10 curiosidades sobre o disco As Quatro Estações, da Legião Urbana
Em 2019, álbum completa 30 anos como um marco na carreira da banda liderada por Renato Russo
atualizado
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O ano de 1989 foi de libertação para Renato Russo. Há 30 anos, ele se livrava de amarras sexuais e se entendia como livre para assumir os seus desejos. É um tempo de “morte” para a Legião Urbana. O protesto mais seco cede lugar às reflexões existenciais e metafóricas. Nascia assim As Quatro Estações, o disco mais vendido do grupo, o que o lançou o grupo ao topo da popularidade. Uma obra-prima.
Foram 2,6 milhões de cópias vendidas e uma coletânea de singles, tocados à exaustão nas rádios e nos programas de tevê. Numa mesma guinada, o disco representa também o ápice do grupo e uma profunda mudança estética na sonoridade e no repertório.
O disco é uma quebra – a mais relevante quebra de paradigmas da banda
Mariano Movatto, autor do livro As Quatro Estações
O disco fala de amor em sua essência, do carnal até a mais sublime. Lançado em outubro, o álbum fez nação cantarolar os versos pulsantes de Pais e Filhos, entoando em coro refrões poéticos. Havia uma maturação explícita no trabalho da banda, agora firmada no trio Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.
Para destacar essa obra, o Metrópoles destacou 10 curiosidades de As Quatro Estações:
1. Quatro Estações marca a quebra da Legião com o território Brasília, sua geografia e esfera de poder. Renato Russo está agora mergulhando no universo holístico e existencial.
2. Legião Urbana entrou em estúdio depois da desgastante turnê de Que País É Este? Havia ainda a recente saída do baixista Renato Rocha por desentendimentos com o grupo. No ar, a urgência de reconciliação. A partir da turnê, Fred Nascimento (guitarra rítmica e violão), Bruno Araújo (baixo elétrico) e o produtor musical Mu Carvalho (teclados) entraram como instrumentistas de apoio.
3. Pais e Filhos é uma canção de dor. Renato Russo não gostava que fosse interpretada em tom festivo, sobretudo, no refrão. Fala do suicídio da garota que se jogou da janela do quinto andar e dos desencontros entre as gerações. Renato dizia que não conseguia ouvir duas vezes e a comparava a Índios.
4. A canção Feedback Song for a Dying Friend foi feita em homenagem a Cazuza, que tinha anunciado ser portador do vírus HIV. Renato viria a saber, meses depois, que também tinha a doença. Renato chegou a fazer a letra em português antes de compor em inglês. Chamava-se Rapazes Católicos. Dessa versão rejeitada, só sobrou a base instrumental.
5. Millôr Fernandes traduziu para o português a letra de Feedback Song for a Dying Friend. A composição foi feita em inglês por Renato Russo e impressionou Millôr por um jogo shakespeariano. A tradução veio impressa no encarte do álbum.
6. Monte Castelo é uma canção espiritual, inspirada nos poemas I Coríntios 13 e Soneto 11, de Luis de Camões. A canção foi bem-recebida em Portugal, país que acolheu a turnê do álbum de casa cheia.
Às vezes essas músicas refletem um momento da minha vida que eu não gosto de lembrar mais
Renato Russo
7. A canção Meninos e Meninas era o grito de liberdade de Renato Russo e de toda uma geração abafada pelo preconceito. “Quero me encontrar, mas não sei onde estou / Vem comigo procurar algum
lugar mais calmo / Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita / Tenho quase certeza que eu não sou daqui. A música indica o que virá com o álbum de tributo gay Stonewall Celebration Concert, de 1994.
8. No tema 1965 (Duas Tribos), Renato Russo se enche de referências para fazer uma das suas melhores canções de protesto. “Mataram um menino / Tinha arma de verdade / Tinha arma nenhuma / Tinha arma de brinquedo”. Renato usa referências da infância como as miniaturas de aviões do fabricante Revell, o tão sonhado autorama, o universo lúdico e violento de Hanna-Barbera e o jogo “pera, uva e maçã”.
9. A música das músicas mais lindas do disco tem um título gigante. São 34 letras para Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto para a canção dona de uma das estrofes mais lindas da MPB: “Tudo é dor / E toda dor vem do desejo / De não sentirmos dor”.
10. Na contracapa do disco, há uma enigmática frase de Renato Russo: “Alguns erros são de propósito, outros não”, num texto cheio de referências a líderes religiosos. A frase é chave para entender essa obra-prima, que nasce de algumas dores e muitas alegrias.