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10 rocks para exorcizar o fantasma da intervenção militar

Canções jovens para embalar uma juventude que deixou de sentir tesão pela liberdade

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Aborto Elétrico
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Nestes dias de caos e desabastecimento, uma imagem desoladora invadiu o cotidiano dos brasileiros: grupos, com faixas, pedindo a intervenção militar. Dentre eles, jovens. Nas redes sociais, alguns posts de meninas e meninos cometeram atrocidades com a história do Brasil e declararam-se enfaticamente apoiadores de um legítimo retrocesso democrático.

É muito estranho testemunhar a juventude desejar, como utopia, a falta de liberdade. Entendo os jovens anarquistas que querem anular o voto. Os que protestam não comparecendo as urnas. Os que apoiam ideologias conservadoras. Mas é quase inatingível imaginar uma garotada que quer simplesmente obedecer a um poder central e cerceador.

Alguns são universitários. Passaram por uma academia incapaz de exercer uma educação crítica e reflexiva sobre os malefícios deixados pela ditadura militar

Não há uma justificativa lógica capaz de sustentar o pedido de intervenção das Forças Armadas num país democrático, por pior que seja a situação desta nação. O que deve mover a aparição desse “fantasma atroz” só pode ser a desesperança. É não ter mais a capacidade de sonhar com o país capaz de se reerguer do fosso em que se encontra pela escolha consciente da maioria diante das urnas.

E jovens que se negam a sonhar com “o poder que emana do povo” é outra contradição conjuntural desse Brasil cambaleado e maculado pela corrupção do sistema político partidário

E para exorcizar esse espectro errático da “intervenção militar”, evoco 10 canções do punk-rock nacional que se colocaram diante do sistema repressivo que ainda ecoou pelos anos 1980, como um fantasma cambaleante.

1 – A Censura (Plebe Rude)

Nessa canção, a Plebe Rude escancara o cruel sistema de censura que amordaçou o país, sobretudo, a partir da publicação do Ato Institucional 5 (1968 – 1978). A censura seguiu viva nos anos 1980. Uma curiosidade: nessa canção, a frase “Jardel com travesti, tesoura e bisturi”, refere-se ao corte da cena do filme “Rio Babilônia”, em que o ator Jardel Filho contracena com uma travesti em nu frontal.

Nada para ouvir, nada para ler
nada para mim, nada pra você
nada no cinema, nada na TV
nada para mim, nada pra você

2 – Veraneio Vascaína (Aborto Elétrico/Capital Inicial)

A banda mítica de Brasília, que se desdobrou em Legião Urbana e Capital inicial, emplacou um hino contra as implacáveis forças policiais do período militar, estigmatizadas pela violência da abordagem e a prática do extermínio na calada da noite. A música logicamente foi proibida e, quando posteriormente regravada pela banda Capital Inicial, censurada para maiores de 18 anos.

Cuidado pessoal lá vem vindo a veraneio
Toda pintada de preto branco e cinza e vermelho
Com números do lado e dentro 2 ou 3 tarados
Assassinos armados uniformizados

3 – Brasil (Detrito Federal)

Uma das melhores bandas da era de ouro de Brasília, Detrito Federal fez uma das mais contundentes canções do cenário punk-rock. Sem se “vender” ao sistema massificador que tomou conta da cena, amenizando as críticas no “Cassino do Chacrinha”, o grupo fez a antológica música “Brasil”, um desses socos críticos ao processo negociador da democratização, que absorveu, por exemplo, os torturadores e colocou democratas e militares de mãos dadas.

Se elege o presidente militar parlamentar
Na realidade tudo é desculpa
Para um idiota que não sabe governar
Do Oiapoque ao Chui o Brasil foi colonizado
Pelo BID, e o FMI, pelo BID e o FMI

4 – Somos Milhões (As Mercenárias)

O lendário grupo de punk feminino, liderado por Sandra Coutinho, fez canções marcantes sobre as heranças do Brasil pós-ditadura militar. Nessa canção, questiona o poder do povo fragmentado nas ruas e sem senso crítico.

Nosso trabalho sustenta esse jogo
Somos milhões e vivemos a parte.

5 – Retrocesso (Ratos do Porão)

A música de 1979 começava com um daqueles jingles ufanistas da Era Médici para seguir com a porrada punk, anunciando o risco da volta da ditadura militar: Desde daquela época, o grupo questionava a falta de amadurecimento político e enfrentamento do povo aos anos de ditadura.

Cuidado com o poder do regime militar
O tempo vai retroceder
O DOI-CODI vai voltar no
BRASIL, BRASIL, BRASIL

6 – Miséria e Fome (Os Inocentes)

Os Inocentes mergulharam numa canção de forte cunho social, mostrando a face do Brasil injusto, do campo versus a cidade, do direito à terra e à moradia. Antecipam as bandeiras sociais, hoje, uma das causas que movimentam e esquentam corações jovens.

É tão difícil entender como homens armados
Expulsam outros homens das terras em que
Eles nasceram e se criaram,que são deles
Por direito para lá plantarem nada…nada…

7 – Alvorada voraz (R.P.M)

Quando surgiu arrebatando corações com a figura de bom moço de Paulo Ricardo, O R.P.M trazia, em seu repertório, uma canção fortemente política, que falava de escândalos de corrupção engavetados e sobre o silenciamento da tortura.

Juram que não
Torturam ninguém
Agem assim
Pro seu próprio bem
Oh!…

8 – Mosca na Sopa (Raul Seixas)

Para não dizer que não falamos nos anos 1970, Raul Seixas, o pai do rock nacional, satirizou os censores e o sistema voraz de enfrentar às artes com uma canção de resistência e diversão.

Eu sou a mosca que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca que pintou pra lhe abusar

9 – Códigos (Plebe Rude)

E Plebe Rude merece um bis nessa lista com a inteligente Códigos, que começa a ser cantada do ponto de vista de um general, aquele que ri de quem resolve segui-lo sem saber que o caminho é de profunda alienação.

Eu decido o seu futuro
eu e os meus fuzis
minhas normas determinam
seus direitos civis
Estou rindo de você
Estou rindo de você
o seu direito é me obedecer

10 – Sim Chambord (Camisa de Vênus)

O rockabilly do Camisa de Vênus incomodou profundamente os militares, que chegaram a censurar o clipe. A divertida canção era um soco no estomago da ditadura militar do ponto de vista de quem viu um Brasil acender para a liberdade com João Goulart e, na sequência, ficou diante do silêncio imposto à força pelo golpe militar de 1964.

Mas eis que de repente, foi dado um alerta
Ninguém saía de casa e as ruas
ficaram desertas
Eu me senti tão só, dentro do
Simca Chambord

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