Segunda temporada de Glow encara temas problemáticos da série
Nem tudo são flores no set de luta livre: racismo, xenofobia e a complicada amizade entre Ruth e Debbie são temas desenvolvidos na sequência
atualizado
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Se você terminou a primeira temporada de Glow satisfeito, nós não vimos a mesma série. Com atuações brilhantes, uma história original e um roteiro tão eficiente, o final foi decepcionante. Como a produção do seriado teve coragem de fazer aquilo ? Por 10 episódios, nos preparamos para ver as personagens se enfrentando no ringue e… a luta não apareceu. Ficou aquela sensação de incompletude.
Isso não é motivo para ignorar a segunda temporada. O novo conjunto de 10 episódios, ao contrário do anterior, não foge da briga e dedica capítulos inteiros a polêmicas deixadas em aberto. Talvez a mais latente delas seja a vilã Rainha do Bolsa Família, personagem de Tammé (Kia Stevens) que usa o dinheiro dos impostos dos cidadãos americanos para viver com luxo. Apesar do personagem ser extremamente ofensivo, a atriz nunca havia sido confrontada com a problemática.
A coisa muda de figura quando o filho de Tammé, Earnest (Eli Goree), bolsista de Stanford, assiste a um episódio de Glow. Ao perder a luta contra a heroína Liberty Belle, a Rainha se vê humilhada, com uma plateia branca exigindo que ela conseguisse um trabalho. Com a sugestão de que a população negra americana sobrevive de subempregos, os minutos finais do quarto episódio da temporada trazem uma reviravolta profundamente triste – e necessária – em uma atração muito divertida.
O principal conflito da série, a difícil amizade entre Ruth (Alison Brie) e Debbie (Betty Gilpin) é levada às últimas consequências: enquanto a loira passa por um divórcio, a amiga, culpada por ter dormido com o ex-marido dela, faz de tudo para agradar. Por outro lado, Ruth começa a viver um romance algo difícil para Debbie. A coisa escala ao ponto do absurdo, apenas para provar seu ponto: a briga entre as duas tem muito mais a ver com poder e sucesso.
A segunda temporada de Glow é uma trajetória excruciante rumo ao fracasso. Embora as atrizes treinem quase diariamente na tentativa de garantir as impressionantes manobras de luta livre, o formato masculino da atração ganha mais espaço na televisão. No show business, Debbie é a exceção: para conseguir papeis e reconhecimento, o teste do sofá é o único caminho. Do contrário, a resposta é sempre não.
Ainda bem que as Garotas Lindas da Luta Livre têm fãs fieis – e uma terceira temporada pela qual mal podemos esperar.
Avaliação: Ótimo