George A. Romero: o cinema de um mestre discreto do terror
Pai do zumbi moderno, o diretor desenvolveu uma carreira radical e célebre com orçamentos pequenos e distância dos luxos de Hollywood
atualizado
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George A. Romero, morto no último domingo (16/7), revolucionou o cinema de terror ao trazer os monstros para o nosso quintal. Seus filmes, sobretudo os do popular ciclo de seis longas “estrelados” por zumbis, são tantos exemplares únicos do cinema de terror quanto poderosos comentários sociais.
“A Noite dos Mortos-Vivos” (1968), filme inaugural do zumbi moderno, traz um protagonista negro (Duane Jones), o primeiro da história do cinema de terror, no fim de uma década que viu revoluções culturais, movimento dos direitos civis, mas violentas reações a tais rupturas de paradigma.
Ben, o último sobrevivente de uma casa sitiada por monstros, por fim é morto pelos policiais por engano, confundido com um dos invasores. A cena permanece como uma inegável tomada de pulso da intolerância, da violência urbana, do racismo.
Um universo zumbi
Bem antes da atual onda de franquias de super-heróis e personagens mágicos, Romero ergueu seu próprio universo com menos dinheiro e mais inventividade. Os filmes do ciclo zumbi se passam no mesmo ambiente apocalíptico, mais jamais compartilham tramas, personagens ou eventos.
“Despertar dos Mortos” (1978) reúne os vivos em um shopping center, mesmo destino de milhares de zumbis. Fazer compras: o refúgio e a ruína. “Dia dos Mortos” (1985) muda de rumo e traz uma perspectiva científica e militar para o fim de mundo.
Além de um mestre do terror, Romero soube como poucos trafegar no cinema americano como um genuíno cineasta independente.
Romero dirigiu 15 longas, com experiências de horror que variaram entre apocalipse epidêmico (“O Exército do Extermínio”, 1973), vampiros (“Martin”, 1978) e um assassino sem face (“A Máscara do Terror”, 2000). O trânsito pelos grandes estúdios foi discreto.
Hollywood e a quase adaptação de “Resident Evil”
“Creepshow” (1982), com o escritor Stephen King estreando como roteirista, busca inspiração em antigas revistinhas de terror dos anos 1950 e deu bom retorno (US$ 21 milhões) para a Warner.
No primeiro filme da carreira rodado em estúdio, “Instinto Fatal” (1988), o diretor segue um macaquinho assassino. “A Metade Negra” (1993), também da Orion, adapta romance homônimo de Stephen King em outra produção de Hollywood. Segundo maior orçamento de Romero: US$ 15 milhões.
No filme mais caro da carreira, “Terra dos Mortos” (2005), Romero se sentiu visivelmente desconfortável em trabalhar com os US$ 16 milhões à disposição. “O cigarro de Dennis Hopper custou mais que a inteira produção de ‘A Noite dos Mortos-Vivos”, disse em entrevista recente.
Detalhe: “A Noite” não consumiu mais do que US$ 114 mil para ser filmado. O mais próximo que Romero chegou de um potencial blockbuster foi entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000.
O diretor ficou perto de adaptar a popular série de games “Resident Evil” após ser convidado pela Capcom, o estúdio japonês do jogo, para fazer um comercial de 30 segundos de “Resident Evil 2”.
O pai dos zumbis chegou até a escrever um roteiro para um possível longa baseado no jogo, mas a Sony, dona do projeto, preferiu ir adiante com as versões de Paul W.S. Anderson – que são boas por outras razões.