Roma, de Alfonso Cuarón, põe Netflix como forte concorrente ao Oscar
Canal de streaming tem apostado na assinatura de cineastas de prestígio e pode levar a estatueta com o novo filme do diretor mexicano
atualizado
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Principal celeiro de séries de TV originais ao lado da HBO, a Netflix vive o que se pode chamar de uma era de ouro em sua produção de cinema em 2018. O ano representa uma guinada em termos produtivos, com lançamentos de filmes se acumulando quase semanalmente.
Esse salto também veio acompanhado de um notável incremento na qualidade das produções. Eis o motivo principal. Com ofertas de bons orçamentos, possibilidade de rápida projeção mundial para milhões de assinantes e promessa de permitir liberdade artística aos criadores, o canal de streaming passou a atrair grandes cineastas.
Roma, nova aposta da plataforma, estreia em 14 de dezembro. Marcando o retorno do mexicano Alfonso Cuarón (Oscar de Direção e Montagem por Gravidade) à sua terra-mãe, o longa tem chances de transcender a chancela de escolhido do país para a disputa de longas estrangeiros e beliscar prêmios e indicações nas categorias principais. Pode ser o primeiro longa falado em espanhol concorrente ao troféu de Melhor Filme.
O histórico recente do Oscar parece soprar a favor de Roma, drama em preto e branco sobre uma família de classe média na Cidade do México dos anos 1970. Também mexicano, Guillermo del Toro se consagrou em 2018 com A Forma da Água. Tal qual Roma, abocanhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza.
Alejandro González Iñárritu, outro conterrâneo, ganhou prêmios em anos consecutivos por Birdman (2014) e O Regresso (2015). Em 2018, levou até estatueta especial por seu curta de realidade virtual Carne y Arena.
Para a cinefilia, porém, talvez o grande projeto (ou evento) da Netflix em 2018 tenha sido O Outro Lado do Vento, o filme até outro dia perdido e inacabado do mítico Orson Welles, um dos grandes comunicadores, inovadores e estetas da Hollywood do século 20.
A primeira tentativa da plataforma de buscar prestígio se deu ano passado, quando Okja, do sul-coreano Bong Joon-ho, e Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe, do indie norte-americano Noah Baumbach, concorreram à Palma de Ouro (e causaram polêmica) em Cannes. Em 2018, o canal deu outros indicativos de que se tornou um espaço sedutor para autores (promissores e experientes) não necessariamente interessados em blockbusters.
Os irmãos Ethan e Joel Coen, oscarizados por Onde os Fracos Não Têm Vez (2007) e donos da cultuada comédia O Grande Lebowski (1998), levaram para o streaming a antologia de faroeste The Ballad of Buster Scruggs. Em entrevista ao Los Angeles Times, Ethan chegou a dizer que um estúdio tradicional de Hollywood jamais teria financiado o projeto, anteriormente formatado como minissérie.
Há tempos sem lançar novidades, duas diretoras importantes do cinema independente dos EUA voltaram a filmar este ano: Nicole Holofcener, com Gente de Bem, e Tamara Jenkins, responsável por Mais uma Chance, um dos melhores trabalhos originais da Netflix.
Vários outros nomes contemporâneos realizaram longas sob o guarda-chuva da produtora em 2018, como Paul Greengrass (22 de Julho), Jeremy Saulnier (Noite de Lobos), Gareth Evans (Apóstolo), David Mackenzie (Legítimo Rei) e Duncan Jones (Mudo). Em 21 de dezembro, a dinamarquesa Susanne Bier lança Caixa de Pássaros, terror falado em inglês e protagonizado por Sandra Bullock.
O que vem por aí
Para os próximos anos, a promessa é de mais parcerias com realizadores de peso. O veterano Martin Scorsese, autor de obras-primas como Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e O Rei da Comédia (1982), levou décadas para receber seu primeiro (e único) Oscar, por Os Infiltrados (2006).
Mesmo assim, penou para produzir seu mais recente longa, Silêncio (2016) – elenco e equipe trabalharam ganhando o piso salarial da indústria. Em 2019, ele retorna aos thrillers de máfia com o aguardadíssimo The Irishman, estrelado por Al Pacino, Robert De Niro e Joe Pesci.
A longa lista de talentos contratados pelo streaming ainda inclui Steven Soderbergh (com dois títulos, The Laundromat e High Flying Bird), Ava DuVernay, Baumbach, os irmãos Jay e Mark Duplass, Dan Gilroy (Velvet Buzzsaw), Dee Rees (The Last Thing He Wanted), diretora do ótimo Mudbound (2017), J.C. Chandor (Triple Frontier), David Michôd (The King) e a dupla Ariel Schulman e Henry Joost, de Catfish (2010).
Blockbusters
Vale lembrar que a Netflix não abre mão de filmes populares. Além da frutífera parceria com o humorista Adam Sandler, a marca tem conseguido explorar o filão das comédias românticas (Para Todos os Garotos que Já Amei e Sierra Burgess É uma Loser), há eras abandonado por Hollywood, e ainda tenta emplacar seu primeiro blockbuster.
Bright não pegou, mas terá sequência. The Cloverfield Paradox só gerou interesse pela forma como foi divulgado – anunciado com um trailer surpresa no intervalo do Super Bowl e disponibilizado no canal logo após a partida.
Em 7 de dezembro, chega Mogli: Entre Dois Mundos, dirigido por Andy Serkis (o Gollum, de O Senhor dos Anéis e César, de Planeta dos Macacos). Num futuro próximo, o catálogo de crowd pleasers deve aumentar com Six Underground, começo de uma possível franquia de ação dirigida por Michael Bay e estrelada por Ryan Reynolds, e novos filmes de McG (A Babá), Olivier Megaton e Peter Berg.