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São Paulo — Insegurança, moradia precária, enchentes, desemprego e problemas de zeladoria urbana estão presentes no cotidiano de quem vive na parte intermediária da zona sul de São Paulo, uma faixa territorial que vai da Vila Mariana até o Jabaquara, passando por bairros tão distintos entre si quanto o Sacomã e Moema.
É justamente no Sacomã que está uma das maiores comunidades da capital paulista. O fato de contar com Heliópolis em seu território faz com que o bairro tenha praticamente 1 em cada 4 domicílios em favela, segundo o Mapa da Desigualdade da Rede Nossa São Paulo.
A vendedora Stephanie Uchôa, 27 anos, mora em Heliópolis desde que nasceu e conhece bem tanto os problemas da comunidade quanto suas virtudes. Mãe de um menino de 10 anos, ela lamenta o fato de nem sempre ter um trabalho. “Está muito difícil, porque sou mãe solteira. A gente paga aluguel, faz tudo sozinha e queria a oportunidade de trabalhar”, diz. “Não é por ser uma favela que precisa discriminar o favelado”, afirma.
O Sacomã, onde está Heliópolis, fica na 69ª colocação entre os 96 distritos da capital no ranking de emprego formal na cidade, segundo a Rede Nossa São Paulo — são praticamente 3 vagas para cada 20 pessoas em idade economicamente ativa.
Stephanie também cita como algo a melhorar o lixo acumulado pelas vielas. Mas gosta do lugar onde vive. “É uma comunidade tranquila. Não tem roubo. Todo mundo se respeita e procura se ajudar”, diz.
Outros moradores relataram ao Metrópoles a perturbação de sossego, com barulho dos pancadões que varam as madrugadas, especialmente entre domingo e segunda-feira.
Entretanto, Heliópolis não se resume aos seus problemas. A comunidade conta há muitos anos com um comércio bem estabelecido, com movimento intenso na Estrada das Lágrimas que reúne desde grandes franquias e shopping até agências bancárias.
Esse extenso pedaço da zona sul paulistana não conta com apenas uma comunidade. No Jabaquara, a Favela da Alba também expõe graves problemas de habitação e infraestrutura urbana. “A comunidade em si, o lugar, é tudo muito bom. O que estraga aqui é a moradia, que não é muito boa. Fora a infraestrutura, que a gente não tem por parte do governo”, diz a repositora Priscila Gama, 33 anos.
Um dos exemplos de infraestrutura precária é o córrego que corta a comunidade. Canalizado recentemente, ainda aguarda um grande teste. “O córrego enche e a gente não tem o que fazer, mas estão trabalhando para melhorar. Vamos ver na próxima chuva como vai ser”, diz.
Enchente não é problema exclusivo das comunidades nessa região da cidade. Até mesmo bairros consolidados como Vila Mariana e Moema encaram alagamentos durante os temporais que assolam a capital paulista com cada vez mais intensidade.
Na Vila Mariana, o Córrego Ipiranga ainda transborda na Avenida Ricardo Jafet. Em Moema, alagamento na Rua Gaivota provocou a morte de Nayde Pereira Capelano, de 88 anos, em 2023.
Insegurança
O maquiador Alan Venceslau, 40 anos, vive em Moema e cita como problema central a insegurança, algo que tem dominado o debate político nessas eleições. “Aqui está muito complicado. Seria interessante o próximo governante focar nesse sentido. Presenciei assaltos mais de uma vez em frente ao prédio onde moro”, disse.
Bairros ricos do centro expandido da capital paulista aparecem no topo da estatísticas de roubos de celular, o principal vetor de violência urbana atualmente. Em levantamento realizado pelo Centro de Inteligência da Polícia Militar, a Vila Mariana, por exemplo, é a 11ª colocada em um ranking com as 100 companhias da corporação, com taxa de quase 9.000 roubos por 100 mil habitantes.
Parques
Apesar dos problemas, a região intermediária da zona sul conta com uma série de privilégios. Um dos principais é o fato de ter em seu território o Parque Ibirapuera, o mais famoso da cidade. É difícil encontrar algum morador das proximidades que não aponte o local como motivo de orgulho, um respiro em meio à poluição paulistana e ao congestionamento da Avenida 23 de Maio.
Também fica nesse pedaço da zona sul o Parque da Independência, onde está o Museu do Ipiranga, um dos lugares mais fotografados e visitados da capital paulista. Oficialmente, é também o lugar onde o Brasil “cortou o cordão umbilical” com Portugal, com o grito dado por Dom Pedro I em 7 de setembro de 1822.