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“Aliens, o Resgate”, 30 anos depois: um filme de ação perto do nirvana

A icônica construção do personagem feminino de Sigourney Weaver e a direção sofisticada de James Cameron tornam “Aliens” uma obra única

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Reprodução/Fox
Aliens, o Resgate, de James Cameron
1 de 1 Aliens, o Resgate, de James Cameron - Foto: Reprodução/Fox

And I feel just like Sigourney Weaver
When she had to kill those aliens
And one guy tried to get them back to the Earth
And she couldn’t believe her ears

Trecho da música “Sigourney Weaver”, de John Grant

Ellen Ripley, a clássica heroína de Sigourney Weaver, rumava por corredores estreitos para fugir de uma criatura sinistra em “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979). Numa das viradas mais radicais de qualquer franquia de entretenimento, ela assumiu a condição de uma destemida fuzileira naval na continuação “Aliens, o Resgate” (1986). Um filme que serve até hoje como exemplar único das possibilidades criativas do cinema de ação em Hollywood.

Saem a iluminação esperta filmada por Ridley Scott e as alusões metafóricas (o horror à maternidade, invasão particular, xenofobia, sexo). Entram as sofisticações visuais de James Cameron, um diretor perfeccionista e sempre ambicioso, e a fábula militarista que ousa colocar uma mulher no papel messiânico de salvadora da raça humana.

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Ripley e Newt: relação é mais explorada na versão do diretor

 

A maternidade como alusão à Guerra do Vietnã
Toda a problematização em torno da reprodução vista no primeiro filme dá lugar a um simples instinto materno. Ripley é resgatada e acorda após cinco décadas de sono profundo. Descobre, na versão do diretor, que a filha já morreu, aos 66.

Ela preenche esse vácuo emocional mais tarde, quando encontra a garotinha Newt (Carrie Henn), única sobrevivente da colônia humana estabelecida no satélite LV-426, onde a Nostromo, nave do primeiro filme, identificou ovos alienígenas. Já nos primeiros planos, Cameron visualiza Ripley como a última esperança terrena: numa transição de planos, seu rosto é delineado pela curvatura do planeta.

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Ripley: a esperança da Terra

 

Nesse sentido, é até engraçado notar como “Aliens” funciona como uma parábola sobre a Guerra do Vietnã ou sobre a política externa agressiva do então presidente americano Ronald Reagan. À época, Cameron era casado com Gale Anne Hurd, produtora do longa, e teve certa liberdade para brincar com a mitologia. O diretor, então com 31 anos, também vinha de trabalhos bem-sucedidos: “O Exterminador do Futuro” (1984) e “Rambo II – A Missão” (1985), em que coescreveu o roteiro com Sylvester Stallone.

Interesses corporativos rodeiam a colônia LV-426. Portanto, a empresa Weyland-Yutani, dona da Nostromo e do satélite, envia Ripley como consultora da missão que visita o lugar para restabelecer contato com os moradores. Uma coadjuvante rodeada por militares musculosos e representantes corporativos.

Ripley começa o filme como uma oficial de voo traumatizada e instável. Lá pelas tantas, ela se torna a única personagem capaz de tomar decisões na colônia: acolhe Newt como filha, resgata três fuzileiros navais de uma desastrosa incursão no complexo e organiza um cerco para proteger a missão das centenas de alienígenas que ocupam o LV-426.

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Mãe, estrategista, fuzileira: a heroína faz-tudo

 

A desconfiança no militarismo e no progresso
Ah, e mais. Ripley não apenas elabora estratégias. Ela também precisa partir para a ação, dar ordens firmes ao androide Bishop (Lance Henriksen), planejar a fuga do satélite, despedaçar aliens com metralhadora e lança-chamas, cuidar da criança e até mesmo carregar Hicks (Michael Biehn), líder dos fuzileiros, nos ombros. Hudson (Bill Paxton), antes um soldado todo machão, é outro homem de pura fragilidade: chega a ser um coadjuvante de alívio cômico quando se desespera diante dos aliens.

Cameron entrega um visual que soa deslumbrante até hoje. Os cortes rápidos deixam o filme no limiar entre o gore e uma expedição militar à la “Predador” (1987), enquanto as sequências de ação estouram sempre no momento e ritmo certos.

Nas entrelinhas, ficam pistas sobre a desconfiança do cineasta no militarismo: apesar do glamour de armas e aparatos, Ripley resolve a rusga com a Rainha Mãe alienígena por meio de uma empilhadeira industrial – uma “arma de trabalho”, por assim dizer.

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Última cena: a esperta alusão à transição visual do rosto de Ripley com a Terra

 

Como ficaria provado em “O Exterminador do Futuro 2” (1991) e “Titanic” (1997), o diretor também é mestre em composições tão complexas quanto utilitárias e na utilização de diferentes escalas espaciais: planos que mais sugerem do que escondem, mais provocam do que entregam.

É sempre tentador apontar influências aqui e ali. Mas “Aliens, o Resgate” de fato deixou um legado nos trinta anos seguintes, sobretudo em outras fábulas militares subversivas, como o amalucado “Tropas Estelares” (1997), de Paul Verhoeven.

A construção de Ripley como a heroína máxima seria inspiração para tantas outras personagens – Alice de “Resident Evil”, Imperatriz Furiosa de “Mad Max – Estrada da Fúria”. Um filme de ação perto do nirvana.


“Aliens, o Resgate” (1986): disponível na Google Play, iTunes e em DVD e Blu-ray

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