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Diante do cenário econômico do país, número de investidores dispara

Especialistas apontam a Reforma da Previdência como um dos fatores de motivação para pessoas aplicarem o dinheiro guardado

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Maneiras de investir lá fora
1 de 1 Maneiras de investir lá fora - Foto: iStock

A Bettina, rosto da publicidade de uma agência de investimentos, não viralizou na internet em abril deste ano por acaso. A empresa que a jovem representa foi uma das inúmeras que reforçou as propagandas nas redes sociais na intenção de captar potenciais clientes, com traços diferentes do perfil de grande empresário, comumente associado ao mercado financeiro. Isso porque, a marca, bem como tantas outras, entendeu um movimento específico desse nicho: o número de pessoas que guardam dinheiro no fim do mês e aplicam em produtos financeiros tem crescido no Distrito Federal e em outras unidades da federação.

De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o percentual de trabalhadores no país que aplicam suas economias passou de 42%, em 2017, para 48%, em 2018. Outro indicativo foi o recorde histórico da Bolsa de Valores brasileira atingido em maio de 2019, quando mais de 1 milhão de pessoas físicas se tornaram investidoras. Especialistas apontam a entrada dos bancos virtuais na concorrência tradicional e a crise econômica como fatores decisivos.

“Atualmente, quem tem R$ 100 pode comprar uma cota de fundo imobiliário. Não precisa mais ser um cliente com R$ 100 mil. Os pequenos investidores estão indo à bolsa com R$ 1 mil ou R$ 2 mil. O segredo não é o tamanho do aporte, e, sim, o aporte recorrente”, aconselha o chefe de análise da Toro Investimentos, Rafael Panonko.

Segundo o especialista, a perspectiva de aprovação da Reforma da Previdência também tem aumentado a conscientização das pessoas sobre a necessidade de economizar a longo prazo e criar reservas. Ademais, as empresas têm entendido o momento e investido mais em publicidade, como um convite às necessidades da sociedade. “Quando se vê uma capa de revista, um vídeo, em que alguém revela ter ganho ‘x’ a partir de ‘y’, isso tudo atrai pessoas”, afirma.

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Conjuntura

O auxiliar administrativo Felipe Vieira Carvalho, de 27 anos, entrou para a estatística dos poupadores em janeiro de 2019, quando conseguiu um emprego fixo. Desde então, tem reservado R$ 100 ao mês para aplicar em fundos de renda fixa. “Eu invisto parte desse dinheiro no Tesouro Direto. É dito como um investimento de curto prazo, mas, para mim, é um investimento de longo prazo. Um dinheiro que eu não mexo por nada. Seria um investimento para aposentadoria”, explica.

Felipe revela, também, que a conjuntura econômica do país o impulsionou a buscar meios próprios de subsistência. “Eu comecei a investir pensando no futuro, porque a economia não está dando resultados positivos e expressivos já faz um bom tempo. Minha família não investia e sempre passou por apertos. Sei que era uma realidade diferente, porém, hoje faço isso para não passar pelos mesmos apertos futuramente”, detalha.

O educador financeiro Francisco Rodrigues da Silva garante que a migração de pequenos investidores, como Felipe, para o mercado financeiro “tem total relação com a crise atual”. “Existe ligação também com a democratização do investimento. Hoje em dia, você pode injetar R$ 30 no Tesouro Direto, por exemplo. Em um passado recente, o valor tinha de ser maior”, opina.

Segundo ele, o surgimento dos bancos virtuais, que oferecem taxas menores e mais praticidade no acesso a diferentes serviços ajudaram a atrair os brasileiros para outros tipos de aplicabilidade além da tradicional poupança. “É interessante porque aumentou a concorrência e forçou os grandes bancos a mudarem suas políticas. Neste momento, o brasileiro está mais tranquilo para tomada de decisões”, assegura.

Do fixo para variação

O auxiliar administrativo assegura que, tão logo obtenha uma reserva razoável, quer passar a investir em fundos de renda variável, onde os lucros (ou prejuízos) tendem a ser maiores. “Primeiro eu quero criar um montante significativo para depois tentar me arriscar, comprando ações de empresas. Mas essa é uma ideia que preciso trabalhar com mais tempo, porque no atual momento não posso arriscar o dinheiro que já tenho guardado”, defende.

Quem vive situação parecida é a fisioterapeuta Beatriz Bicalho Ferreira, 25. Para ela, porém, a vontade de aplicar seu dinheiro veio junto a um objetivo específico: fazer intercâmbio. “Nunca tive condição financeira. Então, assim que consegui um trabalho, comecei a juntar uma grana para realizar esse sonho”, comemora. Com a progressão dos resultados, a moça passou a ficar mais ambiciosa. “Hoje, minha meta é também ter capital para abrir meu próprio negócio”, planeja.

O chefe de análise da Toro Investimentos, Rafael Panonko, destaca que as ambições de Felipe e Beatriz acompanham um movimento imenso no Brasil, que busca o mercado de renda variável. “O principal motivo é a taxa básica de juros [Selic] a 6,5% de hoje em dia. Quando estava na casa dos 12%, ninguém buscava a bolsa, porque deixar o dinheiro parado em título público já garantia excelente rendimento”, analisa.

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