VoePass: ao perder altitude, instinto do piloto é acelerar, diz perito
Copiloto queria “dar potência” para impedir a queda do avião. Perito aeronáutico explicou a fala e analisou registros da caixa-preta
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo — Na quarta-feira (14/8), os técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) transcreveram o áudio do avião que caiu em Vinhedo, em São Paulo, na última sexta-feira (9/8).
Na gravação, foi possível ouvir o copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva questionando o piloto da aeronave da VoePass, Danilo Santos Romano, sobre o que estava acontecendo. O copiloto disse que era preciso “dar potência” para impedir a queda do avião.
O perito aeronáutico Daniel Kalanzas, em entrevista para o Uol News, afirmou que, se a gravação for confirmada e verificada pelas autoridades, há uma linha de investigação muito importante. “Será que houve perda de potência dos motores? Muitas pessoas têm trabalhado com a tese prevalente de que houve formação de gelo, o que pode ser, mas nunca descarto outras possibilidades”, disse.
“Quando o avião está voando em cruzeiro, ou nivelado, ele está voando com uma porcentagem da potência, ele não está voando com potência a 100%. Quando o avião cai, perde altitude repentinamente, a primeira atitude do piloto é acelerar”, disse o perito. “É claro que se houve formação de gelo suficiente para fazer com que a aeronave caísse, os pilotos iriam também acelerar a aeronave, isso é fato. O que as autoridades vão investigar é por que houve essa aceleração.”
Para Kalazans, os pilotos estavam conscientes. “Houve uma discussão no sentido que eles [os pilotos] estavam inconscientes. Eu parti do ponto que eles estavam conscientes e, se essa gravação realmente for confirmada e verificada pelas autoridades, a gente vai perceber, quando ele grita sobre a potência, ou no caso acelera”, disse.
Pilotos tentaram reverter situação
Daniel também falou sobre a probabilidade de as vítimas estarem conscientes durante a queda. “Alguns especialistas estão afirmando que as pessoas estavam sem vida antes do impacto com o solo. É uma coisa muito questionável. Eu entendo que nesse caso, as pessoas, tanto quanto os passageiros e a tripulação, estavam conscientes. E acredito também que os pilotos estavam tentando reverter a situação, se configurar que eles estavam conversando entre eles, só afirma minha tese”, especulou.
Ele não descarta a possibilidade de que alguns dos passageiros tenham ficado desacordados antes do impacto. “É possível que um ou outro passageiro tenha desmaiado ou infartado, eu até acredito, mas com experiência em análise em acidentes anteriores, a probabilidade de que todos estivessem conscientes é plausível”, pontuou.
O último som registrado pela caixa-preta do avião foram os gritos dos passageiros.
Queda do avião
Uma aeronave da companhia aérea VoePass, antiga Passaredo, caiu em uma área residencial, na tarde da última sexta-feira (9), em Vinhedo. A aeronave saiu de Cascavel, no Paraná, às 11h58, e tinha como destino o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. No avião havia 58 passageiros e 4 tripulantes. As 62 pessoas que estavam na aeronave morreram (veja lista).
Todas as vítimas da tragédia foram identificadas. O IML Centro concentrou os corpos de todas as vítimas da tragédia com o avião da VoePass e ficou fechado para as demais ocorrências.
“Os trabalhos periciais tiveram início na noite de sexta-feira e, mesmo em condições climáticas adversas, foram realizados de forma ininterrupta”, disse Claudinei Salomão, superintendente da Polícia Científica. “No final da tarde de domingo, todos os corpos já tinham sido necropsiados, aguardando apenas identificação.”
Segundo Salomão, as vítimas foram identificadas por meio de exames papiloscópicos, odontolegais e antropológicos. “Isso dispensou a necessidade de exame genético, o DNA”, afirmou.
Entre os métodos utilizados estão a comparação de arcadas dentárias dos cadáveres e exames antropológicos, que levam em conta características físicas, como peso, altura, tatuagens e eventuais próteses.