“Carros 3”: Pixar enfrenta dilema entre franquias e filmes originais
O estúdio de animação mais adorado de Hollywood tem preferido estender franquias a investir em filmes originais
atualizado
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Em Hollywood, nenhuma produtora de animação é mais premiada (13 Oscars) e respeitada do que a Pixar. Ainda assim, “Carros 3”, o mais recente longa do estúdio, tem derrapado nas bilheterias. Por ora, menos de US$ 200 milhões arrecadados de um orçamento de US$ 175 milhões.
A saga de histórias sobre o carro de corrida Relâmpago McQueen, desta vez em uma crise existencial diante de corredores mais velozes e jovens, não exatamente depende da venda de ingressos para continuar na pista.
Dentro do paradigma de franquias instalado pelo Universo Cinematográfico Marvel, a mais popular e endinheirada saga do cinema, “Carros” gera grana na casa dos bilhões em outras indústrias, sobretudo as de brinquedos e parques temáticos, nas quais a Disney é especialista.“Carros” chegou a render até uma franquia derivada, “Aviões”, mui explorada pela Disney no mercado de TV e streaming. Mas a turma de McQueen sequer é a mais popular no universo Pixar.
Em 2016, “Procurando Dory”, sequência de “Procurando Nemo” (2003), cravou a segunda maior bilheteria (US$ 1,028 bilhão) da história da produtora, alguns milhões atrás de “Toy Story 3” (US$ 1,067 bilhão), lançado em 2010.
“Universidade Monstros” (2013) passa longe dos melhores momentos da Pixar. Ainda assim, retornou US$ 744 milhões graças ao culto em torno de “Monstros S.A.” (2001). Antes de provavelmente furar a barreira de US$ 1 bilhão de novo com “Toy Story 4” (2019), o estúdio tenta inaugurar uma nova franquia com “Os Incríveis 2” (2018).
Crise criativa na era Disney ou apenas ajustes de curso?
De qualquer maneira, a fraca abertura de “Carros 3” nos EUA, com US$ 53,5 milhões, escancara uma certa fadiga dos filmes de franquia nos cinemas. Pelo menos esse é o caso dos automóveis falantes na tela grande.
Considerando o ajuste da inflação, só o fraco “O Bom Dinossauro” (2015), quase um remake (insosso) de “O Rei Leão” (1994), teve estreia pior no mercado americano, acumulando US$ 39 milhões nos primeiros dias.
Outra camada que chama atenção na era Pixar sob a gestão Disney — a partir de 2006 — é o quanto os filmes da produtora cult contaminam os “colegas de firma” lançados sob o guarda-chuva do clássico estúdio Walt Disney Animation.
Se “Valente” (2012), da Pixar, vacilou ao tentar reler o filme de princesa, “Frozen” (2013), da Walt Disney Animation, entrou na cultura pop e consagrou a maior cifra (US$ 1,276 bilhão) de uma animação na história do cinema.
Franquias x originais
Sobram exemplos de filmes da Walt Disney Animation que poderiam passar tranquilamente por produtos do universo Pixar: “Detona Ralph” (2012), com personagens de videogames, e “Zootopia” (2016), aventura que mistura filme policial com distopia. Por onde andam, então, os “verdadeiros” filmes Pixar?
Dos 12 filmes lançados pela produtora desde 2006, cinco são continuações. Alguns dos piores longas vieram justamente nesse período – as continuações “Carros 2” (2011) e “Universidade Monstros” e os (nem tão) originais “Valente” e “O Bom Dinossauro”.
Por outro lado, a noção de que a Pixar passa por crise criativa sob a égide da Disney também merece argumentos contrários. “Ratatouille” (2007), “Wall-E” (2008), “Up” (2009) e “Divertida Mente” (2015) frequentam a primeira prateleira de animações do estúdio.
“Toy Story 3” é o ponto fora da curva: uma sequência de imensa popularidade e incensada pelos críticos. Resta especular que estrada os próximos filmes da Pixar – originais como “Viva – A Vida É uma Festa” e as continuações já anunciadas – vão tomar.
“Carros”, com a contradição de lucrar bilhões em parques e brinquedos, mas falhar nos cinemas, certamente deixa lições de direção.