa que, muitas vezes, é negligenciada pelos concurseiros.
O TAF é uma fase comum em concursos para a área de segurança pública, como polícias militar, civil, legislativa rodoviária federal e federal, bombeiros, agente penitenciários, Forças Armadas e, também, para cargos cuja habilidade física é essencial para atender às atribuições de trabalho.
A exceção nessas carreiras estão os cargos burocráticos, que não têm previsão legal da cobrança. Segundo o padrão de muitos cronogramas, ocorre poucas semanas depois do resultado definitivo das provas objetiva e discursiva. No caso da seleção da PMDF, organizada pelo Instituto Americano de Desenvolvimento (Iades), foram exatos dois meses.
Entre as atividades recorrentes que fazem parte do teste, estão barra fixa, salto de impulsão horizontal, corrida de 12km ou 2.400m, natação, flexão abdominal. Os exercícios podem variar de um concurso para outro, porém, trata-se de uma etapa classificatória e eliminatória em que o candidato precisa atingir um mínimo desempenho para ser considerado aprovado e continuar na disputa.
Os editais trazem os detalhes de cada avaliação, ou seja, é como se houvesse um gabarito anunciado que precisará ser cumprido.
Equívoco
O mito da prova fácil. O maior erro de muitos candidatos é menosprezar a necessidade de preparação para o dia da prova e considerar uma etapa “fácil”. Preocupados com os conhecimentos teóricos necessários à primeira etapa, deixam de treinar com tempo hábil para seleção.
Na prática, a facilidade é mito. Em média, 30% dos candidatos são reprovados no TAF, porém, esse índice pode ser bem mais alto: 40% ficaram de fora na última prova da Polícia Civil do DF e 60% na Polícia Federal.
Segundo profissionais de Educação Física especialistas em TAF, para um adulto que faz atividades regularmente, o tempo mínimo adequado de condicionamento é de três meses. Esse prazo é bem maior para os sedentários, os que tenham sobrepeso ou obesidade.
Além de uma rotina específica de exercícios, a alimentação se torna determinante para um bom resultado. A falta de cuidado durante os treinos, o esforço exagerado com programações em cima da hora e a ausência de descanso adequado podem provocar lesões que ameaçam a participação nas provas.
Antes de começar os treinos e na hora de realizar as provas, o candidato deve apresentar atestados médicos específicos, sob seu ônus. Nesse ponto, infelizmente, as situações de descaso colocam em risco não só o cargo público, mas a saúde e a vida do concurseiro.
Em uma pesquisa rápida na internet, é possível encontrar meios de burlar as exigências com ofertas do documento a R$ 10, por exemplo, ou a indicação de clínicas que emitem o atestado “do jeito que se quer”.
Também não é surpreendente que a orientação de realizar exames de esforço ou de eletrocardiograma – como o recomendado – sejam deixadas de lado e se faça apenas um exame clínico no consultório e saia de lá com a validação.
Direitos e discrepâncias
Assim como todas as etapas de um concurso, o TAF também oferece possibilidade de recurso em caso do concorrente ser considerado inapto. Por essa razão, os testes são filmados pela banca examinadora, que disponibiliza as imagens sob solicitação.
Um dos motivos que levam a questionamentos, inclusive judiciais, é a falta de isonomia das condições de avaliação, como a convocação de candidatos para fazer provas de esforço no início da manhã e no início da tarde, por exemplo, quando as temperaturas e a umidade do ar têm diferenças significativas.
Essa discrepância ocorreu no concurso da PMDF. As provas de barra fixa, flexão abdominal (tipo remador) e corrida de 12 minutos foram realizadas entre 15 e 22 de setembro em dois turnos: 6h20 às 8h35 e das 15h às 16h30, e as provas de natação de 6h36 às 10h e das 15h08 às 17h32. Leonardo foi convocado na turma 82 do primeiro grupo de testes e se apresentou para a avaliação das 15h45 na quarta-feira (19).
Também estava prevista a participação do candidato na prova de natação no dia seguinte, às 16h. Não é possível afirmar que as condições climáticas tenham influenciado em seu ataque cardíaco fatal, entretanto, situações semelhantes de diferenciação entre os candidatos têm motivado recursos.
Há casos em que essa etapa é deixada para depois, mesmo não havendo previsão legal de “segunda chamada”. Não há legislação que garanta essa possibilidade, sendo assim, os pedidos acabam sendo garantidos por vias jurídicas. É o caso de gestantes, lactantes e aqueles que têm limitação temporária que prejudiquem a execução das provas, como uma lesão ou algum membro engessado.