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O amor de uma brasiliense salva da morte um ipê rosa que não floria

Esta é uma história real com ares de fábula. Vamos então começar a escrevê-la assim… Na época de seca, ninguém parava em torno dele para fotografá-lo. Motoristas, ciclistas e pedestres seguiam sem desviar o olhar para os galhos. A sina dele era ser um “não” ipê. Quem se atentava a sua natureza lamentava. Qual seria […]

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Esta é uma história real com ares de fábula. Vamos então começar a escrevê-la assim…

Era uma vez um ipê rosa que nunca floriu…

Ana Lucena

Na época de seca, ninguém parava em torno dele para fotografá-lo. Motoristas, ciclistas e pedestres seguiam sem desviar o olhar para os galhos.

A sina dele era ser um “não” ipê. Quem se atentava a sua natureza lamentava.

Qual seria a serventia de um ipê incapaz de proporcionar a explosão de cores dos pompons que levam os olhos dos humanos ao êxtase?

Apesar de vistoso em sua estranheza, parecia estar condenado a inutilidade. Para muitos, crescia, como um parasita, sugando a água do solo de outros “ipês” verdadeiramente “ipês”.

Outros tantos o denominavam de importuno. Aquele porte de 15 metros ameaçava os fios elétricos que transmitiam energia para carregar as máquinas de fotografar ipês.

Para um bocado de gente, ainda dava um trabalho do cão. Humanos ocupados em se deslumbrar com ipês dignos de serem ipês tinham que varrer o chão coberto de folhas mortas, secas e símbolos da vergonhosa infertilidade. Para piorar, as raízes começaram a quebrar a calçada.

O bochicho sobre a derrubada do ipê rosa que nunca floriu era iminente. Saiu da cabeça de um, pulou para o ouvido de outro e correu léguas, de boca em boca miúda, com um rastilho de pólvora que busca a morte.

Havia ali, no entanto, uma guardiã que atendia pelo nome de Ana Lucena. Ela amava aquele ipê diferente de forma tão intensa que o fotograva daquele jeito, espinhado e sem cores, exibindo uma beleza que pouquíssimos viam.

Quando era uma universitária, em 2003, e o ipê era uma mudinha. Ana testemunhou uma tragédia. A pequenina planta foi destroçada por um cachorro, animal de estimação do seu tio. A raiz ficou espatifada. Parecia não ter jeito. Ana venceu a desesperança, acreditou e replantou a árvore que virou o que virou.

Mesmo não dando flores, eu tinha um afeto muito grande por aquele ipê, que ficava na frente da varanda do meu quarto. Ele era tão bonito, mesmo sem as flores

Ana Lucena

O amor de Ana virou angústia quando soube da ameaça de morte. Defendeu a árvore, mas tinha o apoio de gente que podia ser contada nos dedos. A mãe, Eliana; o marido, Pedro Caetano; e alguns amigos. Lutava para impedir a derrubada, quando, sentada na varanda do quarto, no inverno do ano passado, viu uma flor de ipê rosa do seu lado.

Olhei para o telhado (meu quarto ficava no segundo andar da casa) e vi várias delas. Meu coração foi na boca. Pensei: de onde vêm essas flores? E lá estavam elas, tímidas, florindo

Ana Lucena

Ana correu para mostrar a mãe o que parecia um milagre.

Ela chegou no meu quarto emocionada com alguns pompons rosas na mão

Eliana Lucena

Mãe, ele floriu

Ana Lucena

Foram poucos cachinhos, mas o bastante para fugir da motosserra

Eliana Lucena

Floriu e pegou gosto. Neste ano, os pompons estão vistosos e se espalharam em felicidades.

Ana Lucena

Meu companheiro, Pedro Caetano tem, uma teoria muito linda. Ele diz que o bougainville abraçou o ipê naquele ano para ensiná-lo a florir (ao lado do ipê tem um bougainville roxo exuberante que se enroscou todo no ipê)

Ana Lucena

A natureza é sábia, nos ensina todos os dias a virtude da paciência e do respeito aos ciclos. Minha filha salvou o ipê que não floria. É uma história emocionante

Eliana Lucena

Ah, tempo rei, tempo rei…

A foto de Ana Lucena que abre a coluna é de um ipê baixinho do Parque da Cidade. O ipê que agora flori fica no Condomínio Village Alvorada, na Ermida de Dom Bosco. Hoje, Ana tem 36 anos e é fonoaudióloga.

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