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Quem tem medo de Judith Butler? A filósofa que libertou as minorias

Respeitada no mundo pelos conceitos que revolucionaram o gênero, a filósofa chega ao Brasil sob protestos descompassados de conservadores

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Autora do best-seller “Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade”, a filósofa Judith Butler retorna ao Brasil para integrar o seminário “Os Fins da Democracia”, de 7 a 9/11, no Sesc Pompeia (SP). Uma das maiores e mais respeitadas autoridades no mundo sobre discussões de gênero, feminismo e teoria queer, a norte-americana aterrissa no país sob protestos descompassados de grupos da ultradireita.

A chegada de Judith Butler deveria ser uma oportunidade ímpar para o país discutir a onda de conservadorismo. Afinal, o século 21 é e será pautado sob essa temática, doa a quem doer. Não há mais como fugir da implosão das caixinhas binárias de gênero “masculino” e “feminino” e de sexo “macho” e “fêmea”, que normatizaram e regularizaram durante séculos a história da humanidade e seus desejos.

Aliás, muita gente que nunca ouviu falar no assunto ou sequer leu a obra de Butler a transformou numa espécie de ameaça à “família tradicional brasileira”. Desconhece que a filósofa se debruça sobre a inquietude do ser humano contemporâneo, a partir de importantes pensadores, como Michel Foucault, apontando a liberdade do sujeito a romper com a camisa de força de gênero.

É preciso entender alguns conceitos propostos por Butler para debatê-los. A partir do best-seller, o Metrópoles destaca os principais.

Heteronormatividade
A relação tida como natural e predominante entre homem e mulher é organizada arbitrariamente como mecanismo de regulação de poder, de forma que se estabeleça a tríade conduta/desejo/afeto em consonância ao normatizado. É dado ao sujeito que vem ao mundo com essa única condição binária para que ele se estabeleça entre masculino/feminino e macho/fêmea.

Esses corpos são construídos pela repetição de signos, atos e gestos dentro de um âmbito cultural de tal jeito que o homem está dentro do paradigma masculino e a mulher, do feminino. O que está fora é apontado como anomalia. Esse conceito redefine o movimento feminista nos anos 2000.

Ordem compulsória
Um dos pontos altos da teoria de Butler é dissociar a condição binária gênero/sexo. Ela quebra com a premissa de que o sexo é natural (estabelecido biologicamente pela anatomia do corpo) e gênero, social. Agora, ambos passam a ser uma construção do sujeito na constituição do mundo.

O sexo e o gênero passam a ser construídos e impressos no corpo como discurso em associação ou confronto com as estruturas de poder. Assim, o sexo de cada um não pertence ao corpo biológico nem à natureza. Pode haver o desmonte de uma ordem artificial dada que estabelece a coerência entre sexo, gênero e desejo. Essa subversão quebra a cadeia imposta ao sujeito.

Gênero
É um ato intencional, um gesto performativo que produz significados. É construído pelo sujeito dentro das relações de força dadas a fim de tornar doentio tudo que está fora dessa regulação. Butler indica que esse gênero socialmente construído ensina o homem e a mulher a serem “homem” e “mulher” conforme regulado socialmente. Por exemplo, o enxoval das cores azul versus rosa para meninos e meninas, a boneca e a bola de futebol nas brincadeiras de infância. Gênero, portanto, é uma construção reguladora.

O gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado num sexo previamente dado.

Judith Butler

Sujeito
O sujeito está dentro dessa ordem compulsória e reguladora. Não há como ser totalmente livre. No entanto, ele é poroso, errante e instável, em estado de construção. Pode se reconhecer fora do gênero, sexo e desejo estabelecidos para garantir a performatividade como “homem” e “mulher”. Pode decidir como vai se definir e com que pluralidade se manifestará seus desejos.

Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.

Simone de Beauvoir

Identidade de gênero
Como o gênero é uma construção de caminho do sujeito poroso e instável, a identidade de gênero é a sequência dessa caminhada, logo, não pode ser tomada como um ponto de referência estável. Ele pode mudar com o tempo caso assim deseje.

Corpo é discurso
Como o gênero não é natural e é construído na performatividade do sujeito, o corpo é a estilização desse gênero a partir da materialidade do sexo. O sujeito constrói o corpo pelas linguagens.

Existe uma boa maneira de categorizar os corpos? O que as categorias nos dizem? As categorias nos dizem mais sobre a necessidade de categorizar os corpos do que sobre os próprios corpos.

Judith Butler

Subversão
Enfrentamento das normas que regulam e limitam a construção do sujeito, seu gênero e seu sexo. Criação de espaço de enfrentamento em seu corpo histórico. Os transexuais ao definirem seu gênero e a sua identidade performam contra o poder que quis regular seu corpo.

Acompanhe a palestra de Judith Butler no Brasil

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