Bafo. Esfuziante, Allice Bombom completa 20 anos estudando Shakespeare, Brecht e Stanislávski

Quem viu a performance “Transparências”, com Allice Bombom, ficou literalmente bege. Nada de figurinos espalhafatosos, cores berrantes, leques nervosos e bordões do tipo “Se joga, bicha!” Todo o exagero que marca a concepção da drag queen mais badalada do DF deu lugar ao tom nude, num minucioso trabalho de corpo, composto por silêncios, gestos delicados e movimentos sinuosos, em diversos planos de altura.

A frente de um cortejo, ela conduziu grupo de atores que se relacionou com uma imensa escultura de gelo que derretia ao tempo, numa concepção e direção do ator e professor Túllio Guimarães.

Vou tentar explicar. Ali não é a Allice Bombom. É a Alice Bombom interpretando uma outra personagem feminina. Ela tem feito esse caminho de representação dentro da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Neste semestre, interpretou a própria Dulcina.

Alexandre Loyola

A criação do papel

A aparente confusão de papéis é facilmente resolvida por Alexandre Loyola. Ele assiste às aulas vestido de rapaz, mas ao longo do processo (tudo para Allice é um processo) decide quem vai subir ao palco: o criador ou a criatura,

Tenho controle sobre Allice. Se dependesse dela, hoje, eu era uma mulher, operada e com vagina implantada. Mas decidi ser Alexandre e dividir meu tempo com essa figura adorável.

Alexandre Loyola

Discreto professor

As aulas de teoria e prática de teatro têm dado a Alexandre ferramentas para burilar a quase indomável Allice Bombom. Ele conta que agora tem mais recursos para lidar com a personagem. Antes, era tudo mais intuitivo.

Atualmente, Alexandre dá aulas de artes para adolescentes em escola de Taguatinga. Em sala, mantém-se discreto, mas toda a direção sabe, e admira, Allice Bombom. Alguns alunos também viram “a louca” dando pinta numa festa diurna. Mas não há registro de bullying.

Para tudo!

Allice nasceu em 1995, quando Alexandre resolveu participar de uma festa na qual quem fosse de drag queen não pagava. Assim, em Taguatinga, veio ao mundo a personagem com o sobrenome Simpson. Na época, ele estava na labuta dos brigadeiros e era conhecido por passar a cestinha. Daí para virar Bombom foi um pulo.

Allice surgiu como uma drag muito louca. Quando chegou, foi sucesso total. Fazia produção com recicláveis, plásticos, espumas e até a esponja de Bombril. Ela nasceu estranha, nada glamorosa e muito esbaforida.

Alexandre Loyola

Só no leque

Não demorou para Allice se tornar a garota-propaganda dos bombons de Alexandre. Ele não tem noção da quantidade de chocolate que derreteu ao longo desses 20 anos. Ao lado dos shows de drag, deu até pra se tornar sócia de boate gay, que fechou.

Bombom foi ficando conhecida no mundo gay, madrinha de várias paradas pelo Brasil afora, Acre, Tocantins, Juazeiro do Norte, Ceará. Hoje, tenho a parada de Taguatinga, onde sou parte da liderança,

Alexandre Loyola

O futuro de Allice, o glamour da noite. O de Alexandre será os palcos, De cara limpa, ele se prepara para os desafios do bom ator: Shakespeare e Brecht, pois não. Tudo combinado com a agenda da toda-poderosa Bombom. Se não, o leque voa e “vrummm” na cara da sociedade.

Sou Allice Bombom com dois “eles” porque eu sou chique. Dona desse corpo cebola, que você olha e chora, meu bem. Se jogue, milhões porque a noite de Brasília é babado”  

Allice Bombom