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O dia em que a Miss Plus Size seduziu a Rodoviária

A convite do “Metrópoles”, Camilla Goulart circula pela plataforma de ônibus, arranca suspiros e mostra que é possível ser feliz (e linda) vestindo tamanho 48

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 141015MM_misscamilagoulart005 - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Com uma caixinha de presente em mãos, a estudante de Artes Cênicas Camilla Goulart, 32 anos, chega à Rodoviária do Plano Piloto discretamente. Dentro, há um cobiçado tesouro, disputado por 25 mulheres selecionadas num universo de 100. Bem maquiada e com um vestido preto básico, ela se dirige a um dos banheiros femininos. Não leva mais que cinco minutos para abrir a embalagem e retirar a coroa e a faixa que a fizeram Miss Plus Size DF 2015. Quando sai, a plataforma inferior da estação de ônibus, cheia de filas, ambulantes, pedintes e gente correndo pra lá e pra cá, transmuta-se em uma passarela.

O fotógrafo do Metrópoles Michael Melo está a postos para o ensaio. Esqueça aquela tímida garota que chegou com a caixinha de presentes em mãos. Agora, no foco das lentes, está uma miss fascinante. Uma modelo que faz os homens entortarem o pescoço e as mulheres soltarem elogios. Enquanto Michael busca os melhores ângulos, ouvem-se comentários, alguns impublicáveis, outros cheios de graça.

HOMEM Ah, uma mulher desta no meu barraco na Estrutural? Seria minha rainha!

MULHER Linda e um exemplo para essas modelos que vivem de alface.

O auxiliar administrativo Lucas não resiste, chega próximo de Camilla, pede licença para beijar uma de suas mãos e dar um giro nela como se fosse convidá-la para contradança.

LUCAS Ela é linda e de verdade. Não é aquela mulher plastificada.

Michael Melo/Metrópoles

Com a mão direita, Camilla faz aquele tradicional tchauzinho de miss. Não foi combinado, mas, ao fundo, toca no alto-falante um velho sucesso de Amelinha (“Mulher nova, bonita e carinhosa/ Faz um homem gemer sem sentir dor”). Para uns, a atmosfera é de sedução. Prevalece um orgulho no ar que parece ser comungado por todos que passam, param, tiram uma foto e sorriem.

CAMILLA Sinto que as pessoas são carinhosas e respeitosas. Elas parecem ter um cuidado comigo. Devem imaginar que não cheguei aqui sem enfrentar barreiras.

Dieta é passado
Essa consciência faz com que Camilla compreenda, em detalhes, a sua missão. A de estimular mulheres que sofrem a pressão para caber no manequim 38 (o sonho de consumo). Ela conhece bem essa agonia. Experimentou todas as dietas da vez. Emagreceu, engordou de novo, emagreceu mais uma vez. Sofreu, teve depressão por volta e meia voltar ao tamanho 48. Agora, encontrou-se diante do espelho. A estima está em alta. Precisa estar preparada, para administrar a vida de modelo, os compromissos de miss e o poder que tem para influenciar gordinhas infelizes.

CAMILLA Acima de tudo, defendo a causa plus size e sinto que sou inspiração para muitas mulheres que sofrem por estar acima do peso.

Michael Melo/Metrópoles
A estudante de Artes Cênicas também é ativista nas redes sociais e combate o preconceito

Orgulho 48
Habita, em Camilla, um sentimento de pertencimento ao tamanho 48. O concurso de Miss Plus Size foi o território de transformação. Ela amadureceu e ganhou responsabilidades. Hoje, faz palestras motivacionais, defende causas humanitárias, mostra que é possível estar acima do peso com saúde e sente que, em suas formas, reside o poder para ajudar mulheres em depressão. Foi assim que encarnou uma sensualíssima pin up nas passarelas do Capital Fashion Week.

CAMILLA É muito forte perceber que atraio sorrisos e isso tem a ver com a felicidade que tenho dentro de mim.

Camilla é ativista nas redes sociais e combate toda a forma de preconceito, em especial, contra as gordinhas. Mandou um recado desaforado para atriz Betty Faria, que andou revelando seu pavor às gordas.

CAMILLA Repulsa maior deveria ter de atitudes que propagam preconceito. Até porque, quando foi hostilizada por mostrar seu corpo idoso, fomos nós gordas que te defendemos.

Ali, como um diário, põe sua experiência à prova. Um dos depoimentos mais tocantes, fala dessa revolução interior.

CAMILLA Enquanto não me amei, nem sonhos, nem realizações, nem a felicidade batiam à minha porta. Enquanto não me amei, nem amizades, nem paixões, muito menos amores, eu tive. Enquanto não me amei, noites em claro, lágrimas nos olhos e eternas carências, eu vivi. Quando me descobri, desabrochei.

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