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10 espaços culturais que Brasília nunca vai esquecer

Boates, teatros e restaurantes que fizeram o brasiliense trocar a noite pelo dia

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teatro Rolla Pedra
1 de 1 teatro Rolla Pedra - Foto: null

Brasília é uma capital de pouco mais de meio século, mas com as feridas de ser uma cidade em movimento. Por motivos diversos, vimos a capital ter espaços culturais, que desafiavam o pacato cotidiano, serem fechados. Cumpriram, talvez, o papel histórico de travestir de urbanidade os ares bucólicos do Planalto Central. Estão nas lembranças dos que viveram e respiraram a energia da vida noturna, como o Teatro Rolla Pedra, em Taguatinga, numa foto registrada por Ivaldo Cavalcante.

Metrópoles elegeu 10 lugares que nunca o brasiliense vai esquecer.

1) Galpão e Galpãozinho – Os teatros multiusos funcionavam onde hoje é o Espaço Cultura Renato Russo, na quadra 508 Sul, em obras de restauração. Nos anos 1970 e 1980, foram de intensa ebulição cultural. Por ali, espetáculos marcantes, como “O Último Rango”, do saudoso J. Pingo, tiraram a cidade do marasmo. Nessa montagem, Renato Russo fazia uma participação como ator-músico-performer e, ao final, era servido um sopão para os moradores de rua que habitavam a ainda não decadente W3 Sul. Funcionou de 1973 a 1986, quando passou pela primeira reforma. Nunca mais teve a mesma importância cultural.

2) Boate New Aquarius – Primeira boate gay de Brasília responsável por tirar do armário gerações de brasilienses. Ficava no Conic e marcou a liberdade sexual na capital tomada pelo poder militar. Em 1974, o baiano Oswaldo Gessner abriu o Aquarius American Bar e encheu de glitter o Setor de Diversões Sul, com shows de transformistas à la teatro de revista. Virou boate e recebeu as divas Rogéria, Greta Star, Claudia Celeste e Elke Maravilha. Lá, teve o show de Erick Barreto, maravilhoso, homenageando Carmen Miranda. Ah, muitos viram Renato Russo azarando na pista.

Divulgação/FIC
Cine Academia: programa-cabeça de domingo

Academia de Tênis – Nos anos 2000, cinema cult, no domingo, era na Academia de Tênis. Filmes alternativos, os europeus e iranianos, sobretudo, movimentavam grupos de amigos chiques, que enchiam o foyer cafona, todo recoberto de tapete de mil novecentos e bolinha. O Festival Internacional de Cinema provocou maratona para ver quem via mais filmes-cabeças. Era comum, o cinéfilo esticar o tempo no café e encontrar políticos e artistas hospedados, como os da era Lula. Uma casa de espetáculos trouxe grandes shows e musicais. Depois, todos corriam para os restaurantes de comida internacional para o inevitável tricô crítico.

4) Cine Atlântida – Perdemos o suntuoso cinema do Conic para uma igreja neopentecostal no período avassalador, onde os cinemas de shoppings esvaziaram as salas e vorazes empreendedores da fé compraram espaços tradicionais país afora. Era a maior sala do DF, com 1.200 lugares. As grandes estreias aconteciam por lá, como a série anual da saga de “Os Trapalhões” e os arrasa-quarteirões do cinema nacional e internacional. Quem viu “Dona Flor e Seus Dois Maridos” lá é um privilegiado. Foi vendido em 1995 por uma transação estimada em R$ 6 milhões, isso depois de 25 anos em atividade. Agora, é possível entrar nele, mesmo desfigurado pelo culto religioso, para entender a sua grandiosidade. Recomenda-se uma tarja preta para não se deprimir.

5) Teatro Rolla Pedra – Nos anos 1980, o punk-rock comeu solto em Taguatinga Centro, no Teatro Rolla Pedra, que abrigava outras linguagens artísticas como o teatro e as artes plásticas. O espaço era comandado por grupo de professores, entre eles, Zé Fernandes, que virou hoje profissional de referência em equipamentos de iluminação para shows. Tinha um clima de garagem de portas abertas, onde bandas ensaiavam livremente durante o dia e tocavam o terror à noite. Por lá, passaram Legião Urbana e todo o leque de grupos que, juntos, sacudiram a poeira da nova capital. Hoje, é uma inacreditável e pacata pizzaria.

6) Boate Zoom – A boate do Gilberto Salomão está na memória da juventude brasiliense dos anos 1980 numa parceria com Chico Recarey, o então rei das noites cariocas. A inauguração foi em 9 de maio de 1986, numa festa com presença VIP de Roberta Close, Xuxa, Pelé e Luiza Brunet.

A pista pegava fogo ao som do disc-jóquei Ricardo Lamounier. Shows e desfiles de moda diversificaram a agenda do espaço. De Kid Abelha à Banda Reflexu´s, de repente, tudo era possível na Zoom.

7) Bom Demais – Entre os anos 1980 e 1990, Cristina Roberto comandou o bar na 706 Norte, com música ao vivo que teve seu auge com a descoberta de Cássia Eller. Nas noites de quintas, as imediações ficavam lotadas para ouvir a moça (nem todos conseguiam vê-la no palco) interpretar uma mistura inusitada de rock e MPB alternativa, com muito Itamar Assumpção na veia. Zélia Cristina, hoje Zélia Duncan, também pintava por ali. O espaço caiu nas graças de artistas e intelectuais da cidade.

8) Balaio Café – Vítima na nova Lei do Silêncio, que inviabiliza a noite musical de Brasília, o Balaio Café fechou deixando um vácuo de atividades criativas na 201 Norte, com espaço para festas, exposições, cineclube, performances e ponto de leitura. Fechou as portas em 2015, nove anos depois de marcar culturalmente a cidade.

“Cabaré das Donzelas Inocentes”, no Espaço Mosaico

9) Espaço Mosaico – Elegante e acolhedor, o Espaço Mosaico mudou a rotina da 714/715 Norte com atividades culturais intensas, como festival de teatro e de música dentro da quadra. Cada cantinho do espaço era cuidado com zelo impressionante e o público era recebido pela gata Dulcina. Como diretor e dramaturgo, apresentei dois espetáculos no aconchegante subsolo: “Cabaré das Donzelas Inocentes” e “Eros Impuro”.

10) Gate’s Pub – Com espaço para shows e festas marcantes, o Gate’s Pub foi inaugurado em 1978 e ganhou fama nos anos 1980, quando abrigou um qualificado repertório de blues, jazz e rock. Nos anos 2000, a Quarta do Vinil, noitada descolada para todas as tribos, provocava filas enormes congestionando a 403 Sul, numa ferveção que só acabava quando o sol da quinta-feira raiava sob a não mais pacata Brasília.

 

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