Vizinhança “verde” teme jogo do São Paulo no estádio do Palmeiras
Comerciantes planejam mudar horário e até não abrir nesta segunda-feira (13/3), quando São Paulo mandará jogo no estádio do rival Palmeiras
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – A presença de cerca de 40 mil torcedores do São Paulo no estádio do rival Palmeiras nesta segunda-feira (13/3) preocupa comerciantes e moradores do entorno do Allianz Parque, na zona oeste da capital paulista.
Isso porque, após um acordo entre os dois clubes, o tricolor paulista vai mandar seu jogo contra o Água Santa, de Diadema, pela quartas de final do Campeonato Paulista, na casa do adversário.
O mando são-paulino no Allianz ocorre após o clube ceder o Morumbi para o Palmeiras no clássico contra o Santos, ainda na fase de grupo do torneio estadual, quando não houve nenhum registro de incidente.
Os clubes rivais chegaram a esse acordo pelo fato de que ambos os estádios costumam ser alugados para shows. Nesta semana, o Morumbi recebe seis apresentações da banda britânica Coldplay.
“Não tinha que fazer acordo nenhum. Jogou lá? Paga o que tem que pagar. Aqui o São Paulo não poderia jogar. A torcida e os moradores não querem. Ninguém vai poder sair na rua à tarde”, afirma o dono palmeirense de uma banca em frente ao Allianz, na avenida Antártica.
Ele conta que vai abrir somente até o horário do almoço na segunda-feira, com medo de possíveis depredações dos torcedores rivais.
Já o sócio de uma lanchonete também em frente ao estádio, na rua Palestra Itália, afirma que não vai abrir no dia do jogo. Para ele, os cerca de R$ 2 mil de prejuízo compensam os possíveis danos que ele acredita que os são-paulinos poderão causar no seu estabelecimento.
“Qualquer coisa que quebra aqui, já me tira o lucro do dia. Não vou ter como fiscalizar o banheiro, por exemplo. Dentro do estádio, o São Paulo vai pagar. Eu não vou poder cobrar o São Paulo por qualquer dano que houver no meu estabelecimento”, afirma Herman Correia, proprietário do Palmeiras Lanches.
Ele diz que, diferente do Morumbi, estádio que considera mais “neutro” e acostumado a receber torcidas rivais, o Allianz tem seu entorno totalmente identificado com o Palmeiras, em ruas menores, o que pode favorecer tumultos.
“O comércio aqui é todo caracterízado. É diferente, não é um estádio neutro. Algum tipo de provoação vai ter, uma cantoria, por isso vou fechar”, diz.
Proprietário do bar São Marcos – nome em homenagem ao histórico goleiro palmeirense -, Thiago Costa diz que vai abrir no dia do jogo, mas vai tomar precauções.
“A gente vai fechar às 20h , quando começar o jogo. Nos jogos do Palmeiras, a gente fica aberto depois, a torcida vem pra cá no pós-jogo para tomar cerveja. Mas com a torcida do São Paulo a gente não sabe como vai ser”, afirma.
O Metrópoles conversou com vários comerciantes do entorno e as estratégias para o dia variam. William Pessoa, proprietário há 12 anos de um bar em frente a uma das entradas do Allianz Parque, pretende até estender o horário de funcionamento, mas com adaptações.
“De segunda-feira eu trabalho das 8h às 18h. No dia do jogo talvez eu até estenda um pouco, para pegar o começo, às 20h. Vou fazer um balcão de serviço na entrada, para o pessoal não acessar o restaurante”, diz.
O palmeirense afirma que não vai retirar as bandeiras e símbolos do time de seu bar na presença dos são-paulinos. “Jamais. Eu ainda vou usar a camisa do Palmeiras. Eles que estão no espaço do Palmeiras, eu não preciso mudar nada”.
