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Sexo, violência e “Game of Thrones”

Se você ficou incomodado ou incomodada com uma cena de violência em “Game of Thrones”, parabenize-se. Estranho seria se você achasse normal

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Divulgação/HBO
Sansa
1 de 1 Sansa - Foto: Divulgação/HBO

Atenção: este post discute livremente Spoilers de “Game of Thrones”

“Game of Thrones” estreou na HBO em abril de 2011 e desde então divide os fãs. Na maioria, sobre a quantidade de violência sexual nos 50 episódios já exibidos da história sobre a batalha pelo trono da terra mística de Westeros. Inúmeros críticos e blogueiros já apontaram para diversos momentos da série e disseram: “Deu! Deu por hoje! Deu de história!”, revelando que ficaram tão ofendidos por certa cena que simplesmente não assistirão mais.

Pois estou aqui para tomar a posição oposta: a série está incomodando porque está fazendo direito. Em Westeros, as consequências dos atos de seus personagens repercutem. Que a nossa civilização hoje reconheça esses atos como bárbaros não nos torna isentos de avaliar os problemas históricos da humanidade.

Poder medieval
“Game of Thrones” se passa num universo claramente inspirado em lendas medievais. Tempos estes em que ser mulher já bastava para ser violentada. Confesso não ter dados sobre essa época, mas considerando que 52% das mulheres hoje sofrem assédio no trabalho e que, só no metrô de São Paulo uma queixa de assédio sexual ocorre a cada 48 horas, imagine como era a situação lá em 1500.

Consideremos a cena mais problemática da quinta temporada. Sansa Stark, que em episódios anteriores já tinha conseguido fugir de duas outras tentativas de estupro, se casa com Ramsay Snow, o personagem mais diabólico da série. Já era de se esperar que o psicopata que mata quem bem quiser e que castrou e escravizou seu antigo amigo iria demandar o que ele chamaria de seu “direito nupcial” com a esposa:

É uma cena terrível, e vários blogueiros disseram ser a gota d’água. O site feminista Mary Sue relatou que não faria mais posts sobre a série. A colunista do jornal inglês “The Guardian” também. (Para um relato mais completo da revolta, leia este artigo do Huffington Post).

Violência explicita
Cabe a mim a tarefa ingrata de tentar explicar por que não acho que essas cenas devem ser interpretadas como má-fé e preconceito dos criadores. Creio que “Game of Thrones” existe em paralelo com a revolução feminista, junto com #meuamigosecreto e #meuprimeiroassedio.

E nessa época, mais do que nunca, a violência sexual tem de ser revelada como a coisa monstruosa que é. “Game of Thrones” não vira a cara, não se contenta com metáforas visuais e não esconde as consequências dos atos de seus personagens. Mostra tudo pelo que é.

Se você ficou incomodado ou incomodada com uma cena de violência em “Game of Thrones”, parabenize-se. Estranho seria se você achasse normal. Ou aplaudisse. Parece que estou falando uma obviedade, mas quantas séries na televisão mostram assassinatos sem sangue? Gente morta sem consequência? Quantas personagens enfrentam um contexto em que são meros objetos sexuais? Este contexto está escrachado ou oculto?

Mostrar comportamentos no meio audiovisual, seja cinema, TV ou internet, não significa apoiá-lo. É necessário avaliar o que esse ato representa dentro da obra.

O papel de cada um
Se observarmos bem as histórias dos vários personagens de “Game of Thrones”, cria-se uma diferença entre os que são “do bem” e os “do mal”. Homens do bem: Nedd Stark, Tyrion Lannister, Jon Snow, Samwell Tarly e Robb Stark. Homens do mal: Jaime Lannister, Ramsay Snow e Joffrey Baratheon. Os dois grupos têm uma distinta diferença: os do bem não estupram ninguém.

Quora

Tyrion até casou com Sansa, mas não a obrigou a nada. Divorciaram-se com a virgindade de Sansa intacta. Os criadores criaram a mesma circunstância entre Sansa e Ramsay, mas este, por ser claramente caracterizado como malvado, a violentou. Outro personagem que comete violência sexual é Khal Drogo. Embora os fãs o amem, ele é prontamente provido de uma morte inglória.

Claramente, “Game of Thrones” isola a violência sexual para seus personagens mais diabólicos.

Isso tudo não é pra dizer que os programas de TV têm de ser patrulhados. Seria um desastre e uma hipocrisia, até porque acredito que criadores de histórias devem ter à mão o máximo de liberdade artística possível. Quem não quiser assistir não precisa. Apoio “Game of Thrones” por ela revelar a violência como realmente é: injusta e aterrorizante. Além disso ela pode atingir qualquer um, mesmo as pessoas que amamos e por quem torcemos. Se deixa o espectador desconfortável, só tenho a agradecer.

A sexta temporada de “Game of Thrones” estreia neste domingo (24/4) na HBO.

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