Maíra Oliveira, o coração onde mora o palhaço Ary-Pára Raios
Maíra Oliveira segue o legado do pai, um dos artistas mais importantes da história teatral do Distrito Federal. A memória do mestre move o espetáculo “Quando o Coração Transborda”
atualizado
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Maíra Oliveira carrega no peito um legado: o de ser uma das guardiãs do mestre Ary Pára-Raios, palhaço, diretor e grande agitador cultural do Distrito Federal. Quando estava no leito de morte, em 2002, o artista intuía que o Esquadrão da Vida, um dos mais longevos coletivos do DF, seguiria nos passos da filha, promissora atriz e diretora. De sábado (4/6) ao dia 26/06, ela sobe ao palco com “Quando o Coração Transborda”, na Ocupação da Sala Conchita de Moraes, para pôr em circulação a alegria e os conflitos de dar continuidade à saga do pai.
Adulta, aceitei que meu pai era meu mestre, a pessoa que me abriu as portas do teatro e me mostrou que eu era atriz e que, “pro bem ou pro mal”, essa era a minha história. Tem uma frase que eu sempre falo e que virou meu mantra (está no espetáculo): “É ruim, mas é bom”. Pra toda leveza, há um peso, temos que achar um equilíbrio
Maíra Oliveira
O equilíbrio de Maíra Oliveira está na tênue relação de ser artista autônoma e filha de um homem cuja memória está impregnada na pele de quem o viu em cena ou de quem com ele descobriu a arte. É no afeto que Ary Pára-Raios vive para além da morte. Muita gente o traz num cantinho do coração. Hoje, o mais desafiante para a família é manter preservada os vestígios físicos da memória do coletivo. Este, sim, ameaçado.
Quando ele estava vivo, já era difícil a conservação do material do Esquadrão da Vida. Imagina agora! Esse tipo de material precisa sempre de manutenção, de ser digitalizada. Temos filmes em Super 8, fotos que não têm negativos, matérias de jornais que estão bem-cuidadas, mas o papel é uma coisa difícil de se conservar. Fora figurinos, peças de cenário
Maíra Oliveira
Quarto e porão
Maíra sonha com um espaço adequado, com material organizado e catalogado. O acervo físico está dividido entre o quarto de seu apartamento e o porão de uma atriz do grupo.
Muitas coisas, uso no “Quando o Coração Transborda”, mas elas não chegam a ser nem a metade do que temos: instrumentos, cenários, quadros, documentos, vídeos (alguns já digitalizados, outros não), fotos, jornais e revistas, um bumba meu boi que o Seu Teodoro nos deu, lonas, malas, chapéus e um monte de outras coisas
Maíra Oliveira
Ary Pára-Raios foi um artista apaixonado pela vida, pelo humano e por Brasília. Tinha uma consciência holística, amava a liberdade e queria que nós fôssemos brincantes felizes nos vãos dos monumentos gigantescos. Para alguns um visionário, para outros um xamã. Para Maíra, um homem que viveu o seu tempo e sua vida de forma intensa, conflituosa e apaixonada.
Um homem sensível e atento às delicadezas do mundo, às potencialidades individuais do ser humano, uma pessoa especial
Maíra Oliveira
Gene do Esquadrão
É nesse âmbito de humano que reside o gene do Esquadrão da Vida, representado nos palcos pelo solo afetivo e memorial “Quando o Coração Transborda”
A possibilidade de reflexão sobre o direito à cidade. O direito de vivê-la em sua plenitude, com a ocupação lúdica e poética dos seus espaços em harmonia com os seus habitantes. O libelo da arte e do teatro como arma democrática contra a caretice
Maíra Oliveira
Foi no Esquadrão, desde menina, que Maíra foi compreendendo que a arte é revolucionária. Há uma frase que um dia o pai escreveu num bilhete para ela: “A arte é nosso Deus e o teatro nosso sacerdote. Nosso purgatório é nosso Olimpo” ]
Faço arte porque preciso fazer. Talvez seja esse o maior sentido
Maíra Oliveira
TEMPORADA: 04/06 a 26/06
Sábado e domingo, sempre às 20h.
Local: Sala Conchita de Moraes
Endereço: Setor de Diversões Sul, Prédio FBT (Teatro Dulcina)
Ingressos R$ 30 (inteira) e R$15 (meia)
Classificação etária: 14 anos