O mais genial monumento de Brasília fica a 1.171 metros de altitude
O Céu de Brasília, monumental e inigualável, já deveria estar tombado como patrimônio imaterial da humanidade
atualizado
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Gosto de escrever Céu de Brasília com letra maiúscula, porque, perto dos outros, o nosso torna-se agigantado. Neste tempo em que o Brasil desacreditou da política, tenho olhado para o alto em busca de acalanto. A capital do poder, rasgada ao meio pelos incessantes descalabros, encontra o seu esteio nessa imensa camada azul que reduz a vergonha dos humanos e de seus “podres (três) poderes”.
Falar do Céu de Brasília, e de como ele nos inspira, é arriscado. Poetas do primeiro quilate já o fizeram de forma incólume. Corre-se o risco de se derramar em adjetivos baratos. Um deles, no entanto, me encoraja a escrever: “monumental”.
Entre tantas criações arquitetônicas de Brasília tomadas como Patrimônio da Humanidade, algumas geniais, nenhuma chega perto da beleza sublime dessa obra-prima. O Céu de Brasília é como uma obra de arte. A gente fica diante dele e toda a energia ordinária do cotidiano some-se, minúscula, perto de sua grandiosidade.
Por que o nosso maior patrimônio ainda não foi tombado? O projeto já existe. É de autoria do arquiteto Carlos Fernando de Moura Delphim.
O Metrópoles selecionou sete obras que têm o Céu de Brasília como mote:
1 – Linha do Equador
Caetano Veloso e Djavan, dois dos maiores poetas da MPB, não ficaram imunes à inquietação desse Céu infinito que os cobria. Ao poetizar um amor cortado pela linha imaginária que divide o planeta Terra, eles citaram esse bem imaterial.
2 – Os poemas de Nicolas Behr
O nosso maior poeta engoliu Brasília e recriou a “Braxília”, cidade lúdica, viva e cheia de contradições. Além disso, Behr poetizou o Céu em inúmeros versos:
O que mais fascina em Brasília?
A cidade ou o poder?
O Céu!
Deus abriu a janela do mundo
e nela projetou o Céu do cerrado.
Acendeu o diamante azul do dia na esplanada do destino.
As nuvens saem do chão,
numa explosão álacre de âmbar.
3 – A canção de Toninho Horta e Fernando Brant
Mais dois célebres poetas brasileiros se uniram para traduzir o “Céu de Brasília” numa melodia que ganhou uma belíssima gravação de Simone.
https://www.youtube.com/watch?v=ZpqpdyO3avk
4 – “Meu Exibido Amor”, de Elisa Lucinda
A atriz, escritora e poeta, que está na cidade ensaiando o espetáculo “L, O Musical”, fez um dos poemas mais intensos sobre o Céu, que virou um amante mais que desejado.
Sempre que posso venho te ver, amado meu, você sabe. Mas desta vez mandaram me chamar, ou melhor, seu pombo-correio foi me buscar para que eu desse testemunho da intimidade que nos une.
Estou aqui, meu senhor, exposta à tua luz e disponível aos caprichos de teu calor. Sob ti vejo a cidade humana com seus amanheceres adoráveis, suas tardes mimosas e claras, seguidas de cinematográficos poentes.
Ah, Céu de Brasília, francamente, você, quando capricha, meu coração fica sem argumento. Te adoro, você me acolhe e me protege como nenhum céu o faz, nem o céu capixaba maravilhoso de minha terra. É lindo ele, mas é de outra qualidade, outra especialidade. Sempre foi assim, já reparou?
Fico até achando, Céuzinho azul do meu coração, que você só faz isso quando eu chego aqui, que é tudo pra mim, pra se exibir pra mim, pra se mostrar pra mim, que é pra me seduzir, pra sugar meu sangue-poema até a última gota.
5 – Clarice Lispector
A maior poeta brasileira de todos os tempos fez crônicas profundas sobre os seus sentimentos a partir do Céu de Brasília.
Quando morri, um dia abri os olhos e era Brasília. Eu estava sozinha no mundo. Não chorei nenhuma vez em Brasília. Não tinha lugar. — É uma praia sem mar.— Em Brasília não há por onde entrar, nem por onde sair. Todo um lado de frieza humana que eu tenho, encontro em mim aqui em Brasília, e floresce gélido, potente, força gelada da Natureza.
6 – Lucio Costa
O urbanista defendeu seu projeto a partir do Céu, onde o seu avião plaina.
Ao contrário de outras cidades, que se conformam e se ajustam à paisagem, no cerrado de céu imenso, como em pleno mar, a cidade criou a paisagem”, escreveu Lucio Costa.
Clarice percebeu com agudeza o projeto dos arquitetos: “Construções com espaço calculado para nuvens.
7 – A foto dos astronautas da Nasa
Até os astronautas da Nasa se renderam à beleza do Céu de Brasília, numa foto que emocionou o mundo.