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Quando as divas tiram o Grammy e a indústria pop da chatice

Beyoncé, Lady Gaga, Adele e Rihanna transformaram a edição de 2017 numa festa feminina

atualizado

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Frederick M. Brown/Getty Images
Adele
1 de 1 Adele - Foto: Frederick M. Brown/Getty Images

Errar é humano, diz a máxima. Mas admitir o erro publicamente é essencialmente feminino. A cultura masculina ocidental não ensinou aos homens que falhar faz parte do show. No Grammy Awards 2017, a britânica Adele desafinou mais uma vez. Respirou fundo, soltou um palavrão e mostrou ao mundo o quão falíveis são os astros. Pediu a todos uma segunda chance e homenageou singelamente George Michael.

Minutos depois, o microfone de James Hetfield, da banda Metallica, falhou e “Moth into Flame” foi interpretada à meia-boca. O vocalista seguiu como pôde até ser acolhido pelo microfone de Lady Gaga, numa performance prejudicada pela falha técnica e pelo excesso de teatralidade (fogo irritante no palco e figurantes por toda parte). Terminou a apresentação esbravejando. Cabeças devem ter rolado. Enquanto Gaga, cada vez mais múltipla, regojizava-se do mosh, talvez o melhor momento do duo.

Christopher Polk/Getty Images
Metallica e Lady Gaga fizeram show empolgante, apesar das falhas técnicas

Arrisco a dizer que se não fosse a elegância e o talento estupendo de Bruno Mars a cerimônia do Grammy 2017 teria ovário, ventre, seios e uma grandiosa vagina entre as pernas. Há tempos a indústria da música norte-americana gira em torno de suas divas. É preciso clamar por uma Madonna a cada geração para manter o mundo interligado naquela que é, para desespero dos antiamericanos, a melhor música do mundo (do pop ao R&B; do jazz ao country, do gospel ao blues).

Kevin Winter/Getty Images for NARAS

Uma dessas rainhas, Beyoncé explodiu esfuziante no palco do Grammy e não tinha como não se lembrar de Leila Diniz, nos repressivos anos 1970, com a barrigona, grávida de Janaina, exposta ao vento. Naquela época, a maternidade agredia os “caretas” e a liberdade feminina podia ser ir de biquíni à praia, feliz e sensual.

https://youtu.be/qVXRr_s54SI

Redefinida como uma intérprete cheia de ideologias, Beyoncé fez plateias mundiais repensar sua identidade de raça com “Lemonade”, álbum, talvez, politizado demais para uma indústria fonográfica ainda presa a padrões seculares. Como uma Oxum (orixá mãe do panteão de deuses africanos), apresentou-se ao mundo uma performance cheia de referências religiosas à paz.

Quer algo mais político do que clamar pela paz numa nação, hoje, dirigida por um senhor da guerra?

As cantoras mundiais se tornaram fortes influenciadoras políticas no século 21. Há uma geração de fãs que não copiam exatamente as roupas extravagantes, as danças que desconcertam o esqueleto e decoram cada sílaba das canções. Aderem à forma de pensar e de ver o mundo.

Adele, com seu discurso sincero e feminino, e Beyoncé, com a postura de identidade, não rivalizaram como nos velhos tempos. Uma declarou-se em solidariedade e respeito à outra, reforçando o conceito de “sororidade”, a aliança que move o movimento neofeminista.

Em que pesem a cafonice do tapete vermelho e as mesmices da cerimônia, a festa de Adele, Beyoncé, Lady Gaga e Rihanna (que apesar de não ter ganho nenhuma estatueta, foi uma das atrações mais esperadas pela audiência) é sinal de um tempo de divas engajadas e capazes de passar a perna num Grammy antes tão mercadológico e agora um pouco mais humanizado.

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