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Dizer não à revisão da Lei do Silêncio é condenar Brasília à morte

Em trâmite na Câmara Distrital, a revisão da lei é uma urgência para que a cidade não perca a conexão com a força musical que brota do DF

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Paulo Caveira/Luara Baggi
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1 de 1 melanina – paulo caveira – luara baggi - Foto: Paulo Caveira/Luara Baggi

O que seria de Brasília sem a música?

A capital estaria condenada ao fardo de ser o centro do poder e carregar a sina de sustentar toda a lambança feita pelos péssimos políticos que o Brasil elege.

Em pouquíssimo tempo de existência, a música deu ao Distrito Federal o elixir da vida. O Brasil que antipatiza Brasília passou a olhá-la como um celeiro de talentos. Foram as novidades sonoras que, em primeira instância, borraram a burocracia, denunciaram a má-fé dos parlamentares e governantes e chutaram para o alto o tédio de se viver numa cidade-poder.

De repente, a Brasília deformada pela corrupção que aparecia no Jornal Nacional virou uma viçosa menina que corria pelas plataformas de concreto, agitava os bares das entrequadras e soltava vozes encantadoras nas cidades e no Entorno.

Criou-se uma expectativa nacional. Quem será o próximo talento a ser revelado por Brasília? A música, em tão pouco tempo, criou uma espécie de pertencimento à jovem cidade. Quando cheguei aqui em 2001, ouvia amigos dizer com orgulho:

Eu vi Cássia Eller surgir

Quantos estavam no bar Bom Demais, na Asa Norte, quando Cássia colocou a música popular pelo avesso?

Eram muitos e essas pessoas têm uma história única a contar.

Quantos viram o Aborto Elétrico aparecer no meio da rua para fazer shows?

Quantos foram ao show do Trovador Solitário, Renato Russo?

Quantos viram o rock virar brasiliense e os subsolos do Plano Piloto tornaram-se ninhos de vida?

Ah, pelo concreto passaram Ney antes de ser Matogrosso, Zélia antes de ser Duncan, Raimundo antes de ser Fagner. Por aqui surgiram Hamilton de Holanda, Roberto Corrêa, Ellen Olléria, Flora Matos.

Aqui, Tom & Vinicius viram inspiração num barulhinho bom da água de um rio compor um clássico, “Água de Beber”.

Aqui, Waldir Azevedo, o mestre de Brasileirinho, voltou a cantar depois de uma depressão.

Aqui, Oswaldo Montenegro misturou música com teatro.

Pelo concreto, a música abriu rodas de choro, que eram abrigadas em apartamentos e casas e deram origem ao templo Clube do Choro.

Somos muitos ritmos que balançam o concreto. O rap de Brasília fez e faz história. Não é possível falar da maturidade do hip-hop nacional sem clamar os versos de denúncia do Câmbio Negro e de toda uma geração nascida nas quebradas da Ceilândia.

Do Cruzeiro, desponta o samba brasiliense e suas mulheres negras pungentes. Eu posso dizer que já vi Dhi Ribeiro numa roda de samba do Cruzeiro Velho. Ao seu lado, estava Carlos Elias, um guardião do samba, bailando de felicidade.

A música brasiliense fez bem ao teatro da cidade, à dança da cidade, às artes visuais da cidade, à literatura da cidade, ao povo da cidade e à própria cidade

A música de Brasília precisa ser respeitada. Nós precisamos voltar a ter música nos bares, nas casas de shows. A Lei do Silêncio necessita ser revisada. Do jeito que ela se configurou, é como uma praga que avança pelo corpo-cidade e o amolece.

É preciso criar um consenso entre a justa necessidade de sossego do morador da superquadra com a vida que jorra no bar da nossa esquina inventada.

Dizer não à revisão da Lei de Silêncio é condenar Brasília lentamente à morte. É deixar Brasília nas mãos psicopatas dos maus políticos.

A arte é nosso antídoto e a música, o maior dos anticorpos

Revisar e ampliar essa lei é garantir vida a uma cidade combalida por escândalos éticos.

Queremos uma Brasília lúdica e musical. Queremos cantar

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