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Nicolas Behr volta a ser menino em dicionário que organiza a infância

Livro “Dicionário Sentimental de Diamantino”, lançado nesta terça (11/10), em Brasília, transporta o leitor a um tempo cheio de vida e de dramas

atualizado

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Reprodução
Nicolas Behr
1 de 1 Nicolas Behr - Foto: Reprodução

Num dia qualquer da vida, os poetas Nicolas Behr e Manoel de Barros trocaram versos sobre a vida de menino.

 A infância é a camada fértil da vida

Nicolas Behr

Viver é tirar as pedras do lugar. Recordar é tentar recolocá-las de volta

Manoel de Barros

A infância desses poetas-meninos é uma poesia que suaviza a vida de adultos de agendas cheias e raro tempo de brincadeiras. Nicolas Behr sabe bem desse estado de brincante. Talvez, por isso, mergulhe com tanta intensidade nesse rio da vida e volte ao tempo em que cortou o cerrado da Fazenda Amolar, cenário de sua infância, às margens da BR 364, km 596. Ali, morou entre 1959 e 1968, num Mato Grosso lúdico, com alegrias e tristezas passando à janela, como paisagem.

Como a chegada de uma filhote de ema, que, alimentada, cresceu forte e feliz nos arredores, comendo pedaços de pão ou de carne dados pelas crianças e devorando peças do brinquedos de plástico de montar coisas. Um dia, cães que acompanhavam uma boiada afugentaram o bicho de estimação e ela se machucou na cerca de arame farpado.

Sumiu por uns tempos. Certo dia, minha mãe a viu se aproximando da varanda da casa, lentamente, cambaleando e ali mesmo caiu morta (…), embaixo de sua asa, havia uma enorme ferida cheia de bichos. Ela voltou para morrer aos pés da pessoa que cuidou dela desde pequena (dar de comer a ema/tirando comida da boca do poema)

Nicolas Behr

Ema é um dos verbetes do “Dicionário Sentimental de Diamantino”, o mais novo livro de Nicolas Behr (o poeta de Brasília). Ele organiza as emoções da infância em verbetes numa obra sensível e cheia de lirismo. Há um frescor nessas lembranças. Parece que o Nicolas adulto e maduro entrou na tão sonhada máquina do tempo e voltou a colocar as pedras do rio no local onde antes corria como um menino curioso e traquino.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

As luzes dos faróis dos carros que passavam à noite em frente à casa da Fazenda Amolar, bem próxima à rodovia, iluminavam o meu quarto e do meu irmão Miguel. Quando as luzes passeavam pelas paredes dizíamos: Olha! Olha! Cinema! Cinema! Momentos mágicos! Cinema feito de luz nas paredes brancas, por onde passavam todos os dramas da vida

Nicolas Behr

Dramas como o de Antônia, moça que foi deixada pelos pais na Fazenda Amolar para que a mãe de Nicolas lhe ensinasse prendas domésticas. A menina que, um dia, pisou numa sucuri achando que era um tronco de árvore e deixou o menino com a cabeça fervilhante. Tempos depois, o irmão de Antônia voltou à Fazenda Amolar pedindo madeira para construir o caixão da menina-aprendiz. Ela havia se matado porque os pais eram contra o namoro com um vaqueiro.

O irmão disse a mamãe que ela tomou veneno de formiga, mas acredito que Antônia tenha se enforcado com um pedaço de pano ou numa corda, mais disponíveis que veneno naqueles rincões sertanejos esquecidos de Deus. Tantos dramas, tantas vidas

Nicolas Behr

O livro
“Dicionário Sentimental de Diamantino”, edição independente, cobre um micro-período (1958-1968) contando micro-histórias de uma microrregião: Diamantino antes da soja, vegetal que mudou a Reproduçãopaisagem da infância do poeta para sempre.

É o terceiro livro cujo tema é a cidade da qual Nicolas é Cidadão Honorário desde 2010. Os outros livros sobre a sua infância naquelas paragens são de poemas: “Menino Diamantino”, ilustrado pelos filhos do poeta, de 2003; e a “A Lenda do Menino Lambari”, com desenhos das crianças da Escola Municipal Castro Alves, do Assentamento Caeté, publicado em 2010.

Com belíssima capa criada exclusivamente pela artista plástica Dalva de Barros, (a maior artista plástica de Mato Grosso), o “Dicionário Sentimental de Diamantino”, de 176 páginas, é composto de 80 verbetes e 90 fotografias.

Lançamento livro Nicolas Behr
Nesta terça (11/10), às 18h, no Restaurante Xique Xique (107 Sul). Preço: R$ 30. Contato: paubrasilia@paubrasilia.com.br.

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