O comediante Marcelo Adnet é o grande vencedor das eleições 2018

As eleições presidenciais ainda não acabaram e o saldo infelizmente é devastador: ódio, assassinatos, espancamento nas ruas, ataques neonazistas, ameaças à democracia e milhares de fake news produzidas diariamente e espalhadas pelo WhatsApp. Em meio ao pior pleito de que se tem notícia, a comédia tem sido o elixir para se seguir firme.

Com um senso de comédia único, o brasileiro conseguiu gargalhar de si mesmo. De forma profissional ou amadora, os humoristas viralizaram memes e quadros que fazem jus a máxima “rir é o melhor remédio”.

Basta acompanhar os memes comportamentais da dupla Barbie e Ken ou a dublagem do talentoso ator Matheus Porto para uma das cenas antológicas da novela “Vale Tudo” em que Raquel (Regina Duarte) rasga o vestido de casamento de Maria de Fátima (Glória Pires).

 

Nesse sentido, Marcelo Adnet simboliza a face genial do humor político nas eleições 2018. Dono de talento que, aparentemente, parecia já estar domesticado pela tevê brasileira, o artista quebrou expectativas ao transformar uma proposta pouco original do jornal “O Globo” em um dos melhores momentos do humor nacional nos últimos tempos.

“Estava acostumado a ser ameaçado de morte nas redes sociais. Quando recebi o convite, a minha empresária me aconselhou a não se envolver com política. O humor é importante para o debate”, disse o ator em, recente entrevista a Pedro Bial.

Muito além de construir uma caricatura de cada um dos “presidenciáveis”, Marcelo Adnet fez uma crônica política perspicaz e sofisticada a partir da observação de gestos e entonações da cada candidato. Algo que só Chico Anysio e Agildo Ribeiro, dois gênios do humor brasileiro, tinham conseguido realizar com tanta maestria.

Entro no meu escritório e fico um tempo enorme assistindo aos vídeos de cada um para pescar o que personagem me entrega de vícios linguagens. É um método investigativo

Marcelo Adnet

O primeiro vídeo produzido, o de Jair Bolsonaro, chegou à perfeição ao aproximar a imagem polêmica do capitão da reserva às suas contradições. A frase “a minha proposta é clara e nós vamos mudar isso aí” viralizou e alimentou memes.

Com 4 milhões de visualizações, esse trabalho de Adnet suscitou um falso áudio sobre uma suposta crise nervosa do capitão da reserva no hospital, que, no momento inicial, foi perversamente atribuído ao comediante. O que lhe rendeu ataques raivosos e ameaças de morte pelas redes sociais.

Os tutorais trouxeram a ideia de ensinar as nuances de cada personagem para as pessoas imitarem também

Marcelo Adnet

Talvez, a mais difícil e genial imitação de Adnet tenha sido a de Marina Silva, por ser mulher e a discussão de gênero ser hoje um aspecto político no qual o comediante tem consciência de seus riscos. No vídeo, o ator começa discutindo os critérios usados para caricaturá-la e segue, criando uma emocionante humanidade para a candidata da Rede. Tanto Marina quanto Ciro Gomes (imitação também impecável) compartilharam os tutoriais de Adnet nas redes.

Todos os tutoriais criados por Marcelo Adnet atingem a criação artística pela combinação entre o objetivo técnico de caricaturar e a interpretação subjetiva desses personagens dentro do contexto político. O comediante ajudou o público a perceber as contradições de cada tipo e as agruras do sistema político brasileiro. É possível entender o chamado “rabo preso” de cada um.

 

Marcelo Adnet começou a fazer imitações de políticos aos sete anos de idade, em 1989, quando imitou Collor, Lula e Brizola.

Muita gente me ameaça de morte e de beijo. Para fazer cada um, pensei muito, assisti muito e me informei bastante. Fazer o Haddad (um candidato mais neutro) e o Daciolo (um personagem pronto), por motivos diferentes, foram os maiores desafios

A coleção de vídeos de Marcelo Adnet entra para a história do humor político nacional e o coloca no patamar dos grandes comediantes desse país.