Vítima de racha fazia bico em app para cuidar de gêmeos de 3 anos
Funcionário público iria fazer última viagem do dia, antes de voltar para casa, quando foi atingido por carro de luxo que tirava racha
atualizado
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São Paulo – O condutor da moto atingida por um carro de luxo, que participava de um racha com outro automóvel em Barueri, segunda-feira (20/5), na Grande São Paulo, transportava passageiros, por meio de um aplicativo, para complementar a renda mensal. Ele seguia internado, com hemorragia cerebral, até a publicação desta reportagem.
Arlison da Silva Correia, 32, trabalha do setor administrativo de uma escola municipal de Barueri, de acordo com o engenheiro Almir da Silva Correia, irmão mais velho da vítima. Ele, de acordo com o familiar, se separou há pouco mais de um ano de sua companheira, com a qual têm filhos gêmeos de três anos de idade.
“Para ajudar no sustento dos filhos, meu irmão começou a fazer corridas de aplicativo, com a moto, para complementar a renda depois do expediente na escola”, explicou o engenheiro.
Arlison divide a guarda das crianças com a ex-companheira, segundo o irmão mais velho dele.
Por volta das 21h da última segunda-feira (20/5), o funcionário público faria sua última viagem do dia, antes de voltar para casa, solicitada por Maria Graciete Alves da Silva, de 36 anos. Logo nos primeiros metros do trajeto percorrido por Arlison, na Alameda Rio Preto, ele foi atingido violentamente por um Mercedes-Benz, que tirava um racha com outro veículo de luxo, da mesma marca.
Como mostrado pelo Metrópoles, a violência do atropelamento foi tão forte que a perna de Maria foi arrancada na hora.
Os ocupantes dos dois carros fugiram, sem prestar socorro às vítimas. Os proprietários dos veículos de alto padrão já foram identificados pela Polícia Civil. Um dos condutores teria se comprometido a prestar esclarecimentos na delegacia nesta quarta-feira (22/5), segundo sua defesa.
Em boletim enviado ao Metrópoles, na tarde dessa terça-feira (21/5), o hospital de Barueri explicou que um dos carros envolvidos no racha provocou “uma amputação traumática” na perna de mulher. A unidade de saúde acrescentou que não há possibilidade de reimplante do membro, por causa do “esmagamento ósseo, perda de vasos sanguíneos e ausência de corte uniforme”.
Maria também está na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Municipal de Barueri respirando sem ajuda de aparelhos, sob supervisão de uma equipe médica especializada.
“Em choque”
Um trecho da corrida ilegal, realizada na Alameda Rio Preto, foi captado por uma câmera de monitoramento (assista abaixo).
“Meu irmão estava em choque, depois de ver que a moça perdeu a perna. Mas, fisicamente, estava aparentemente bem, quando chegou no hospital. Mas depois que saiu o resultado da tomografia que ele fez, já correram com ele para a UTI. Aí não conseguimos mais falar com meu irmão”, explicou o Metrópoles o engenheiro Almir da Silva Correia, irmão mais velho do motoqueiro.
O engenheiro acrescentou que o irmão ficou traumatizado. “Ele está muito abalado. Não parava de falar ‘a menina perdeu a perna’. Ele ficou falando a todo momento no assunto”. Arlison trabalha como motoqueiro de aplicativo no período noturno, há pouco mais de um ano.
Vídeo
Até a publicação desta reportagem, os ocupantes dos carros envolvidos no racha não haviam sido localizados pela Polícia Civil.
Carro abandonado
Um dos carros de luxo, avaliado em pouco mais de R$ 200 mil, foi deixado no estacionamento de uma igreja evangélica. O casal que ocupava o Mercedes-Benz argumentou ao responsável pelo local que o veículo estaria com problemas técnicos, segundo registros policiais. Ambos acionaram um carro de aplicativo para continuar com a fuga.
O outro veículo, cujas placas são de Araras, no interior paulista, não havia sido localizado até a publicação desta reportagem.
O caso foi registrado pela Polícia Civil como disputa de racha, lesão corporal, omissão de socorro e fuga. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que foi solicitada perícia para o local do acidente.