metropoles.com

Atentado na UnB reabre a ferida das invasões da ditadura militar

Sem reflexão crítica e movido por ideologias fascistas, grupo que feriu a autonomia da universidade traz de volta um tempo de guerra e de dor

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
pqInvasao5
1 de 1 pqInvasao5 - Foto: null

Formado por homens e mulheres vestidos de preto e com bandeiras do Brasil presas ao corpo, um grupo de direita atentou contra a ordem democrática na Universidade de Brasília (UnB), na noite de 17.06. Xingava estudantes, pregava o ódio contra gays e negros e violava o território autônomo do campus, em nome, de um estatuto falido de superioridade racial, moral, econômica e social.

No espaço de livre circulação de estudantes, servidores e professores, essas pessoas pregaram a violência verbal e acionaram uma bomba caseira. Perderam, ali, o livre direito à manifestação do pensamento ao atentar contra o direito jurídico do brasileiro de ser resguardo pela Constituição acima de qualquer ideologia de supremacia, base do discurso fascista.

Sem noção histórica

Entre uma palavra e outra contra gays, negros e manifestantes de pensamento político contrário, ergueu-se a exaltação à ditadura militar, como uma força capaz de pôr ordem num Brasil reprovado politicamente pela Justiça. Sem nenhuma noção histórica dos fatos e destituídos de qualquer pensamento críticos, esses homens e mulheres, como robôs programados, acionaram a memória ferida da UnB, instituição violentamente descontruída durante as duas décadas de golpe militar.

Um ano depois do golpe de 1964, a UnB tinha sido invadida por duas vezes, professores e estudantes presos e demitidos. Todo o projeto de construção de um modelo de ensino transversal e inovador estava esfacelado. Diante do descalabro, 223 dos 305 professores se desligaram do quadro em 1965.

O pior dos dias
Imediatamente, o ataque de 17.06 reabre uma fenda no coração de Brasília. Vem à mente o pior dos dias: 29 de agosto de 1968, quando a ditadura prendeu o estudante Honestino Guimarães e transformou a quadra de basquete numa espécie de campo de concentração.

Naquela manhã, um comando de tropas descomunal formado por pela Polícia Militar, Polícia Civil, Exército e agentes do Dops fechou todos os acessos à Universidade. Bombas de gás lacrimogêneo, carro incendiado, violências físicas, verbais e prisões por toda parte interromperam a rotina acadêmica.

Campo de concentração


A repressão invadiu laboratórios, destruiu equipamentos, arquivos e mostras de pesquisa. Há fragmentos dessa barbárie no filme “Barra 68”, de Vladimir Carvalho, com cenas captadas heroicamente pelo estudante Hermano Penna.

Aos poucos, formou-se uma fila de centenas de estudantes detidos, com as mãos atrás da cabeça, levados, no sol da seca, para a quadra de basquete. Ali, passaram por triagem, humilhações e perda do estado de direito. Foram apreendidos 500 estudantes na quadra. Sessenta deles, foram presos

Com o estado democrático tombado pela ditadura militar, não havia como se defender. Agora, mergulhados em delicado processo de instabilidade político e democrático, não podemos permitir ações como essa do dia 17.06.  É preciso identificar um a um desses defensores da volta da barbárie para que sejam responsabilizados. Caso contrário, grupos similares se acharão no direito de violentar brasileiros que pensam diferente. Só isso pode estancar o fio de sangue que voltou a escorrer no campus da UnB,

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?