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Eu Não sou Um Homem Fácil: notas contra o machismo na Netflix

Na comédia romântica, até aqueles ditos desconstruídos vão encontrar representações do nosso preconceito

atualizado

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Netflix/Reprodução
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1 de 1 homem - Foto: Netflix/Reprodução

Seria fácil para um escriba homem, como eu, desfilar clichês ao falar de Je Ne Suis Pas Un Homme Facile (Eu Não Sou Um Homem Fácil, em tradução livre): “é um tapa na cara”, “toca na ferida”, “é feito para machistas” e outros. Vou por outro caminho: o longa da Netflix me fez refletir sobre como ainda tenho comportamentos ofensivos e errados contra mulheres – mesmo que não tão óbvios.

A trama do filme de Eleonore Pourriat aborda a vida de Damien (Vincent Elbaz). Um machão típico, sem a menor empatia com o movimento feminista e um autêntico misógino. Ao bater com a cabeça, ele acorda em um mundo invertido. Mulheres oprimem, enquanto homens são alvos de assédios constantes, recebem menos pela mesmo função e sofrem pressão social por casamento, gravidez e beleza.

Nesse contexto, Damien se vê envolvido com a escritora Alexandra (Marie-Sophie Ferdane), uma escritora que usa e abusa de homens. Sem respeito algum pelo sexo oposto, ela funciona como um espelho ao novo parceiro, capaz de enxergar nela seus abusos no “mundo tradicional”.

Em ritmo de comédia romântica, o filme sacode as estruturas sociais para expor o quão ridículo é o discurso machista dominante. No entanto, pelo uso do humor, a grande sacada da obra talvez não esteja no preconceito evidente: fica nas entrelinhas.

Netflix/Reprodução
Alexandra (direita), escritora sem dó de homens

 

Eu, pessoalmente, me julgo desconstruído (à medida do possível). Simpatizo com a causa feminista, defendo a liberdade sexual das mulheres e penso que um mundo igualitário seria melhor. No macro, estou longe de Damien – mas, em alguns detalhes, me vi desconfortavelmente próximo a ele.

Por quê homens tomam as decisões em uma relação sexual? Mudam de posição, impõem uma autoridade inexistente? É tão absurdo quando visto de fora? Ou melhor, quando representado por uma mulher praticando o ato.

Ou talvez: é possível equilibrar a balança? Homens e mulheres podem ser iguais para o bem ou mal? Essas questões perpassam toda a narrativa, com cenas de humor e interessantes pitadas de divertimento.

Je Ne Suis Pas un Homme Facile incomoda por inverter um mundo e expor um problema atual. E provoca ao deixar claro: até os desconstruídos carregam doses do machismo estrutural.

Avaliação: Bom

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