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São Paulo — A capital paulista tem diferenças tão acentuadas entre seus bairros que mesmo dentro da região mais rica da cidade, a zona oeste, há variações bruscas em relação a questões como habitação, segurança e infraestrutura urbana. Não por acaso, os anseios de seus moradores também dependem do “CEP” de origem.
No extremo da zona oeste, na Raposo Tavares, 10% da população vive em favelas e a taxa de homicídios é quase o triplo da média da cidade, com 11,1 por 100 mil habitantes. No vizinho Rio Pequeno, o número de pessoas morando em comunidades é ainda maior, superior a 20%, segundo dados do Mapa da Desigualdade de 2023, da Rede Nossa São Paulo.
São realidades bastante diversas de bairros ricos como Jardim Paulista, onde não há favelas, e Pinheiros, que tem taxa de homicídios quase 10 vezes menor (1,5 por 100 mil) que o da periferia da região.
A auxiliar de limpeza Maria Gleice de Souza, 38 anos, mora no Jardim São Jorge, na região da Raposo Tavares. Ela vive em uma comunidade na Rua do Balão onde os problemas de infraestrutura urbana são evidentes.
“Quando chove, enche de água. Cheio de buracos no chão, na frente do meu portão. A prefeitura precisa fazer uma reforma boa. Está muito feio”, diz Maria Gleice.
A sensação de abandono por parte do poder público também escorre para questões básicas de saúde. “Tem muito rato. Para ficar muito bom para nós que somos da oeste, tem que arrumar isso”, afirma.
Apesar de tantos problemas, a auxiliar de limpeza conta que tem orgulho do bairro onde vive desde que nasceu. “Amo morar aqui. Não pretendo sair nunca”, diz, citando a proximidade com o comércio local e com as pessoas da comunidade como fatores positivos.
No mesmo bairro, outra questão aflige a operadora de caixa Maisa Deise Barbosa de Lima Santos, 31 anos. É um problema de segurança urbana que não envolve armas, efetivo policial ou prisão de criminosos, mas que é fundamental para moradores de localidades pobres da capital: o breu no lugar da iluminação pública. “Saio às 4h30, a rua é muito escura. A possibilidade de ter mais assalto é maior e fico mais vulnerável”, diz.
Enquanto no extremo da zona oeste moradores imploram pelo básico da infraestrutura, na região dos Jardins, a parte mais nobre da cidade, as preocupações estão mais relacionadas ao ordenamento urbano, com a orientação sobre estacionamentos das lojas na Alameda Gabriel Monteiro da Silva e o Plano Diretor, que define as regras de zoneamento do município. “Gosto do fato de ser um bairro residencial. E que continue assim, que não mude nada”, diz o aposentado Irineu Tognato, 68 anos.
Não são só as leis que regulam o uso do solo no bairro que preocupam o aposentado. Se tivesse que fazer algum pedido para a administração municipal, Tognato é categórico sobre o que solicitaria. “Para a prefeitura? Para diminuir o IPTU”, diz, citando o imposto cobrado sobre os imóveis, que representa a segunda principal fonte de receita da administração municipal.
Já o psicanalista Vinicius Costa, 39 anos, é morador de Perdizes, bairro de classe média paulistana, e vê problema na forma como o bairro vem sendo desenhado pelo mercado imobiliário. “Moro aqui há uns 12 anos. Talvez fosse necessário mais planejamento na construção desses prédios enormes que ocupam muito espaço, enchem a rua, fazem um baita trânsito. Acho que seria um bom começo”, diz.
Tantas diferenças dentro de uma mesma região da cidade apontam também para a questão racial, que ecoa os mais de 300 anos de escravidão no Brasil. Enquanto o bairro da Raposo Tavares, onde vivem a operadora de caixa e a auxiliar de limpeza, tem 46,5% de população preta e parda, no Jardim Paulista são 8,5%.
A soma de tantos fatores tem impacto direto na vida das pessoas, como se vivessem em cidades diferentes. Os bairros vizinhos do Jardim Paulista e Itaim Bibi são aqueles com moradores mais longevos da capital, com idade média ao morrer de 82 anos. Já na Raposo Tavares, vai a 68 anos, 14 a menos.