“Cena de horror” e “covardia”: vítima fala de racha que amputou mulher
Motociclista que conduzia massoterapeuta que perdeu a perna em acidente com racha falou com o Metrópoles um dia após ter alta na Grande SP
atualizado
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São Paulo — “Uma cena de filme de terror, um pesadelo. Aquela perna arrancada, parecida de um boneco”. Essa cena não sai da cabeça do funcionário público Arlison Correia, de 32 anos, desde a noite de segunda-feira (20/5), quando a moto que ele conduzia foi atingida por trás, em altíssima velocidade, por um carro de luxo em Barueri, na Grande São Paulo.
Além de trabalhar no horário comercial em uma escola pública de Santana de Parnaíba, cidade vizinha de Barueri, Arlison complementa a renda como mototaxista, à noite, para ajudar a cuidar dos filhos gêmeos, de 3 anos, cuja guarda compartilha com a ex-companheira.
A passageira que ele levava na garupa, na última corrida que pretendia fazer no dia, é a massoterapeuta Maria Graciete Alves Araújo, de 36 anos, cuja perna esquerda foi arrancada, da coxa para baixo, por causa da violenta batida provocada pelo Mercedes-Benz dirigido por Carlos André Pedroni de Oliveira Pinto. Ele se apresentou à polícia cerca de 40 horas após o acidente.
Carlos e Roberto Viotto, conhecido como “dentista dos famosos”, são investigados pela Polícia Civil por envolvimento em um racha, antes da moto das vítimas ser atingida, na Alameda Rio Negro, na região de Alphaville, em Barueri. Ambos não prestaram socorro às vítimas e negam a realização de uma corrida ilegal.
Em frente à delegacia, Carlos afirmou estar arrependido de não ter prestado socorro às vítimas. Já o dentista afirmou, em entrevista ao Metrópoles, não ter presenciado o atropelamento.
“Não consegui dormir”
O condutor da moto conversou com o Metrópoles na manhã desta quinta-feira (23/5), um dia após ter alta hospitalar.
Arlison lembra que foi buscar a massoterapeuta em frente a um prédio comercial. Ela pretendia voltar para casa, no bairro Engenho Novo, em Barueri. Depois disso, o funcionário público também pretendia voltar para casa, em Santana de Parnaíba.
Minutos após começarem a trafegar pela Alameda Rio Negro, Arlison afirmou ter sentido uma pancada “do nada”, na traseira de sua moto.
“Fui projetado no ar. A lembrança é como se fosse em câmera lenta, machuquei os dois calcanhares, os dois cotovelos e a cabeça. Minha moto foi parar a uns 50 metros de mim. Quando olhei para o lado, vi a Maria, sem a perna. Isso não sai da minha cabeça”.
O impacto provocado pelo carro de luxo foi tamanho que Arlison quicou no chão e sua moto foi completamente destruída.
“A moça estava agonizando de dor, foi horrível”.
Ele e a massoterapeuta foram encaminhados para o Hospital Geral de Barueri. Ela segue internada, sem risco de morrer.
O funcionário público chegou a ser levado para a UTI da unidade, após um princípio de hemorragia cerebral ser identificado em uma tomografia. Ele ficou em observação por 24 horas e foi liberado, no fim da tarde dessa quarta-feira (22/5).
“Uma covardia”
Ele acrescentou que, até o momento, não foi procurado pelos dois motoristas envolvidos no acidente.
“Foi uma covardia eles fugirem sem prestar socorro”, diz.
A moto de Arlison não tem seguro e ele afirmou que ficará no vermelho, financeiramente, porque não conseguirá fazer o bico para complementar a renda.
Atropelamento
Segundo a polícia, Carlos André dirigia um Mercedes Benz na Alameda Rio Negro, em alta velocidade, e atingiu a traseira do mototáxi de Arlison, que fazia uma corrida de aplicativo. O impacto foi tão violento que a passageira do veículo, Maria Graciete Alves Araújo, de 36, perdeu a perna esquerda no mesmo instante.
Testemunhas disseram à polícia que dois carros de luxo disputavam um “racha” quando um deles atropelou a moto.
Segundo a Prefeitura de Barueri, a mulher sofreu amputação traumática, está lúcida e sendo acompanhada por uma psicóloga.
A administração municipal informou, ainda, que a velocidade máxima permitida na Alameda Rio Negro é de 40 km/h. Sobre o serviço de mototáxi, a prefeitura esclareceu que não há uma regulamentação específica para o transporte por aplicativo em Barueri.
Carro abandonado
O carro de Carlos André, que estava acompanhado da companheira, foi abandonado no estacionamento de uma igreja. O responsável pelo local afirmou à polícia que a mulher atendia pelo nome de “Juliana”. O veículo foi apreendido pela Guarda Civil de Barueri.
O caso foi registrado pela Polícia Civil como disputa de racha, lesão corporal, omissão de socorro e fuga. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que foi solicitada perícia para o local do acidente.