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Pornô de tortura: The Handmaid’s Tale perdeu a mão?

A aclamada série enfrenta o desafio de continuar a história do livro com roteiro original e em diversos momentos erra o tom

atualizado

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Cena de The Handmaid's Tale - Metrópoles
1 de 1 Cena de The Handmaid's Tale - Metrópoles - Foto: Divulgação

A primeira temporada de The Handmaid’s Tale, série do serviço americano de streaming Hulu, foi aclamada por público e crítica, faturando dois Globos de Ouro e oito Emmys. A parte inicial da obra (10 episódios) é um irrepreensível retrato do quão longe o machismo e a cultura de estupro podem chegar.

Baseada no livro homônimo de Margaret Atwood, a história do primeiro ciclo se encerra no mesmo ponto da obra impressa. Com a decisão de se fazer uma continuação, vem a responsabilidade de criar histórias em cima dos personagens e do ambiente da distopia. E, embora a grávida June (Elizabeth Moss) ainda não tenha sido estuprada na segunda temporada, o uso incessante de violência contra as mulheres deixou muitas críticas gringas de cabelo em pé: teria a série se tornado um pornô de tortura?

Mostrar violência na tela para comprovar injustiças sociais é um tiro que pode sair pela culatra. A produção do seriado argumenta: toda humilhação sofrida pelas personagens são torturas que aconteceram com pessoas reais. Mas, além da violência em si, o questionamento é o quanto deve ser exibido para se provar um ponto. Afinal, precisamos mesmo ver uma escrava sexual urinar de medo diante da forca? É realmente necessário filmar tia Lydia (Ann Dowd) queimando o braço de uma aia como punição?

O recurso cinematográfico do qual se lança mão para retratar a violência é questionável. Na primeira temporada, a aia Emily (Alexis Bledel) é punida com uma mutilação genital. Na tela, assistimos à personagem acordando da cirurgia, sendo informada de “uma pequena mudança” e, ao erguer a camisola hospitalar, vendo o curativo e percebendo a terrível realidade com a qual será obrigada a viver. A agressão sexual extrema informada de maneira sutil – porém sem deixar dúvidas – é um dos grandes trunfos do primeiro ciclo.

Pornografia envolvendo violência extrema é um dos formatos mais procurados na internet. Existem homens atraídos por imagens de mulheres sendo torturadas, e uma alegoria dessa população é o comandante Waterford (Joseph Fiennes). Depois de três meses em fuga, June finalmente é capturada por policiais de Gilead e forçada a voltar para a casa onde servia. Ao conversar com os Waterford, o militar questiona se ela será uma boa garota. Num take que poderia ter saído de qualquer pornô, Offred sorri, sensual, e diz que sim. A quem se destinam essas cenas?

Mesmo diante dessas liberdades criativas malconduzidas, a discussão proposta pela série ainda é válida por ser muito real. As temáticas da primeira temporada amadureceram e nos vemos obrigados a debater outras implicações de um Estado religioso totalitário, como o matrimônio compulsório e o casamento infantil. Outro ponto já pincelado nos primeiros episódios é o trauma de Moira (Samira Wiley), refugiada no Canadá. Como será ter proteção e conforto após anos de exploração sexual? Isso me parece uma narrativa mais frutífera que imagens de grávidas acorrentadas.

Avaliação: Regular

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