Estádio do Pacaembu, Rio de Janeiro
Valendo pelo estadual do Rio, o Fla-Flu On The Road ocupa neste domingo o mais mítico estádio paulistano
atualizado
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Esqueça o Fla-Flu cafona de nossa política mesquinha. Hoje é domingo. Hoje é dia de paz. Hoje é dia do Verdadeiro Fla-Flu. Um jogo maior que a vida. Um jogo que, neste ano difícil de 2016, caiu na estrada e vai acontecer cada vez em uma cidade nova – e poderia ser assim indefinidamente, não?
Flamengo e Fluminense, sem querer, entraram nessa espécie de cruzada lúdica e poética, a unir pela bola uma nação dividida. Perceba… Há um mês, rolou aquele Fla-Flu aqui no Mané Garrincha. E logo mais esta tarde, 16h, teremos o Fla-Flu do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o popular Pacaembu.
Mais charmoso estádio do futebol paulista, em atividade constante desde 1940, o Pacaembu é um símbolo das primeiras décadas de profissionalização do ludopédio em nossos gramados. Após a várzea e os campinhos de bairro, surgiu o imponente Estádio Municipal. Que, vale lembrar, já abrigou um Fla-Flu muito antes do Maracanã, nos idos de 1942.
O antigo Pacaembu, como sói acontecer nesta pátria de chuteiras coloridas, vem caindo em desuso nos últimos anos. Com a controversa construção da Arena Itaquera e a ampliação do antigo Parque Antártica para o atual Allianz Parque, Corinthians e Palmeiras têm passado ao largo do histórico endereço.
Nesse clima de redescoberta do querido estádio, vale espiar esta breve filmagem de sua construção, no final da década de 1930, em uma São Paulo que já não existe mais. O filme faz parte do acervo do Museu do Futebol – que, aliás, fica lá mesmo, dentro do Pacaembu…
Que Flamengo e Fluminense façam bom proveito do Pacaembu. Com o Maracanã inexplicavelmente vedado aos clubes até outubro e em meio a rusgas públicas com a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, rubro-negros e tricolores bem que andam precisando de um lar, mesmo que seja um lar provisório.
Pode ser mais jogo, para ambos, mandar suas partidas em São Paulo do que, digamos, em Volta Redonda ou cá em Brasília. (Especialmente para o Flamengo, dono da quinta maior torcida da capital paulista.) O deslocamento aéreo seria curto e frequente na ponte Rio-SP, a logística estaria azeitada em pouco tempo e o Pacaembu, localizado bem no coração da megalópole cinzenta, pode se transformar novamente em acolhedor programa para torcedores paulistanos e emigrados.
Isso posto, o que se pode esperar do Fla-Flu de logo mais?
Excesso de confiança
Bem, infelizmente não podemos esperar nenhum esplendor técnico, não. Essa é a real. Os últimos compromissos de ambas as equipes trataram de baixar a bola e esfriar as expectativas. O Flamengo, em particular, cometeu um vacilo especialmente constrangedor no meio de semana, ao perder para o Confiança de Sergipe (0 x 1), lá em Aracaju, na desairosa estreia da equipe na Copa do Brasil.
Muricy Ramalho pareceu visivelmente contrariado com o triste espetáculo que seu time, escalado com a força máxima, desempenhou diante de arquibancadas francamente receptivas às cores flamengas. Dizendo que não procura desculpas, mas já as encontrando, o treinador acredita que seu time já está a acusar o desgaste da estrada.
A rapaziada mais afeita a números e estatísticas levantou o dado de que, ainda agora em março, o Flamengo já viajou este ano o equivalente a um turno inteiro de Campeonato Brasileiro. Não parece um cálculo exagerado, não. No entanto, é pouco para explicar as inúmeras chances de gol perdidas em Aracaju pela escolada dupla de frente Paolo Guerrero e Emerson Sheik.
Aquilo lá soou como pouco caso ou, para não perder a piadinha infame, excesso de confiança. O time inteiro parecia estar se poupando do que deveria ser sua única tarefa, como se pudesse ganhar daquele adversário numa bolinha qualquer, no primeiro esforço, num dar de ombros. Um desrespeito não apenas aos colegas de profissão ali em campo, mas a todo o público presente, que muitas pessoas se deslocaram de outras cidades para ver o Flamengo e na real testemunharam apenas uma tamanha soberba.
A bola pune, já disse Muricy em outras ocasiões. Como se trata de um Fla-Flu valendo três pontos no estadual, espera-se um pouco mais de empenho deste já cansadinho time do Flamengo. E espera-se também um tanto de superação do ainda cambaleante time do Fluminense.
Queimar ou esperar?
Há pouco tempo chegado nas Laranjeiras, o técnico Levir Culpi dia desses suspirou que tem muito trabalho pela frente. Disse isso depois de ver sua equipe amplamente dominada pelo Botafogo no clássico carioca do domingo passado, que só terminou empatado (1 x 1) graças a um gol chorado do beque tricolor Gum no finzinho.
Levir Culpi, aliás, precisa consertar com urgência sua nada confiável retaguarda, uma tarefa que Muricy parece ter mais adiantada do lado de lá. Para tanto, o zagueiro-artilheiro Gum está confirmado como companheiro do badalado Henrique. Cargo que já foi de Chaves e de Marlon, sem sucesso.
Possivelmente Levir também deve mandar para jogo o Fred, que esteve de molho no departamento médico por um mês. Fred treinou entre os titulares na sexta e no sábado. Levir, assim que assumiu o clube, tinha avisado que não queria Fred “queimando etapas” e voltando a campo antes da hora. Mas será que ele está em condições técnicas e emocionais de segurar Fred pelo braço e pedir para o jogador esperar mais um bocadinho? Ou não seria mais fácil deixá-lo entrar logo, pra ver de uma vez o que acontece? Fred tem estrela contra o Flamengo…
E deixo o estimado leitor com um abraço de Jorge Ben, a propósito disso tudo – e de tudo o mais.