Polêmico seriado, Insatiable não é tão ruim quanto pintam
A internet tem que aprender a escolher suas batalhas e assistir às produções antes de criticar
atualizado
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Todos ouviram falar de Insatiable, nova série da Netflix que conta a história de uma adolescente interpretada por Debby Ryan. Por conta de um acidente, sua mandíbula deve ser imobilizada e ela perde muito peso ao longo do Verão. Ao voltar para a escola, ela percebe a mudança de atitude dos colegas por conta de sua nova aparência. Assim, Patty Bladell ganha um apetite pela vingança.
Desde o primeiro trailer, muita gente já caiu matando em cima da série. Para muitos, a história transmitia a seguinte mensagem: perder peso e se tornar “atraente”, torna a vida melhor. Houve, inclusive, quem pregasse boicote a a série – excluindo contas da plataforma – e dando a pior avaliação da história da Netflix.
Toda essa gritaria parece ser em vão. Quem assistiu à série percebe que os amigos ao redor da protagonista, passam o tempo todo desconstruindo as ofensas e preconceitos da “repaginada” garota. Como uma mulher jovem que sofreu dismorfia corporal – como muitas outras garotas – durante o ensino médio e fundamental, o trailer serviu para alimentar a minha vontade de assistir ao show.
Embora haja muitas cenas divertidas e engraçadinhas na série, outros momentos tratam de tópicos desconfortáveis para muitos. Por exemplo, uma cena onde, após o pior momento de sua nova vida, a série reproduz um minuto inteiro onde Patty sofre uma recaída e come um bolo com as mãos. O programa não é sobre como a vida dela melhora depois de perder peso, trata-se de reforçar: a qualidade de vida de alguém não depende do peso. Comer é o verdadeiro vício que a protagonista precisa combater.
Patty não é a heroína que merecemos ou mesmo gostaríamos de ter. Decidida a buscar vingança pelos anos de bullying sofrido, ela se torna manipuladora e egoísta, tendo poucos momentos de redenção. Sua história pode ser vista como a de uma guerreira, fazendo o possível para conseguir atingir seus sonhos, mesmo se isso inclua passar por cima dos outros ou até mesmo arruinar algumas vidas.
Seu advogado/treinador de concurso de beleza, Bob Armstrong (Dallas Roberts), é o segundo personagem mais importante. Desde o começo da trajetória, os dois mostram uma conexão que perpassa o passado em comum. Seu personagem introduz algo poucas explorado por outras histórias: o poliamor. A situação amorosa dele é retratada realisticamente, com partes boas e ruins.
Descrita como uma “comédia de humor negro”, nada do que se vê nos episódios iniciais mostra muito indicativo desse gênero (?). Parece sarcástico e seco até chegar ao final da série, onde finalmente a vingança e o ódio de Patty se fazem aparentes. O momento define a transição de uma história bobinha faz uma reminiscencia ao episódio Arkangel, de Black Mirror.
Na realidade, Insatiable recebeu muito mais ódio que o normal para seriados polêmicos. É uma trama interessante para adultos e adolescentes, principalmente, por conta da conexão dos protagonistas. Aqueles que se viram ultrajados pela audácia da Netflix em produzir uma série sobre uma menina ex-gorda deveriam reabrir suas contas e assistir à série. A vingança de Patty tem o mesmo fogo de alguns críticos da série.
Há, sim, muita falta de representatividade no mundo da TV e do cinema, mas precisamos escolher as batalhas que devem ser lutadas para mudar o status quo do mundo do entretenimento. O ponto focal de Insatiable não é o corpo de Patty, mas sim como a perda de peso deu a ela o incentivo de lutar pela vida desejada – e aprendendo que não é tão simples assim.
Enfim, Insatiable é a série para quem tem um desejo por uma história de amadurecimento e superação que mostra as difíceis realidades que vêm com a perseguição de um sonho.
Avaliação: Regular