“Sense8”: entre a diversão e a questão do ser humano fragmentado
A segunda temporada da série acerta em trazer mais ritmo à narrativa, mas peca por exagerar nas características positivas dos personagens
atualizado
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Em 1992, Stuart Hall afirmou que o homem da atualidade estava se fragmentando. Em seu livro “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade”, ele crava: “As velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno”. O conceito, 25 anos depois, encaixa-se bem ao enredo da série “Sense8”.
Os oito sensitivos espalhados pelo mundo voltam ainda mais conectados na segunda temporada. Suas dores, paixões, frustrações e dúvidas são compartilhadas constantemente, como se, de fato, aquele outro que “fala na mente” fosse como ele mesmo. Cria-se, então, uma identidade apartada do próprio indivíduo.
Entretenimento, não filosofia
Por exemplo, Nomi Marks (Jamie Clayton) não é apenas uma transexual que saca tudo de informática. Ela, junto com a namorada Amandita (Freema Agyeman), formam o par hacker mais poderoso da Terra. Dos Estados Unidos, ela consegue desligar câmeras da prisão e alterar semáforos na Coreia do Sul – tudo em questão de segundos.
O mesmo ocorre com outros personagens.Todos eles revelam ser os melhores no que fazem, ultrapassando até mesmo outros grupos de “homo sensorium” que encontram pelo caminho. Lito Rodriguez (Miguel Ángel Silvestre) é o ator irretocável, Sun Bak (Doona Bae), a exímia lutadora de artes marciais, e Kala Dandekar (Tina Desai), a farmacêutica, química e enfermeira que manipula remédios pesados e faz pílulas apenas olhando a composição de outras.
Tamanho poderio dos personagens tornam suas histórias menos críveis e colocam a excelente narrativa que envolve o cotidiano deles em segundo plano. Pode-se até mesmo afirmar que não havia necessidade de trabalhar a perseguição de Sussurros, também chamado de Mr. Whispers e de Canibal.
Essa perseguição, que revela um submundo mortal para os “homo sensorium”, é, com certeza, a parte mais chata da série. O tema volta à tona sempre quando os protagonistas começam a se aprofundar em seus próprios problemas, servindo apenas de motivo para a existência do casal insosso Riley Blue (Tuppence Middleton) e Will Gorski (Brian J. Smith).
De todo modo, a segunda temporada da série acerta em trazer mais ritmo à narrativa. As cenas de tensão e de luta empolgam os fãs, enquanto as de sexo – menos ousadas e esfuziantes do que na primeira temporada – servem para reduzir a velocidade da trama e encher os olhos dos espectadores. Já estou na expectativa pela próxima temporada.