BR-TRANS traz recorte da vida de transgêneros ao Cena Contemporânea
O monólogo-sensação mobilizou público e crítica por onde passou. A peça é resultado de entrevistas com travestis e transformistas de Porto Alegre, algumas detentas
atualizado
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O século 21 tem um acerto de contas a ser feito com os seres humanos transgêneros. Só agora, o mundo desperta para importância de pensar uma política pública para travestis, transformistas e transexuais.
Da simples adoção de um banheiro próprio ao direito de usar o nome social, as legislações em países diversos movem-se lentamente para incluir esse complexo grupo numa sociedade essencialmente excludente.
Até a conquista de segurança, muitas vão morrer jovens, aliás, muitos jovens, pelo meio do caminho. São alvejadas pelo preconceito, pela ignorância e pelo descaso.
As discussões de gênero e de diversidade são recentes. A transexual ainda sofre essa batalha. Ainda estamos na luta para construir uma sociedade a-gênero, na qual devemos nos preocupar menos com o corpo e o desejo do outro e passarmos a acreditar no amor ao próximo. De Cristo pra cá, evoluímos pouco
O ator, diretor e dramaturgo Silvero Pereira fala com propriedade sobre um universo que decidiu explorar amiúde. Ele está a caminho de Brasília para integrar o Cena Contemporânea com o espetáculo “BR-TRANS”, em 30/8 e 31/08, no Sesc Newton Rossi. Trata-se de um monólogo-sensação que mobilizou público e crítica por onde passou. A peça é resultado de entrevistas com travestis e transformistas de Porto Alegre, algumas detentas.
“BR-TRANS” chega ao espectador de uma maneira assertiva sobre o tema de violência porque não se limita ao superficial, estereótipo ou clichê marginal do universo trans. Nesse trabalho, conseguimos verticalizar as questões na família, na educação e na religião, aprofundando a visão do outro para além do corpo e promovendo a identificação por meio da alma.
Monstro preconceituoso
No palco, Silvero mistura humor, música e tragédias inspiradas na vida de travestis, transformistas e transexuais de carne e osso. A narrativa mostra por que a maioria das travestis brasileiras não passa dos 35 anos. Monta um quebra-cabeça para identificar o algoz dessa violência que interessa a poucos. Faz o retrato falado desse monstro preconceituoso, articulado por uma cadeia de exclusão que reúne família, religião e Estado.
“BR-TRANS” é um recorte do Brasil. Não é um veredicto sobre a vida das travestis e transexuais. É apenas uma parte dessas histórias que percorre as veias dessa nação. Em Brasília, chegaremos ao coração, mas não é somente esse órgão que rege o corpo. É necessário percorrer para conhecer todo esse ser.
A peça tem sido vista por público diverso e curioso, que consegue transcender os estereótipos que carregam dessas personagens urbanas para um espaço de reflexão e afeto. No Rio, por exemplo, a produção mobilizou travestis da Lapa por meio da militante Luana Muniz. Das trans, os relatos que Silvero recolhe são de ter a vida representada no palco
A dramaturgia se fortalece na identificação da minoria excludente: negro, trans, pobre, idoso, deficiente. Toda e qualquer pessoa que sofre ou sofreu resistência por viver numa sociedade excludente acaba se identificando com o trabalho. É essa nossa abordagem. Somos todos iguais, só muda a forma como a sociedade nos trata por não seguirmos suas regras.
Acesse aqui a programação do Cena Contemporânea:
Assista a “BRTRANS” em vídeo