“Gimme Shelter”: Fla-Flu em Brasília, Rolling Stones no Rio
Um respeitável público de 32 mil pagantes acompanhou, na noite de ontem, o primeiro Flamengo x Fluminense do Campeonato Carioca a ser disputado para além daquelas fronteiras. Vitória rubro-negra por 2 x 1. A Federação do Estado do Rio de Janeiro está de parabéns por ter exilado de seus gramados dois clubes de apelo interestadual. […]
atualizado
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Um respeitável público de 32 mil pagantes acompanhou, na noite de ontem, o primeiro Flamengo x Fluminense do Campeonato Carioca a ser disputado para além daquelas fronteiras. Vitória rubro-negra por 2 x 1.
A Federação do Estado do Rio de Janeiro está de parabéns por ter exilado de seus gramados dois clubes de apelo interestadual. As questões do desterro, já cobrimos no episódio de ontem da coluna “Tiro de Meta”. Agora vamos tratar do que se passou com a pelota rolando. Diante do estádio Mané Garrincha à meia lotação, afinal nem um Fla-Flu parece ser capaz de tomar todos supervalorizados 70 mil assentos da arena candanga, Flamengo e Fluminense, talvez pela primeira vez nesta temporada 2016, conseguiram reunir em campo – ao mesmo tempo – algo bastante próximo às suas forças máximas.
No caso do Flamengo de Muricy Ramalho, entenda-se um meio de campo em que o colombiano Gustavo Cuéllar espalhou-se pela volância, permitindo um respiro entre a linha de meias (Emerson Sheik, Federico Mancuello, William Arão e Marcelo Cirino) e a de defensores (Rodinei, César Martins, Wallace e Jorge). Num desenho em que os laterais já se mostraram estar mais à vontade para subir e descer, a equipe ainda se ressente de uma dupla de zaga mais constante e equilibrada.
Wallace, capitão do time, recebeu cartão vermelho nos momentos finais da partida, por conta de um faniquito que atletas da experiência desse senhor não podem mais ter. E Juan, 37 anos, foi poupado do clássico por questões físicas. Ele deu vez a César Martins, que já tinha sido injustamente perseguido pela facção brasiliense da torcida rubro-negra, durante um empate com o Coritiba no Brasileiro passado. De certo, ontem ele saiu de campo com a sensação do dever cumprido.
César Martins teve que ficar vigiando Fred o tempo todo. Centroavante encarniçado, ele é o termômetro emocional e técnico de um Fluminense que vem mudando muito de escalação. Enfim Eduardo Baptista pôde reunir em torno de seu artilheiro um trio formado por Marcos Júnior e Gustavo Scarpa mais Diego Souza. Qualquer perspectiva de crescimento tricolor passa por esses quatro homens de frente. (E também pelo rapaz Gerson, que ontem só entrou na segunda etapa, meio tarde demais.)
Talvez pela emoção de ter tantos protagonistas reunidos tão longe de casa, Fla e Flu abriram a partida trocando investidas a gol, com espírito franco para o showdown. Essa dinâmica, feliz aos olhos de torcedores e simpatizantes, foi quebrada numa protocolar bola parada. Mancuello bateu escanteio fechado na altura do primeiro pau, o arqueiro Diego Cavalieri rebateu e o artilheiro-surpresa Arão agradeceu. A partir desse momento, o Fla assumiu o controle do jogo e, logo no comecinho da segunda etapa, Rodinei acertou um cruzamento à perfeição para a testada furiosa de Paolo Guerrero.
Gustavo Scarpa, em lance isolado, cobrando uma falta milimétrica, ainda tentou emprestar ânimo para o Flu nos minutos finais de uma partida em que seu time já estava descoordenado há tempo e as ações de ambas as partes já haviam sido desfiguradas por conta de três expulsões.
Natural a falta de reação imediata numa equipe que ainda está se montando, ainda sujeita a altos (contra o Cruzeiro pela Primeira Liga) e baixos (contra o Madureira no estadual). Mas ontem o time de Eduardo Baptista teve largos 45 minutos para concentrar esforços e tentar soluções. Não deu. Baptista terá que ser mais ágil que isso nos sobressaltos. Pode repensar a vida já a partir de sua defesa, frágil para o Flamengo, frágil para o Cruzeiro e frágil até para o simpático Madureira.
Ah ha, uh hu, o Maraca é nosso!
Milhas e milhas distante do Mané Garrincha, o estádio Mário Filho, vulgo Maracanã, recebeu no sábado o primeiro concerto brasileiro dos Rolling Stones. A turnê latino-americana da banda inglesa passa ainda por São Paulo (24 e 27/2) e Porto Alegre (2/3), ocupando o Morumbi e o Beira-Rio, bagunçando os calendários de são-paulinos e colorados. Depois segue para Lima, Bogotá e Cidade do México.
Com toda licença do amigo boleiro, por um momento o amigo roqueiro aqui há de extravasar. Vamos lá. No Rio de Janeiro, Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts se mostraram uma linha de frente mais desenvolta e espetacular que Sheik, Mancuello, Arão e Cirino.
Um compacto sentimental dos melhores momentos daquela quente noite de verão certamente traria a eletrizante “Gimme Shelter” e a gaiata “Honky Tonk Women”, tão manjadas quanto infalíveis, além de “Like a Rolling Stone”, tema de um certo Roberto Zimmerman, executado ali com a minúcia e a fatalidade de um desmoronamento. Este videoteipe íntimo traria ainda a banda acompanhada pelo coro feminino da PUC-Rio para “You Can’t Always Get What You Want”, quando as mocinhas cantantes mal conseguiram disfarçar a satisfação quase física por estarem ali naquele lugar. (Tu também mal conseguirias.)
E sem jamais, jamais esquecer a fumegante “Midnight Rambler”. Quando Mick Jagger ensinou a todos, mesmo os mais tímidos e cinturaduras entre os 66 mil presentes, como se contam, como se cantam os doze compassos do blues. Bem bonito.
Sempre bom reencontrar os velhos amigos.