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Nos anos 1970, peça teatralizou como o governo enganou os candangos

Série Teatro 061 destaca “Capital da Esperança”, espetáculo que expôs nos palcos as mazelas dos que vieram construir Brasília

atualizado

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Brasilia antiga candango
1 de 1 Brasilia antiga candango - Foto: null

As dores da periferia ganharam ecos num dos espetáculos mais marcantes da história do Distrito Federal. “Capital Esperança” teatralizou o lado perverso da construção de Brasília do ponto de vista de quem estava fora do Plano Piloto, sentindo na pele o peso de ter segurado nas costas o luxo da capital federal.

O grupo Carroça propôs uma outra forma de se fazer teatro no DF: pesquisa profunda sobre o tema e criação de dramaturgia em sala de ensaio. O ano era o de 1978 e o resultado, como escreveu Celso Araújo, o mais importante crítico de teatro do DF à época, vinha dos pés pisados no barro vermelho.

Quem dirigiu foi Humberto Pedrancini, mineiro de Uberlândia que vivia em Goiânia. O grupo foi cruzando histórias orais e pesquisas em arquivos de jornais até chegar numa dramaturgia testada em sala de ensaio.

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Humberto Pedrancini: o diretor
Hugo Rodas: espectador
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Construção de Brasília foi o mote da pesquisa

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Humberto Pedrancini: o diretor

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Hugo Rodas: espectador

 

A montagem, dividida em cinco quadros, era um soco político na alienada tese de que “Brasília era o paraíso para todos”. Um deles criticava o uso propagandístico do mítico sonho de Dom Bosco. Chamava-se “O Chute Profético” e tirava o véu da metáfora da “terra onde jorrava o leite e o mel”, mostrando as agruras que os candangos sofreram, sobretudo, quando a cidade foi inaugurada e eles arremessados para a periferia.

Num outro, o “Massacre”, tocava numa das piores feridas da construção: o assassinato de muitos dos operários da construtora Pacheco. Havia ainda “Taguatinga em Pé de Guerra” que falava sobre a revolta de mulheres na década de 1960

A peça foi selecionada para circular no projeto Mambembão 1979, do Serviço Nacional de Teatro. Ganhou uma crítica de Ilka Marinho Zanotto, no jornal “O Estado de S. Paulo”:

De repente Brasília é realmente uma cidade, não somente a maquete fria e bela projetada nas pranchetas dos arquitetos geniais, mas um aglomerado urbano estuante de vida

Ilka Marinho Zanotto

A repercussão da peça foi imediata. No dia 21 de abril de 1980, aniversário de 20 anos de Brasília, o grupo apresentou o quadro “Taguatinga em Pé de Guerra”, na Praça do Relógio, para um público esfuziante.

O elenco de “Capital Esperança” era formado por Antônio Biancho, Carlinhos de Freitas, Cleber Loureiro, Gabriel Salgado, Izabela Brochado, Lourdes Basílio, Márcio Gonçalves, Mauí Cordeiro, Rochael Alcântara. Um dos quadros virou um curta-metragem, dirigido por Armando Lacerda. É possível perceber a força de atuação de Lourdes Basílio, uma das atrizes preferidas de Pedrancini.

Foi um espetáculo que eu vi quando cheguei a Brasília e amei. Era uma peça fantástica, porque falava da realidade de Brasília, da construção de Brasília

Hugo Rodas

“Capital da Esperança” à época não foi poupada de crítica negativas relativas a interpretações e atuações, que decorriam do amadorismo típico de grande parte das peças montadas na capital. No entanto, já naquele momento foi reconhecido por essa mesma crítica, que foi a primeira tentativa de resgate histórico, por meio do teatro, da epopeia brasiliense e suas consequências muitas vezes perversas. Certamente é um dos grandes legados do teatro brasiliense”, observa o pesquisador Carlos Matheus Castelo Branco

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