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“Voz da morte”: quem é homem que anuncia execuções no tribunal do PCC

Braço direito fica responsável em transmitir as ordens de chefão do PCC, para que líder garanta o anonimato de sua localização

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Fundo vermelho, com gravura de homem encapuzado, como um monge, segurando fuzil. Atrás dele, mão gigante, na qual está escrito PCC - Metrópoles
1 de 1 Fundo vermelho, com gravura de homem encapuzado, como um monge, segurando fuzil. Atrás dele, mão gigante, na qual está escrito PCC - Metrópoles - Foto: Arte/Metrópoles

São Paulo – Apontado como o principal líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Jundiaí, interior paulista, Elias Oliveira dos Santos, o Nego Lia, determina quem vive e quem morre na região, por meio dos “tribunais do crime”, também chamados de “tabuleiros”.

Para isso, ela conta com o apoio de seu braço direito, irmão de sangue e “voz do crime” Silvio de Oliveira Santos, o Silvinho.

Investigação da Polícia Civil sobre tribunais do crime, obtida pelo Metrópoles, mostra que Silvinho é pessoa de “extrema confiança” de Nego Lia, que quando fica impossibilitado de ordenar execuções, por exemplo, recorre ao irmão, a “voz do comando”, para transmiti-las na região.

“Silvio é apontado como sendo a pessoa que transmite as ordens dadas por Elias, bem como repassa para ele as solicitações feitas por criminosos ou por populares”, diz trecho do documento policial.

A voz do comando existe pelo fato de Nego Lia, ainda de acordo pela polícia, ser “refém de sua importância”. O chefão está foragido, por causa de quatro mortes atribuídas às sentenças decretadas por ele.

“Por ser criminoso de tão grande importância, acaba sendo mais visado pela polícia, obrigando-se a viver sempre escondido nas comunidades onde tal organização concentra mais poder e dominância, sendo obrigado a mudar-se com muito constância”.

Por isso, Nego Lia necessita do apoio de outras pessoas para exercer seu comando.

Isso se assemelha ao que é feito pelo líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, cujas determinações, quando anunciadas, são feitas também por um criminoso chamado de “voz”.

Isso também contribui para que os chefões não se comprometam com suas determinações, em caso de eventuais interceptações telemáticas feitas com autorização judicial.

A lei do silêncio

Como revelado pelo Metrópoles, na região dominada pelo bando de Nego Lia impera a lei do crime, acobertada com o silêncio comprado de algumas pessoas.

A investigação da Polícia Civil detalha essa “política de boa vizinhança”. No Morro São Camilo, território do chefão de Jundiaí, policiais identificaram como as pessoas “vendem” seu silêncio em troca de segurança e algumas vantagens. A negociação permite à organização criminosa ter tranquilidade para fazer valer sua “lei”.

Ou seja, parte dos moradores da área faz vista grossa para as ações criminosas dos integrantes da maior facção do Brasil — incluindo os “tribunais do crime”, nos quais inimigos ou transgressores de regras são levados a uma espécie de júri e podem até ser condenados à morte.

“Como todos sabem, nestas comunidades de baixa renda, as pessoas acabam procurando os líderes do crime para obter favores e vantagens, em troca de colaboração e silêncio. É a política da boa vizinhança, onde as pessoas vendem seu silêncio por conta de alguma ajuda financeira ou favores especiais”, diz trecho de relatório policial, obtido pelo Metrópoles.

Os favores podem incluir a punição de supostos infratores, ou desafetos dos solicitantes, que apelam à “justiça paralela” do PCC, a qual age rápido, sem burocracia e por vezes com pena de morte.

As demandas são levadas aos disciplinas da facção — carrascos do crime — que as avaliam e compartilham com instâncias criminosas superiores.

Enterrados vivos

Criminosos supostamente ligados ao PCC foram torturados, enterrados vivos e mortos em Jundiaí,  por membros da própria facção após serem submetidos a um “tribunal do crime” na região dominada por Nego Lia.

No primeiro semestre de 2019, três homens foram assassinados no Morro São Camilo. Três deles teriam matado “por engano” o irmão de um membro da organização criminosa. O intuito era receber mais dinheiro na divisão do montante obtido em um assalto. A outra vítima foi “julgada” e morta por supostamente ameaçar Silvinho, por um desentendimento de cunho pessoal.

Documento do Ministério Público de São Paulo (MPSP), obtido pelo Metrópoles, aponta que as vítimas teriam sido convencidas a ir para o morro acreditando que esclareceriam a situação por meio de um debate.

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Corpos forma encontrados em covas rasas
Três das vítimas foram enterradas vivas, aponta laudo do IML
Dois suspeitos foram soltos, mas ainda podem responder pelo caso
Vítimas estavam sem unhas nas mãos e pés
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Mortes teriam sido provocadas após "sentença" do "tribunal do crime"

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Corpos forma encontrados em covas rasas

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Três das vítimas foram enterradas vivas, aponta laudo do IML

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Dois suspeitos foram soltos, mas ainda podem responder pelo caso

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Vítimas estavam sem unhas nas mãos e pés

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O caso veio à tona após um funcionário do Departamento de Água e Esgoto (DAE) da cidade, que vistoriava uma tubulação da empresa, identificar um corpo enterrado clandestinamente em um terreno no bairro Engordadouro, em 29 de julho de 2019. Bombeiros e Polícia Civil foram acionados e encontraram duas covas rasas no local.

Em uma delas, com 50 centímetros de profundidade, estava enterrado Cláudio Dias de Moraes, que teria ameaçado Silvinho — irmão de Nego Lia — por ele não ter lhe ajudado enquanto estava na cadeia.

Na outra cova, com um metro e meio abaixo do solo, estavam os corpos de William Adão, Gabriel Pereira dos Santos e José André de Souza Santos — os dois últimos estavam foragidos do sistema penitenciário de Mineiros, em Goiás.

Com exceção de Cláudio, de acordo com laudos do Instituto Médico Legal (IML) obtidos pelo Metrópoles, as demais vítimas foram enterradas ainda respirando.

Os quatro cadáveres estavam com mãos e pés amarrados, todos sem unhas, indicando que foram torturados antes de morrerem.

Nenhum suspeito pela chacina e ocultação dos cadáveres está preso.

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