Feia e deprimida? Médicos esclarecem polêmica sobre anticoncepcional
Trend do TikTok encoraja mulheres a trocarem a pílula anticoncepcional por métodos naturais. Ginecologistas alertam sobre risco de gravidez
atualizado
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A hashtag #gettingoffbirthcontrol (saindo do controle de natalidade, na tradução para o português) tem ganhado popularidade entre as usuárias do TikTok nas últimas semanas. Mulheres de diferentes países estão usando a plataforma para falar dos efeitos colaterais experimentados com o uso da pílula anticoncepcional, sugerindo que ela seja trocada por métodos naturais, como a tabelinha.
Entre os relatos, há mulheres que afirmam se sentir deprimidas, sem libido, ter ganhado peso e com quadros graves de acne, fazendo com que se sentissem feias após iniciar o uso da pílula.
Os médicos estão preocupados que a moda leve ao aumento do número de gestações indesejadas e alertam que, antes de abandonar o controle de natalidade, as mulheres devem procurar o ginecologista para uma avaliação individual. A simples troca do método poderia contribuir para o alívio dos sintomas, por exemplo.
“Essas correntes contra métodos contraceptivos são extremamente perigosas, muitas mulheres podem ter orientações inadequadas. Nós temos uma taxa de mais de 60% de gestações indesejadas no nosso país”, afirma a ginecologista Camille Vitória Risegato, membro da Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil (AMCR).
A médica esclarece que as mulheres que não se adaptam aos métodos contraceptivos hormonais têm a possibilidade de fazer outras escolhas com ajuda de profissionais de saúde. “Uma gestação indesejada ou não planejada é sempre o mais grave. É um problema social, econômico e emocional. Costumo falar que sempre existe um método contraceptivo pra chamar de seu”, diz.
Efeitos indesejados
Os efeitos adversos previstos em bula estão relacionados aos hormônios presentes no anticoncepcional, a combinação deles e à dose. O ginecologista Rafael Lobo, da clínica Tivolly, de Brasília, explica que a piora da acne é mais comum entre as pessoas que utilizam métodos de progesterona, como algumas pílulas, o dispositivo intrauterino (DIU) Mirena e implante contraceptivo.
O ganho de peso é relacionado apenas às mulheres que usam o injetável trimestral. “A injeção de progesterona a cada três meses foi a única forma que levou, em estudo científico, ao aumento de 20% de peso das pacientes que já são obesas. Nas com sobrepeso ou peso normal, esse aumento não foi demonstrado em pesquisas”, explica Lobo.
O ganho de peso estaria relacionado, na realidade, à retenção de líquido e a algumas alterações metabólicas decorrentes de mudanças hormonais. “Isso pode acontecer, porém não é para todas. Depende de caso a caso”, afirma Camille.
Métodos naturais
Tabelinha de aplicativo, avaliação do muco cervical e da temperatura corporal são alguns dos métodos naturais indicados nas redes sociais.
Embora a tabelinha seja um bom método orientador sobre o ciclo menstrual, principalmente para mulheres que têm o ciclo regular, ela não é considerada um método seguro para evitar a gestação. Estudos indicam que ela está relacionada a um risco de 85% de engravidar.
Lobo sugere que esses métodos sejam usados apenas pelas pessoas que dominam o próprio ciclo menstrual “de ponta a ponta”. “A paciente tem que ter um ciclo extremamente regular, que seja todo mês da mesma forma – o que é muito raro. Mesmo assim, o índice de falha é imensamente maior do que qualquer outro método contraceptivo”, afirma.
“É uma prática que precisa de bastante observação, cuidado e associação com outros métodos não hormonais, como a camisinha“, esclarece Camille.
Não me adaptei. E agora?
Os métodos contraceptivos são divididos em dois grandes grupos: de curta duração – pílula anticoncepcional, adesivos, anéis intravaginais – e longa duração, incluindo o DIU, os implantes e as injeções hormonais.
A escolha depende de fatores como o histórico da paciente; comportamento do ciclo menstrual (volume e fluxo); e se ela consegue manter a frequência do uso, sem esquecimento. “O método precisa ser adaptado à realidade da paciente e levar em consideração as contraindicações”, afirma Lobo.
De acordo com o médico, uma mulher jovem que tem crises de enxaqueca aumenta em até três vezes as chances de ter um acidente vascular cerebral (AVC) se tomar a pílula de estrogênio, por exemplo. As com mais de 35 anos, fumantes ou hipertensas em tratamento, não podem usar a pílula combinada com estrogênio. “O primeiro passo é calcular o risco da paciente em relação ao método”, afirma.
As mulheres que não se adaptam a contraceptivos hormonais têm como opção utilizar métodos não hormonais, que vão desde a camisinha até o DIU de cobre ou prata.
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