Beleza albina
Modelo, ativista e funcionário público, André Cavalli conta como fez para vencer o preconceito e as limitações físicas, como a subvisão
atualizado
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André Cavalli é um homem belíssimo. Essa constatação não é, exclusivamente, minha. É do mercado da moda e pode ser aferida em trabalhos que fez ao longo da última década. As imagens, que estamparam editais de beleza, publicidade e ensaio conceitual, rodaram o mundo e falam por si. O albino de 36 anos, atual funcionário do Tribunal Superior do Trabalho (TST), anda arrancando suspiros por aí. Mas nem sempre foi assim. Até entender que poderia se sentir desejado, André Cavalli, como todo ser diferente do brutal padrão de beleza, sentiu na pele o que é nascer num corpo incapaz de produzir melanina.
ANDRÉ CAVALLI – Desde criança, os coleguinhas não me compreendiam, estranhavam e não estavam preparados para lidar com um garoto albino. Depois, na adolescência, apaixonei-me por garotas que não corresponderam. O motivo de sempre, o albinismo.
Não é mesmo fácil ser albino e isso não tem a ver com o contraponto a padrões de beleza. O albinismo é uma deficiência que exige cuidados com a pele e se associa a problemas subsequentes, como a grave perda de visão. É lógico que o bullying e o preconceito afetam a autoestima e podem provocar danos maiores como a depressão. Nesse aspecto, André Cavalli teve sorte. Possui uma família especial.
ANDRÉ CAVALLI – Somos quatros irmãos e apenas a caçula não é albina. Na infância, havia um estímulo dos amigos dos nossos pais para nos levar às revistas infantis e à publicidade. Minha irmã Andreza, que hoje está no corpo de baile do Theatro Municipal de São Paulo, sempre foi a mais empolgada com essas possibilidades.
Albinos do meu Brasil
Aliás, foi de Andreza a ideia que mudou a vida dos irmãos albinos. Ela decidiu, ainda no tempo do finado Orkut, criar a comunidade “Albinos do meu Brasil” para conhecer os iguais. De repente, foi tanto albino chegando que eles fizeram descobertas inusitadas. A principal delas: há muitos tipos de albinos.
ANDRÉ CAVALLI – Tem albino que acha que é loiro e nem sabe que é de fato albino. Alguns não têm a visão subnormal.
Ao ficar diante dessa multidão virtual de albinos, André sentiu-se mais dono de si. Os convites para explorar a beleza começaram a surgir, a consciência de se gostar materializou-se. Ele e Andreza chegaram a fazer uma ponta no filme “Nina”, de Heitor Dália, e estão no belíssimo livro “Albinos”, do fotógrafo Gustavo Lacerda, cujas imagens viajaram o mundo.
Formado em Tecnologia da Informação, André Cavalli é um militante da causa albina. Acredita que suas fotos ajudam a diminuir diferenças e podem inspirar outros albinos. Luta também por uma política pública para o albino, sobretudo, os que não têm condições de comprar o protetor solar.
ANDRÉ CAVALLI – Sou albino e tenho orgulho de ser o que sou. A minha vida passa por essa condição. Não me consigo imaginar aqui e agora, conversando com você, neste metrô, sem ser o que sou.
ALBINOS GENIAIS