A TV Macho está com os dias contados
Violência de Marcos contra Emily causou a eliminação do participante e mostrou a força das redes sociais na luta por uma tevê mais humana
atualizado
Compartilhar notícia
Na década de 1980, o machão Zeca Bordoada, interpretado magistralmente por Guilherme Karam, ironizava o menosprezo à mulher na tevê brasileira. De lá pra cá, atrocidades aconteceram: da modelo que virou prato de sushi no “Programa do Faustão” ao estupro de uma das participantes do “Big Brother Brasil”. Tudo repercutindo negativamente na velocidade de cada tempo.
Uma semana depois do machão José Mayer ser enquadrado pela TV Globo a partir da campanha nacional #MexeuComUmaMexeuComTodas contra os assédios moral e sexual dirigido à figurinista Su Tonani, outro programa da emissora vira escândalo por violar o corpo feminino.
O “Big Brother Brasil”, que por diversas vezes virou caso de polícia, volta ao noticiário negativo por violentar física e psicologicamente uma participante. A pressão para que o participante Marcos fosse punido por agredir Emily foi tamanha nas redes sociais (ele foi desclassificado nesta segunda, 10/04), indicando que a “TV Macho” possa estar, felizmente, com os dias contados.
Diante da militância digital, não há mais espaço para que a tevê reproduza e estimule a violência contra a mulher, o negro, os gays e quaisquer que sejam as minorias e continue impune. Esses programas, aliás, pairam como caquéticos dentro de uma grade de programação que cada vez mais afinada para o marketing social.
Atrações, como o “BBB17”, podem render até milhões de lucro, mas promovem uma enxurrada negativa de protestos que pode afastar patrocinadores em temporadas futuras
Não à toa, “Amor & Sexo”, “Tá No Ar” “Mister Brown” e “Zorra Total” alcançam cada vez mais a adesão do público por combater os estereótipos que habitam a zona caquética de programação da TV Globo. São considerados, hoje, o suprassumo da grade. Melhores do que muitas novelas.
O novo e o velho, o delicado e o grotesco e o alienante e o libertador são dicotomias que coexistem hoje na grade de programação da maior emissora de tevê brasileira. O que parece, para alguns, como esquizofrênico, é, na verdade, um espelho da sociedade de transição que se atrita nessas primeiras décadas do século 21.
Estamos no cotidiano lidando com essas diferenças tão extremas. Vozes desesperadas que se levantam contra a força do movimento das minorias soam como se fossem desgastados reality shows, que exibem mulheres e homens como se estivéssemos diante de um zoológico ilógico
A TV Globo se ajusta, sob pressão, a essa mudança de perfil da sua audiência, hoje não mais aferida só pelos aparelhos do Ibope, mas pelo comportamento das redes sociais, cada vez mais politizada e mobilizadora.
“A Lei do Amor”, por exemplo, foi uma das novelas mais misóginas, sexistas e machistas dos últimos tempos. O ódio contra a mulher era encenado capítulo a capítulo. Amargou não só números de audiência humilhantes como virou centro de atenção do escândalo de José Mayer, mostrando o quando a trabalhadora feminina é massacrada nesse contexto de fama e poder.
Essa pressão real e diária de uma parte da população que não aguenta mais ser humilhada seja em reality shows seja nos folhetins indica que a “TV Macho” pode sair do ar antes do que imaginávamos. Mesmo se quiser manter programas bizarros, como o “BBB”, terá que ter agilidade e inteligência para agir antes da pressão das redes sociais.
Pela segunda semana consecutiva, vemos a TV Globo a reboque dessa opinião pública qualificada, formada, inclusive, por suas artistas femininas, que entendem o papel de mulher em tempos tão delicados.
Em vez de correr atrás e corrigir o que está sendo feito de errado, a emissora terá que implantar um arrojado sistema de prevenção de danos. Caso contrário, corre o risco de perder cada vez mais uma audiência que não quer mais ser humilhada na sala de estar de sua casa. E ainda mais depois da nota nacional divulgada no caso José Mayer, na qual, a empresa diz