Conheça Gessica Justino, a produtora que tem dado o que falar no Rio
Ex-bailarina, ela atua em projetos com a Adidas e o Barbeiragem, focado em “barbearias do bem”
atualizado
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Gessica Justino é glocal (conceito que mistura referências locais e globalizadas), apaixonada por arte e cultura, circula entre grandes artistas e designers da Zona Sul carioca, mas também é próxima de barbeiros e vendedores ambulantes da Mangueira. Nas suas palavras: “a rua é onde tudo é possível”.
Tem uma daquelas profissões abstratas, mas necessárias no mundo atual. Ela cria experiências e projetos humanizados que fazem a diferença na vida das pessoas e no universo de marcas com perfis diversos.Ex-bailarina, atuou na Cia Étnica de Dança. Em 2016, criou o projeto Superstar Rio Adidas, uma versão do modelo do tênis clássico inspirada na cidade do Rio de Janeiro.
Participou também do novo posicionamento da marca de sandálias Rider (Grendene) na Cidade Maravilhosa, além de seu concept project no festival #dáprafazer, da mesma etiqueta. Entre suas ações-xodós, está a Barbeiragem, iniciativa focada em “barbearias do bem”.
Quis entrevistá-la, pois sabia: viria um show de lições para toda a galera que quer trabalhar com criatividade, arte e marketing. Espero que o papo inspire vocês!
1 – Conte para nós como você se encontrou na sua profissão.
Atuo como produtora de soluções criativas. Eu me apaixonei por criar experiências e projetos mais humanizados. Desde muito pequena tenho costume de observar as pessoas, os movimentos, detalhes. Percebia o som em cada coisa que me atravessava. Era o que me fazia reconhecer a identidade dos lugares e das pessoas. Depois me envolvi com dança. A coisa ficou séria, e o que até então era um olhar pessoal despretensioso se tornou um formato sensível de trabalho no qual arte, cultura, gente e comportamento se tornam um só.
2 – Como escolheu sua carreira?
Foi na universidade. Fazia bacharelado em dança pela UFRJ e rapidamente me envolvi em projetos que falavam da cultura popular. Na época, já trabalhava com produção. Havia atuado como bailarina contemporânea, mas tinha algo que me instigava a alcançar o ambiente cênico. Comecei a usar as análises sobre corpo, cultura e sociedade como base para meus projetos e trabalhos, e deu certo. Criei um formato inusitado e com grande relevância para o mercado, que era abordar comportamento sob um olhar mais humanizado.
3 – Quais cursos/trabalhos considerou essenciais para sua formação?
Sou formada em dança com abordagem direta sobre corpo, sociedade e cultura. Sinto que o essencial foi ter viajado para países com culturas bem diferentes (França, Suíça, Argentina, Alemanha, México, Itália, Finlândia) e buscar pontos em comum entre esses locais e o Brasil. Isso me fez focar a ideia de construir um trabalho glocal.
4 – Quais são suas dicas para quem quer começar a trabalhar com soluções criativas?
É importante ter consciência de que, provavelmente, você será um prestador de serviços independente. Isso lhe permitirá atender mais de um cliente por vez, além de ter nas mãos a responsabilidade e flexibilidade de montar a própria agenda. É necessário gostar de gente, movimento, pesquisa e análise. Organização é um ponto essencial.
Dicas em tópicos, para anotar e seguir:
– Tenha prazer no que faz;
– Atualize-se sempre;
– Estude o mercado;
– Valorize a humanização dos processos, uma vez que qualquer serviço é para consumo humano;
– Pesquise. Acredito muito na pesquisa-ação, em que você também se torna agente prático e se relaciona sempre de forma horizontal e honesta;
– Crie uma rede estratégica de relacionamentos;
– Observe tudo;
– Ligue os pontos e ache conexões entre os assuntos. Certamente vai rolar o momento quando será necessário criar conceitos e encontrar coerência em assuntos que parecem distintos;
– Não abra mão da criatividade e nem da sensatez;
– Fure a bolha, ultrapasse limites;
– Não tenha medo de fazer acontecer;
– Não se perca no briefing. Entender sua entrega também previne a perda de tempo e dinheiro;
– Descanse, mas nunca pare.
5 – Quais os maiores desafios da sua área, hoje?
Certamente é o mercado. A maioria das marcas tem operado com orçamentos abaixo da média no Rio de Janeiro e com prazo de pagamento muito longo. Sei que o mesmo ocorre em outras cidades. Na maioria das vezes, é necessário realizar um grande projeto com verba reduzida, fazer uma entrega honesta e esperar de 45 a 60 dias para receber a primeira parcela do pagamento.
6 – Um muso/musa inspirador?
A atriz Viola Davis, Antônio José Dutra e a cineasta Carmen Luz.
7 – Quais são seus livros favoritos e os sites que acessa todos os dias?
Sou a louca dos livros. Atualmente estou lendo quatro obras: O Livro dos Títulos, do Pedro Cardoso; A Rainha Ginga, do José Eduardo Agualusa; Toureando o Diabo, escrito pela Clarah Averbuck; e A Identidade Cultural na Pós-modernidade, do Stuart Hall.
8 – Instagrammers favoritos?
Curto acompanhar: o @traceeelissross (da Tracee Ellis Ross); o @agualusa (do escritor angolano José Eduardo); e a artista plástica @adrianavarejao.
9 – Ao que você assiste no YouTube?
Todos os filmes do diretor chinês Wong Kar Wai.
10 – O que escuta no Spotify?
Tiffany Gouchè; Tinariwen; Solange Knowles; Buena Vista Social Club; Alcione; Zeca Pagodinho; Drake; SZA; DJ Yuri da Penha; Rael; DJ Arafat; Samyra Show; DJ Davido; e Milton Nascimento.