metropoles.com

Com clipe divertido sobre acarajé, rap baiano sai da invisibilidade

Com 22 anos de estrada, Simples Rap´ortagem faz uma crônica hilária sobre a importância do acarajé para o cotidiano baiano

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
simples raportagem
1 de 1 simples raportagem - Foto: null

No momento em que as estrelas da axé music disputam o pódio para coroar o hit do verão, o clipe “Bocada”, da banda de hip-hop Simples Rap´ortagem, circula em velocidade pelo WhatsApp e em compartilhamentos pelas redes sociais.

Divertidíssima, a música é uma crônica do cotidiano do baiano louco por acarajé, com direito ao icônico Dath Vader (da série “Stars Wars”), enfrentando a caráter uma fila para abocanhar o bolinho de feijão, patrimônio imaterial e símbolo da culinária local.

Capital baiana… Maior concentração de bocadas da América Latina. O comércio indiscriminado se expande e é sustento de centenas de famílias. Nas ruas, esquinas, nas praias… ao ar livre

Jorge Hilton
Que adianta proibir de vender?
Por acaso, existe vicio sem prazer?
Quando a crise de abstinência traz embaraço
Então caio de boca e me refaço
Dependência bacana
Patrimônio da culinária afro-baiana
Bola de fogo, Akara, sabe como é
Popularmente conhecido como acarajé
Comer de mão, no bocão, acalma
Se faz bem pro coração não sei, mas pra alma
Tem que saber comer pra repetir
Tá pra existir maior dilícia que isso aqui
O acarajé antropofágico voa por Salvador

 

Com uma pegada sacolejante, a música quebra com a melodia tradicional do rap nacional, que se concentra mais na narrativa das ideias do que na sonoridade. Simples Rap´ortagem faz fusões com as influências da black music e da levada baiana e caribenha. Transforma, assim, “Bocada” numa canção para baile de rua, quando, no clipe, salientes meninas baianas serpenteiam à frente das bancas de acarajé.

Preto Du e Jorge Hilton

Só na bocada, só na bocada
Coisa gostosa só se come na bocada
Só na bocada, só na bocada
Coisa gostosa só se come na bocada

O tom de comédia do clipe é a chave para o sucesso das redes sociais. No roteiro, um baiano viciado em acarajé abastece sua dependência de tabuleiro em tabuleiro, onde as filas desconhecem classes sociais. A dubiedade do vocábulo “bocada” é um dos charmes da canção. Bocada pode ser “quebrada da periferia” ou “abocanhada” firme e desejosa no bolinho que também mata a fome, com poucos reais no bolso.

O clipe tem um tom de documentário com depoimento de Cira, uma das celebridades do tacho de dendê.

O acarajé é feito para a querência de Iansã

Cira

A letra de Jorge Hilton é antropológica. Mostra como a iguaria tem resistido às adaptações e modismos culinários e evidencia a importância da tradição.

Integral, (como?) salada sem vertigem
Linhaça, azeite de oliva extra virgem
Mas o desejo de cair de boca
No quitute, deixa minha mente louca
Com caruru, xinxim, o povo inventa é arte
Tem até de soja – pra se vender em Marte
Não há mal, prefiro o tradicional
Quando é do bom, mesmo puro é fenomenal
A baiana não aceita cheque
Um bom acarajé, melhor que 10 Big Mac
Pela boca te conquista, deixa viciada
O segredo da paixão tá na bocada.
Sufocado pelo pagode, funk e pelas estrelas da axé music, o rap baiano luta para se tornar visível numa Bahia de um único som. Com mais de duas décadas de carreira, Simples Rap´ortagem é um grupo respeitado e reverenciado dentro do hip-hop nacional.  Em 2012, a banda teve uma experiência inédita. Subiu ao palco com Saulo, da banda Eva, e o tom político chamou a atenção da plateia acostumada com as letras fáceis.

“Bocada” é canção do segundo disco “Vinho de 20”. Surgida em 1994, Simples Rap´ortagem nasceu sob influência de grupos fundamentais do rap nacional como Os Magrelos (do DF). Passou por diversas formações. A atual tem os potentes Jorge Hilton e Preto Du nos vocais.

De fã à integrante, Preto Du afinou-se com Jorge Hilton para acelerar as rimas viscerais com pegada política. Juntos, levantam a bandeira da negritude, da periferia e da antropofagia cultural, como cantam na visceral música  “Vinho de 20”.

Tentando suingar como Marku Ribas
Tentando educar como Brecht, Paulo Freire
Rimar como rimaria Chaplin
Desconsertar como Saramago, Almodóvar
Black como o pai do rock e o rei do baião
Póstumo, como Itamar Assumpção
Posso ser tradição, Ticoãs, Caetano
Tipo um Rolling Stones do rap baiano
Multi, Mautner, Mestre Didi
Um Cheikh, estilo Anta Diop, Rita Lee
Que nem Bambaataa, escutando até de japonês:
“Não curtia rap até conhecer vocês”

Século XX já passou e eu cheguei agora
Situando quem tá por fora
Com um chip do futuro na memória
Cheguei pra balançar e quem sabe fazer história
Saiba mais sobre Simples Rap´ortagem (clique aqui)

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?