Em novos clipes LGBTs, Jojo tomba e Nego do Borel dá o close errado
Enquanto a funkeira põe a diversidade na passarela, o cantor parece zombar da comunidade
atualizado
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Dois astros da novíssima música brasileira, Nego do Borel e Jojo Maronttinni, lançaram clipes e colocaram fogo sobre representatividade LGBTQI+. Em ambos os trabalhos, a diversidade entra no centro do rebolado funk, que hoje movimenta cifras milionárias no país.
São dois ótimos funks no quesito empinar, mexer, descer e subir. No entanto, divergem sob o ponto de vista político. Enquanto Jojo Maronttinni tombou tudo com Arrasou Viado, Nego Borel deu o close errado em Me Solta.
Respeita a história do movimento LGBT
Jojo Maronttinni
Jojo Maronttini espanta o ranço dos oportunistas e encerra o clipe lançado no dia 12 de julho e visto imediatamente por 100 mil vorazes internautas. O recado é a chave para entender por que a musa da última estação mandou tão bem. Representatividade. Numa boate, desfilam a diversidade sexual enquanto canta o refrão “arrasou, viado”. Estão lá corpos negros, trans, femininos e gays.
Jojo divide os holofotes com a comunidade LGBT. Todos se tornam estrelas. Da musa gay Rita Cadilac ao homem trans Tammy, passando por gays midiáticos, como David Brasil. Ao colocar todos sob o mesmo holofote, a funkeira compartilha a fama (era esperadíssimo esse novo trabalho) com uma comunidade que, felizmente, não pode e nem vai ser mais invisível politicamente no Brasil.
A música tem coautoria de Anitta, maior estrela do funk brasileiro que sabe o poder do público para bombar suas canções
O clipe é político num momento que candidatos à presidência, como Jair Bolsonaro (PSC), tentam fisgar votos de eleitores ultraconservadores. O presidenciável tem como bandeira anular todas as conquistas pelo brasileiro LGBTQI+.
A coerência de Jojo ganha credibilidade ao comparamos ao trabalho Me Solta, de Nego do Borel, que, recentemente, fez cara de felicidade em fotografia ao lado da família Bolsonaro.
Nego do Borel decide homenagear o público LGBTQI+ depois de endossar a campanha de um dos atuais inimigos da liberdade e dos direitos humanos dessa comunidade. Além desse close errado, traveste-se de negra na favela sem colocar em debate a dor e o preço de se assumir como travesti negra nas comunidades. Uma sentença que, muitas vezes, culmina na morte.
Matam travestis no Brasil. Matam muito mais travestis negras no Brasil
O pior do clipe de Borel. Ele faz a performance com um certo ar de deboche. De quem está indo pular o carnaval de salto alto, vestidinho vermelho e batom, e pode fazer e acontecer porque tudo é permitido na folia momesca.
O clipe Me Solta seria outro se quem desfilasse pela favela fosse uma travesti preta e periférica. Também teria outro impacto se, em outra versão, estivesse ele como é, em seu corpo de homem negro. Tudo porque logo depois Borel vai dar um beijo num modelo branco. Do jeito que está, a cena ganhou mais sensacionalismo do que um ato político contra a homofobia.
Sem representativade LGBTQI+, o clipe Me Solta ganhou ares de caçador do “pink money” (termo para designar o dinheiro da diversidade), enquanto Arrasou, Viado soa com mais credibilidade, embora Jojo esteja faturando merecidos milhões. Um dos momentos mais fortes tem mães pela diversidade com as placas:
Tire o preconceito do caminho. Queremos passar com o nosso amor