Torcidas Organizadas
O acordo de ceder o estádio ao rival gerou reações negativas por parte das principais torcidas organizadas do Palmeiras. A Mancha Alviverde – que vive momento de tensão com a presidente Leila Pereira – publicou uma nota em que classifica a medida como “inaceitável” e uma “afronta” à história do clube.
“O empréstimo do Allianz Parque a um clube inimigo desconsidera uma série de fatores: o entorno do estádio, com a presença de incontáveis sedes de torcida, lojas, bares e estabelecimentos que respiram Palmeiras; o direito de ir e vir dos associados do clube social; e mesmo a segurança dos moradores de um bairro alviverde como nenhum outro”, escreveu a organizada.
Por outro lado, a Independente, torcida organizada do São Paulo, informou em comunicado que “a norma é a segurança e integridade da arena e seu entorno”.
A Dragões da Real, outra torcida organizada tricolor, foi na mesma linha. “Não precisa temer em relação a bares, restaurantes e sedes, pois a torcida está indo na única intenção de apoiar o São Paulo para chegar na semifinal”, afirmou.
Segundo as agremiações, os eventuais danos causados nos espaços destinados às organizadas serão pagos pelas mesmas. Já nos outros setores do estádio, o São Paulo deverá arcar com possíveis prejuízos causados por ações de torcedores.
Reunião com a PM e esquema de segurança
Em reunião realizada na quinta-feira (9/3) entre as torcidas organizadas de Palmeiras e São Paulo e a Polícia Militar, ficou definido que as sedes das tocidas alviverdes, que ficam na rua Palestra Itália, serão fechadas com tapumes e gradis no dia do jogo.
Além disso, os membros das torcidas organizadas do São Paulo só poderão acessar o estádio pela avenida Francisco Mattarazzo, do lado oposto do estádio em relação à rua Palestra Itália, onde se concentram os bares, além das sedes rivais.
A torcida organizada do São Paulo ficará na setor “Gol Norte” do Allianz Parque, onde normalmente fica a Mancha Alviverde, para evitar o trânsito dos membros no local dos bares e sedes.
Pelas redes sociais, a Indepentende informou que vai se concentrar a partir das 16h no largo do Payssandu, no centro da capital, e irá para o Allianz Parque de metrô, saindo da estação República às 18h. O esquema montado pela PM prevê que os torcedores organizados se dirijam a pé da estação Barra Funda até o estádio pela avenida Francisco Mattarazzo.
A Secretaria da Segurança Pública informou que o quadrilátero ao redor do estádio será fechado quatro horas antes da partida para a circulação de veículos e que serão realizadas barreiras de fiscalização que permitirão a entrada somente de torcedores com ingressos, o que já ocorre regularmente em jogos no local.
“O policiamento no entorno do estádio será reforçado pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar. A Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (DRADE) realiza monitoramento de redes sociais e estará com o efetivo de prontidão para o atendimento de ocorrências, caso seja necessário”, informou a SSP.
O que dizem os clubes e a federação
Em nota, o Palmeiras afirmou que a operação do jogo é feita pelo São Paulo com a equipe do Allianz Parque.
“Cabe salientar que a partida entre Palmeiras e Santos, realizada recentemente no Estádio do Morumbi, transcorreu sem qualquer transtorno diante da colaboração de todos os envolvidos no evento”, completou.
Além disso, o clube social do Palmeiras terá seu horário de funcionamento reduzido no dia da partida. Os associados poderão frequentar as dependências da sede das 6h às 15h. Em dias normais, o clube fica aberto até 23h.
Ao Metrópoles, a assessoria do São Paulo afirmou que o clube vai cumprir o que foi estabelecido, “confiando que tudo transcorra bem como transcorreu no Morumbi, quando o Palmeiras foi mandante lá”.
A Federação Paulista de Futebol disse, em nota, que “participa diretamente da organização de todos os jogos, com reuniões prévias envolvendo autoridades de segurança, de trânsito, do judiciário, clubes, torcidas e todos os demais órgãos envolvidos”.