Sense8 encerra saga a toque de caixa, mas agrada os fãs
Com a simples mensagem “amor vincit omnia” (o amor vence tudo), série dá ao público uma resolução do jeito que deu para fazer
atualizado
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Os fãs espernearam e conseguiram: a caríssima Sense8 teve seu final num filme de duas horas e meia, realizado em tom de “fizemos o que conseguimos”. A intrincada trama, focada em oito personagens principais, é repleta de detalhes e, com apenas duas temporadas de exibição, foi cancelada num momento no qual as perguntas e teorias sobre a história estavam apenas começando a ser formuladas pelos espectadores.
O primeiro ato do filme dá a impressão de que todos os problemas da história foram listados pela produção e elencados de acordo com a dificuldade de resolução. Pontas soltas mais simples de amarrar, como a investigação policial sobre Sun (Doona Bae) ou a carreira política de Capheus (Toby Onwumere) acertaram-se em cenas rápidas. É uma pena, pois teria sido muito interessante ver como essas narrativas se desenvolveriam numa temporada inteira – e essa foi apenas uma antecipação do problema que se repete durante todo o episódio: tempo.Como era de se esperar, tudo se resolveu de forma muito apressada. O sequestro de Wolfgang (Max Riemelt), orquestrado pela BPO, foi o único a se desenrolar num tempo razoável, levando-se em consideração a duração do episódio. A escolha, no entanto, de colocar o cluster de Lila (Valeria Bilello) por trás dessa trama complicou demais a narrativa. A decisão, portanto, levou a produção à única solução acelerada: no melhor estilo Rambo, em uma cena de apertar o pause para dar risada.
Com alguns diálogos sofríveis e repletos de chavões, várias das cenas mais emocionantes escorregam no brega. Além disso, a solução dos problemáticos Angelica (Daryl Hannah) e Jonas (Naveen Andrews), entregues de bandeja aos protagonistas, deixa uma impressão de dever nem um pouco cumprido. É mais uma parte da trama resolvida a toque de caixa, que certamente teria sido melhor desenvolvida com mais uma temporada.
O retorno de cada um dos personagens secundários para ajudar o cluster – até mesmo de quem já havia morrido – é um dos grandes fan services do último episódio. Todos os clássicos que levam os fãs à loucura são revisitados: das cantorias redentoras às surubas em câmera lenta. O episódio mira nos espectadores mais afoitos, mesmo assim, não é possível deixar de imaginar uma última meia hora diferente, com um roteiro mais focado na trama.
O final feliz é o que todos esperamos, mas talvez seja alegre demais: nenhum mocinho morre! Eu não posso ter sido a única a erguer as sobrancelhas para o roteiro escrito para Kala (Tina Desai), por exemplo. Não basta o maridão Rajan (Purab Kohli), um indiano até então conservador, aceitar viver um trisal com ela e Wolfgang. Aliás, a quase morte da sensate é um dos pontos mais fracos do episódio.
Kala aparecer, quase fantasmagórica, para instruir o alemão em como salvá-la é apenas um demonstrativo de que esse episódio foi feito para agradar os fãs.
Infelizmente, enriquecer e fechar a história de maneira coerente não aparentou estar nas prioridades da produção. O resultado é tão impossível que o único jeito foi fazer piada com isso no casamento de Nomi (Jamie Clayton) e Amanita (Freema Agyeman): os últimos acontecimentos parecem coisa de filme, eles disseram. Só assim mesmo.
Avaliação: Ruim