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Adeus ao mestre Badia Medeiros, um ás da viola caipira

Um dos grandes nomes da cultura popular brasileira, mineiro exerceu forte influência em instrumentistas contemporâneos, como Roberto Corrêa

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Viola Correa/Divulgação
1 de 1 - Foto: Viola Correa/Divulgação

O som da viola do mestre Badia Medeiros era a mais pura expressão de amor. Quando os dedos ponteavam as cordas do instrumento, o rosto dele se abria em um sorriso genuíno. Era festa. Foi assim que, em agosto deste ano, ele subiu no palco da Caixa Cultural de Brasília, numa participação especialíssima no show-cênico de Roberto Corrêa. Dançou catira, cantou e fez o público querer saltar das poltronas.

O som da viola me deixa alegre, satisfeito, abre meu coração

Badia Medeiros

Morto por ataque cardíaco aos 78 anos de idade, no começo deste mês, Badia Alves Medeiros era capitão das folias de Reis e do Divino, dançador de catira e lundu e tocador de viola de mão cheia. Morador de Formosa, estava sempre em Brasília, sobretudo pela ligação profissional e afetiva com Roberto Corrêa.

“Badia Alves Medeiros foi um grande artista. Ligado às tradições populares, sua expressão aliava arte e devoção. Violeiro, Badia muito nos ensinou. Foi uma grande honra termos convivido com ele e desfrutado de sua amizade. Que sua família, amigos e amigas encontrem conforto. Estamos de coração partido”, lamentou Roberto Corrêa,

Tocador de muitos instrumentos (cavaquinho, violão, sanfona pé-de-bode e acordeon), o mestre, menino nascido em Unaí (MG), encontrou na viola caipira a razão de ser e estar no mundo. Com 9 anos de idade, namorava a viola de cravilha de madeira do pai.

O velho morria de ciúmes. Ninguém podia mexer com a sua pequena joia. De tanto olhar para o instrumento, foi liberado para tocar no que lhe encantava. Um dia ele liberou. Disse: “Parece que ocê fica com vontade de pegá a violinha. Pega”.

A violinha nem corda tinha. Pedi pro padrinho comprar as cordas. Aí, fui cuidando, pelejando, até que aprendi

Badia Medeiros

Com 10 anos, Badia tocava na festa do Divino. Com 16, chorava a viola e a sanfona nas Folias de Reis. Cresceu nas celebrações religiosas e se tornou guia desse patrimônio imaterial da cultura brasileira. Misturando religiosidade e diversão, fez da viola a sua forma de se comunicar com o mundo.

É como uma criança que aprende a falar papai

Badia Medeiros

Ali, desenvolveu a catira e o lundu, danças sapateadas que acompanham essas festanças. Em agosto, mostrou esses passos no palco da Caixa Cultural. São danças de movimentos marcados com pés e mãos, nas quais cabem o improviso, enquanto as modas de violas animam as rodas.

Com o parceiro Nego de Brito, ultrapassou a festa para se tornar uma referência nas modas cantadas. Eram cantigas que falavam do modo de vida. No livro Tocadores, Homem, Terra, Música e Cordas, de Lia Marchi, Juliana Saenger e Roberto Corrêa, há um registro da letra de uma dessas melodias.

Eu tava com treze anos
Foi quando eu fiquei sem pai
Sinto uma dor no meu peito
Quero tirar mas não sai
Eu caço distraimento
Pra ver se assim me distrai
Parece uma dor que eu sinto
Fico gemendo ai, ai, ai

Ao lado dos violeiros contemporâneos Paulo Freire e Roberto Corrêa, o mestre conseguiu registrar a sua arte em dois trabalhos tidos como primorosos pela crítica especializada: Esbrangente (2003) e Badia Medeiros – Um Mestre do Sertão (2004), ambos do selo Viola Corrêa. Com os dois geniais aprendizes, experimentou entrar no circuito de shows em teatros de programação cultuadas, como Caixa, Sesc e Itaú Cultural. Também esteve no meio acadêmico, ensinando os mistérios da viola e do lundu e foi objeto de estudos em projetos culturais, como o Acervo Origens, de Cacai Nunes.

Seu Badia partiu. Encantou-se. Muito amor por esse grande homem

Paulo Freire

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